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Destaques

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente.  E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação. Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas. Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu céreb

Reflexão: Te ensinaram errado

Te ensinaram errado. Te ensinaram que ser quem você é não é legal e que você precisa mudar ou vai morrer sozinho, que ninguém vai querer se envolver com alguém diferente e que você precisa o máximo do possível ser normal. Mas o que é ser normal?


Te ensinaram a desistir dos seus sonhos, que eles são estúpidos e impossíveis, para se contentar a viver uma vida que não é sua. E quando você viu pessoas que se tornaram exatamente aquilo que você desistiu e tornando seus sonhos reais, você sentiu raiva e ficou amargo, mesmo sem saber a razão. Te orientaram a odiar as coisas que você mais gostava e a engolir o choro, afinal, pessoas crescidas não choram.

Ao longo da vida, você foi escutando todas essas mentiras de formas repetidas, que elas acabaram se tornando verdades. Verdade é uma palavra complicada, assim como liberdade. Às vezes, você foge de uma prisão, só para descobrir que está dentro de outra. Às vezes, você olha no espelho, só para perceber que está olhando para outra pessoa completamente diferente de quem você esperava que fosse.

Te ensinaram que você precisa odiar sua própria imagem. Que suas roupas não são boas. Que se você é magro, precisa ganhar músculos; ou que é gordo e precisa emagrecer ou que se está ganhando músculos, quem sabe não está na hora de voltar a emagrecer de novo? Te ensinaram a se importar só com o exterior, com o mundo das aparências, com as convenções sociais, mas não te ensinaram a cuidar do seu eu interior.

Te ensinaram a buscar refúgio nos textos religiosos, repetir linha após linha como um papagaio, sem questionar as verdades por trás deles; te ensinaram a decodificar palavras, mas não te ensinaram a ler nas entrelinhas e entender que existe um universo mágico que conecta os livros. Empurraram pela sua garganta, lavaram o seu cérebro, esfregaram seu coração e tentaram te cegar, ensurdecer e silenciar para as coisas que movem sua alma. Te fizeram escolher entre ser uma coisa ou outra, como se entre A e C você não pudesse escolher ser B, a excluir dentro de si tudo o que não é aceito pelos outros, mesmo que isso faça parte fundamental de quem você é.

Te ensinaram a chorar escondido, a esconder seus problemas e a sorrir sempre, mesmo durante os tempos difíceis. Te ensinaram a negar suas emoções, a tentar enganar sua própria mente em vez de se aceitar como é e a fazer seus relacionamentos durarem o máximo possível, mesmo que eles tenham se tornado tóxicos e abusivos e o melhor caminho seria se afastar e desapegar de tudo o que já foi e não é mais. Te ensinaram que na amizade e no amor vale tudo e que se alguém te faz se sentir mal, o provável é que a culpa seja sua, afinal, as pessoas só querem o seu melhor. Lembre-se: te ensinaram que você precisa ter medo de fazer qualquer coisa que desagrade, mesmo que seja o melhor para si mesmo ou para sua saúde mental ou vai morrer sozinho – e quem é que quer ser sozinho em um mundo com bilhões de pessoas?

O que não te ensinaram é que quanto mais você muda para agradar os outros, mais você se afasta de quem você realmente é, da sua essência, parte do seu espírito. Não te ensinaram que quanto mais você odeia a sua própria imagem e a sua personalidade, mais dificuldades você vai ter de aceitar sua própria vida e entender que nem tudo o que é diferente, necessariamente, é ruim e que todos nós temos limitações que podem ser melhoradas, mas que algumas coisas nunca vão mudar e elas são fragmentos de quem você é.

