Adolescence é uma minisssérie de quatro episódios que estreou na Netflix e ficou entre as mais assistidas. A série conta o caso de um adolescente de 13 anos responsável pelo assassinato de outra adolescente que estudava no mesmo colégio do que ele. Mesmo com tão poucos episódios, a minissérie consegue causar impacto. A maioria das pessoas está acostumado a assistir séries, filmes e documentários de crimes, mas nem sempre quando se trata de um caso tão peculiar envolvendo adolescentes. Logo no primeiro episódio dá para acompanhar o sofrimento da família na delegacia. Já o segundo episódio se foca no colégio. O terceiro em uma das avaliações de psicóloga. E o último na família lidando com os impactos da prisão do filho. Para a minissérie ficar completa, só mesmo se tivesse incluído um episódio do julgamento, o que deu a entender que o desfecho era realmente aquele e o personagem adolescente foi o responsável pelo crime. As cenas com a psicóloga foram as que mais chamaram a minha atençã...
O autismo tem um problema muito sério de tratamentos sem comprovação científica, muitos sem nenhuma base científica. Não existem casos de 'ex-autistas'. Sair do espectro é um termo inventado. Um autista 'fora do espectro', como alguns profissionais estão considerando, seriam autistas com 'menos dificuldades sociais' e eles já existem: são autistas camaleões e/ou com altas habilidades.
O que vocês não sabem: em outros países, conforme o acompanhamento, a pessoa que 'saiu do espectro' pode perder seus direitos e os autistas que 'não parecem autistas' e as pessoas que só descobrem na vida adulta que estão no espectro autista (possível autodiagnóstico tardio) têm uma dificuldade gigantesca de conseguir o diagnóstico formal (papel) e os direitos. Informem-se. Não estou dizendo para evitar tratamentos sérios, estou pedindo cautela e um olhar mais investigativo/científico e menos pautado nos relatos emocionais de outras pessoas/familiares de autistas.
Muita gente saberia se entrasse em contato com autistas camaleões/adultos. A gente aprende a se camuflar, mas existe um limite e um preço para isso: o esgotamento que pode ir desde horas e dias, até semanas e meses. Dependendo da questão sensorial, ficamos mais sensíveis do que éramos, como se fosse uma espécie de 'regressão temporária' (o termo não é adequado, mas é um esgotamento mesmo, Burnout).
Esse esgotamento está associado à depressão e à ansiedade e eventualmente ao suicídio: um assunto pouquíssimo discutido no Brasil (já avisei várias vezes: as discussões aqui estão ultrapassadas perto de outros países). O suicídio de autistas crianças e adultos deveria ser mais abordado, assim como a questão ética de tratamentos.
Por que sempre bato na tecla da leitura aqui? Tem muita informação que espalham em grupos fechados no WhatsApp, grupos do Facebook e até nas páginas de internet por profissionais sem nenhuma credibilidade. Os números de redes sociais confundem as pessoas.
Não tenham preguiça de aprender.Não se limitem a conteúdos produzidos em português.Grande parte das denúncias aos tratamentos falsos são feitos por órgãos internacionais. No Brasil, há um trabalho bem fraco de fiscalização de profissionais antiéticos e tratamentos falsos. Para que um tratamento seja comprovado, ele precisa ser repetido e dar resultado em várias pessoas. 'Tratamentos secretos', muitas vezes, se resumem a isso: profissionais querendo seu dinheiro / alguém lucrando com a venda de algum produto.
E sobre os livros? Todo livro é bom? Não.Qualquer pessoa pode publicar um livro, independente das credenciais. Existem livros que foram removidos em outros países, mas ainda circulam no Brasil sobre 'cura do autismo'. O autismo é uma condição para a vida. Desconfie sempre que ouvir alguém dizendo sobre o assunto.
Depoimentos emocionais não substituem evidências científicas. Documentários, filmes, vídeos e livros sempre devem ser vistos com um olhar crítico. A pessoa que produziu sempre vai puxar para a ideologia dela: se ela enxerga o autismo como doença ou se ela vê como diferença neurológica.
Nos EUA, existem livros sobre autismo que são proibidos em lojas, mas não são proibidos de serem produzidos (liberdade de expressão). São livros perigosos. O mesmo acontece com produtos e tratamentos falsos. Eles são proibidos, mas sempre dão um jeito de burlar a fiscalização. No país em que se imita tudo, você não ficaria surpreso de descobrir que algumas mentiras chegaram por aqui com tudo, né?
Celebridades que não são da área de saúde, vez ou outra espalham boatos sobre tratamentos e cura de seus filhos. Se existisse uma cura, vocês não acham que iam esconder, né? Ou que um ou outro profissional completamente desconhecido no mundo ia ter a resposta e esconder da comunidade científica? Parem de acreditar em teorias de conspiração contra a indústria da farmácia/vacinas etc. Vamos 'acordar para a vida'? Muita gente precisando de um choque de realidade. Mais aceitação, menos negação.
Ainda sobre tratamentos falsos e sem comprovação científica, os profissionais que oferecem sempre se enrolam para mostrar evidências científicas. Ou mostram estudos completamente desatualizados que já foram derrubados, como a relação com a vacina (uma das mentiras mais espalhadas sobre o autismo).
