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Para onde vão todas coisas que não dissemos?

Para onde vão todas coisas que não dissemos? Essa é uma pergunta que muitas pessoas se fazem. Algumas ficam presas dentro de nós. Outras conseguimos elaborar em um espaço seguro, como a terapia. Mas ignorar as coisas, muitas vezes pode ser pior. Fingir que as emoções não existem ou que as coisas que não aconteceram não faz elas desaparecerem.

Quando um relacionamento chega ao fim, pouco importa quem se afastou de quem primeiro. Mas há quem se prende na ideia de que se afastou antes – em uma tentativa de controlar a narrativa, como se isso importasse. O fim significa que algo não estava funcionando e foi se desgastando ao longo do tempo. Nenhum fim acontece por mero acaso.

Às vezes, quando somos levados ao limite, existem relações que não têm salvação – todos limites já foram cruzados e não há razão para impor limites, somente aceitar que o ciclo chegou ao fim. Isto não significa que você guarde algum rancor ou deseje mal para a pessoa, significa que você decidiu por sua saúde mental em primeiro lugar e se afastar do que estava te fazendo mal.

Então, seja por meio da escrita ou da fala, você consegue elaborar as coisas que estavam te incomodando. Você sabe que a outra pessoa não vai mudar e cabe a você mudar a si mesmo, saber o que você está disposto a tolerar ou não, colocar um ponto final, onde antes você colocava vírgulas.

No calor das emoções talvez as coisas fiquem intensas, mas mesmo quando o tempo passa, você não se arrepende da escolha que fez. É verdade que somos influenciados pelas pessoas ao nosso redor e que alguns comportamentos podem se tornar tóxicos, quer o outro esteja consciente disto ou não.

Mesmo seguindo em frente, sem olhar para trás, não significava que deixara de se importar. Talvez pelo contrário, de tanto ver o outro envolto em problemas, sempre despejando em si, a saúde mental estava sendo cada vez mais afetada. A verdade era que preferia a paz ao caos. O caos do outro que já lhe havia cobrado a saúde mental uma vez e não se deixaria voltar para o lugar sombrio que tanto havia lutado para sair.

A falta de limites que nunca soube impor havia se tornado algo fora de controle. Perdia mais parte do dia envolvido com os problemas do outro do que com energia para lidar com as próprias situações, sempre em estado de alerta, sempre preocupado com o próximo problema que iria surgir.

Sabia que era tão responsável quanto o outro. Se tivesse imposto limites, talvez as coisas nunca teriam chegado a esse ponto, mas também sabia que era incapaz de viajar ao passado. Independente das coisas boas do passado, não poderia negar as ruins. Então, um adeus era tudo o que restava. Se dizer sim para o outro fosse dizer não para si mesmo, não havia dúvidas do que escolher. Redescobrira a própria paz que era desafiada diariamente pelos problemas do outro e agora poderia se focar no que realmente importava: em si mesmo. 

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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