Não te ensinaram a apreciar o silêncio e a solidão e agora você vive ansioso, esperando alguém que esteja sempre disponível para te dar atenção e se sente mal em um mundo onde todos parecem fazer alguma coisa interessante e você não; te ensinaram a estar perto de qualquer pessoa, mesmo que elas não gostem de quem você é e estejam sugando suas energias. Não te ensinaram que o amor e a felicidade começam de dentro para fora e você passou a vida inteira colocando esse peso nas costas dos outros, não entendendo por que todos seus relacionamentos falharam e você sempre esperou mais do que poderiam te oferecer. Te ensinaram a ser inseguro e a ter medo, já que essas são as principais formas de controle, seja no meio político, religioso ou social – afinal, é mais fácil respeitar o que você teme do que aquilo que você ama. Te ensinaram a gastar mais do que você tem condições, mas não te ensinaram a ganhar. Te ensinaram a mentir e falar “estou bem”, quando furacões e tempestades estavam dentro de você.

Te fizeram acreditar tantas coisas que você foi internalizando dia após dia, engolindo sapos enferrujados e venenosos. Te fizeram perceber que você precisa mudar ou que nunca vai se encaixar no mundo; o que não te mostraram é que existem milhares de pessoas como você e muitas delas vivem bem do jeito que realmente são. Não te mostraram que você pode brilhar sua própria luz, se aventurar a seguir sua própria jornada e, ainda assim, quebrar todos os muros que construíram ao seu redor.

Não te ensinaram que o amor não dura para sempre, mas que deve ser construído e cuidado todos os dias, como qualquer outro relacionamento ou arte e que está tudo bem seguir em frente quando já não existe reciprocidade, afeto e respeito. Não te ensinaram que é melhor estar perto de quem realmente gosta da sua companhia do que se deixar drenar pelo outro ou que você não precisa esconder os tesouros que guarda dentro de si, só por ter medo de como os outros vão reagir. Não te ensinaram que os sonhos podem ser quase impossíveis, mas que em primeiro lugar é preciso acreditar e ter apoio, como qualquer outro trabalho, e que exigem planejamento, disciplina, lágrimas, suor e muito trabalho, não apenas sorte e que, muitas vezes, você vai ter que aprender a conciliar com tantas outras atividades e virar madrugadas quebrando a cabeça e tentando fazer acontecer.

Tentaram te ensinar a encontrar o caminho do meio, mas você não quis escutar. Tentaram te mostrar que antes de mudar o outro, você precisa aprender a cuidar de si mesmo e mesmo assim você escutou pessoas que estão presas nos próprios ciclos anos após anos. Tentam te ensinar que você precisa se tornar a mudança que quer ver no mundo. Tentaram iluminar os cantos escuros da sua mente, coração e alma, mas você acabou se deixando vencer pelas verdades prontas e inquestionáveis de livros empoeirados e pessoas manipuláveis com segundas intenções. Tentaram abrir os seus olhos, mas você não quis remover os véus que cobrem seu rosto. Tentaram te mostrar que por baixo de nossas peles, somos todos iguais e que ninguém é melhor do que ninguém, mas o preconceito e ódio continuam fortes como nunca. Tentaram te fazer acreditar nos próprios sonhos e você achou que fosse bobeira. Tentaram te mostrar que o mundo pode ser melhor quando cada um faz a sua parte, cuidando do seu interior, em vez de impor suas vontades ao outro e o que o ego é pura ilusão.


Não te ensinaram que nunca é tarde demais para aprender a se amar e que embora sonhos não sejam conquistados da noite para o dia, que muitos conseguiram quando outros jamais apostariam neles; que está tudo bem ser você mesmo, curtindo e abraçando suas estranhezas, em um mundo em que todos querem estar nos holofotes e que enquanto você teme ser quem você é, alguém em algum lugar está se inspirando na sua jornada. Não te ensinaram que a vida é curta demais e que não existe um manual de como viver e que cada pessoa precisa encontrar o seu próprio caminho. Não te ensinaram que a natureza do ser humano é a imperfeição e que está tudo bem errar, se perdoar e aprender a perdoar o outro pelas coisas que eles não entendem.