Para finalizar: existem profissionais que perdem a licença em outros países, mas continuam atuando pela internet. Não atuam clinicamente, mas espalham informações falsas. Também existem casos de pais que já perderam a guarda dos filhos por tratamentos falsos e perigosos, incluindo prisões em casos de colocar a vida da pessoa em perigo. Estejam avisados.
Quanto mais vulnerável e mais sem conhecimento sobre um assunto, você está mais suscetível a ser manipulado por quem quer seu dinheiro. Não é fácil ser autista em um país que 'parou no tempo e muitos profissionais não entendem do assunto', tampouco ser familiar. Mas tenham consciência de que esses problemas não são exclusivos do Brasil e as informações falsas viajam numa velocidade mais rápida do que as informações sérias, simplesmente porque as pessoas querem acreditar no que elas querem acreditar. A fragilidade faz isso.
Viver sem ler é perigoso; te obriga a crer no que te dizem...
Desculpa o que vou dizer, mas todo santo dia eu vejo problemas na comunidade autista brasileira relacionados à falta de leitura. Se vocês lessem mais, não seriam tão enganados. Estou sem paciência com vocês, pois já indiquei várias leituras.
Pessoas caindo em mentiras, tratamentos falsos e sem comprovação científica, "não parece autista", 'Fulano se curou do autismo' e tantas outras questões. É chato repetir as mesmas coisas, mas se querem realmente aprender sobre autismo, vão ter que se esforçar e aprender a questionar.
Quanto menos conhecimento, mais manipulável. Para quem quer o seu dinheiro, essa é a melhor coisa do mundo :)
Não sei se é por ingenuidade ou o quê, mas se vocês acham que algum brasileiro achou a cura do autismo e escondeu da COMUNIDADE INTERNACIONAL, vocês estão bem enganados. Esses problemas acontecem no mundo inteiro, mas no Brasil tem como principal causa a falta de leitura.
Não existe cura para o autismo, mas existe para o preconceito e ignorância: LEITURA.
A Autoridade de Normas Publicitárias (ASA - Advertising Standards Authority) publicou um alerta para que 150 homeopatas que operam no Reino Unido parem de alegar que podem curar o autismo: https://www.bbc.com/news/health-47666939
*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.
Olha eu por aqui.... Eu concordo com você em tudo! Não me aprofundei muito em autismo, mas esses problemas que você apontou são os mesmos de quando eu falava sobre borderline. No meu caso, desisti porque realmente ninguém se interessa, as pessoas preferem acreditar em famosinhos e médico não especializado, preferem acreditar em falsas promessas de cura (a custa de horríveis efeitos colaterais, muitas vezes ou gastar uma grande quantia de dinheiro á toa), do que buscarem a informação, exigir que os médicos se especializem. Além do preconceito e do estigma envolvido, eu vi uma pessoa com um canal falando mal de borderline, dizendo que todos são iguais, insensíveis e etc (comparando a psicopatas e n coisas terríveis, um verdadeiro tribunal do mal) ter mais acesso do que de um médico que estava fazendo um trabalho sério (com evidências e pesquisas. Isso é porque as pessoas preferem descontar suas frustrações ( e a polêmica tem grande apelação no emocional do ser humano né) naquilo que não entendem do que realmente ter o trabalho de entender.... Eu só sei que eu cansei, mas você não deve, você tem que continuar falando sobre, buscando as evidências, desafiando o senso comum, essa área merece importância no Brasil... Tem todo meu apoio!
Oi, Michele. Eu super concordo contigo. Existe muita desinformação sobre Borderline também. Livros muito rasos, conteúdo superficial e descontextualizado. Lutar contra a ignorância é algo diário. Abraços e gratidão pelo apoio.
Olha eu por aqui.... Eu concordo com você em tudo! Não me aprofundei muito em autismo, mas esses problemas que você apontou são os mesmos de quando eu falava sobre borderline. No meu caso, desisti porque realmente ninguém se interessa, as pessoas preferem acreditar em famosinhos e médico não especializado, preferem acreditar em falsas promessas de cura (a custa de horríveis efeitos colaterais, muitas vezes ou gastar uma grande quantia de dinheiro á toa), do que buscarem a informação, exigir que os médicos se especializem. Além do preconceito e do estigma envolvido, eu vi uma pessoa com um canal falando mal de borderline, dizendo que todos são iguais, insensíveis e etc (comparando a psicopatas e n coisas terríveis, um verdadeiro tribunal do mal) ter mais acesso do que de um médico que estava fazendo um trabalho sério (com evidências e pesquisas. Isso é porque as pessoas preferem descontar suas frustrações ( e a polêmica tem grande apelação no emocional do ser humano né) naquilo que não entendem do que realmente ter o trabalho de entender.... Eu só sei que eu cansei, mas você não deve, você tem que continuar falando sobre, buscando as evidências, desafiando o senso comum, essa área merece importância no Brasil... Tem todo meu apoio!
ResponderExcluirOi, Michele. Eu super concordo contigo. Existe muita desinformação sobre Borderline também. Livros muito rasos, conteúdo superficial e descontextualizado. Lutar contra a ignorância é algo diário.
ExcluirAbraços e gratidão pelo apoio.