Não te ensinaram que existe um mundo dentro de cada um de nós e que está tudo bem não se encaixar no mundo do outro. Não te ensinaram que todos nós precisamos sobreviver de alguma forma e que muitas vezes precisamos estudar e trabalhar em áreas que não gostamos, especialmente em tempos de crises econômicas e políticas, mas que não precisa ser para sempre e que nada impede que você continue cultivando suas paixões no pouco tempo livre e mesmo que não transforme em uma profissão, tenha o hábito de fazer aquilo que faz sua alma vibrar e o coração se encher de vida. Tentaram te ensinar que todos estamos sujeitos a inúmeras construções e destruições ao longo de nossas existências, que tudo é efêmero, que aceitar a transitoriedade faz parte de quem busca viver em paz consigo mesmo e tenta alcançar o equilíbrio.

Se te ensinaram certo, te fizeram perceber que o meu mundo não precisa ser igual ao teu e que isso não te torna nem melhor ou pior do que eu. Se te ensinaram certo, você vai saber levar para si as coisas que te movem e a desapegar das que não te serviram. Se te ensinaram certo, você vai entender que somos complexos demais para alguém tentar generalizar a existência humana e que todos devemos questionar as verdades que nos ensinam e a desconstruir nossos próprios preconceitos.

Te ensinaram muitas coisas erradas, não significa que você precisa continuar reproduzindo esses conceitos para a vida inteira e continuar incitando o ódio e a violência contra aquilo que é diferente de você. Se te ensinaram certo, você vai perceber que o autor deste texto é só um escritor sonhador, visto como um estranho por muitos e que assim como você, está sujeito a tentar melhorar um pouco a cada dia e que estas palavras não buscam a perfeição e estão desinteressadas de qualquer julgamento. Se te ensinaram certo, você vai perceber que assim como você, eu só sou alguém tentando buscar a felicidade e que minhas verdades, meu mundo e minha liberdade não precisam ser iguais a tua e que não importa quais professores, literalmente ou não, tenham passado pelo seu caminho, mas todos estão sujeitos a falhar. Se te ensinaram certo, você vai refletir sobre a própria vida e os caminhos que te levaram a ser quem você é hoje. Não te ensinaram que a vida não é uma corrida ou um jogo em que todos os outros são seus inimigos. Te ensinaram errado e não há prisão pior do que o olhar de julgamento do outro. Quebre suas correntes ou continue encarcerado, mas não se esqueça que dentro de você há sempre um lugar de paz, onde está tudo bem ser diferente.


"Veja bem, tem muita gente que depois de ler o seu texto aqui, pode buscar silenciar um pouco o mundo e se refugiar em algum lugar a sós, aprender quem são e quem querem ser e fugir dos padrões que o mundo cria para todos nós. Nem todos aprendem isso em suas casas, muitos têm que aprender isso por conta própria, mas poucos enxergam essa outra opção que temos. Por compartilhar um pouco do seu ponto de vista, isso pode fazer uma grande diferença" – comentário da leitora @rana_twinkiee no Instagram.

*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e da série de livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano, disponível para leitura gratuita no Wattpad, com mais de 50 mil leituras.

Comentários

  1. Ben,
    estou aqui sem saber como descrever tudo que estou sentindo ao ler esse texto. Sabe quando palavras falam direto com seu coração? Foi exatamente isso que acabou de acontecer. Texto incrível! motivador, inspirador e muito! muito reflexivo.
    Apenas sem palavras...
    Parabéns

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    Respostas
    1. Olá, Thais!
      Muito obrigado pelo seu comentário. Faz toda diferença saber que minhas palavras te tocaram de alguma maneira. Creio que ao longo da vida todos nós precisamos lidar com algumas situações e muitas delas são reflexos do olhar do outro sobre nós. Se te motivei de alguma maneira, saiba que com o seu comentário foi recíproco. Nenhum texto existe sem o leitor.
      Gratidão ♥

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