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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Autismo: Campanha Internacional de Autistas Tirando a Máscara

Autistas de diferentes países criaram uma campanha chamada Take The Mask Off (Tire A Máscara) com a proposta de explicar para não-autistas e até mesmo autistas o que é o mascaramento autístico, por qual razão alguns autistas fazem isso e quais são seus pontos positivos e negativos. No Brasil, há pouquíssimo material sobre o assunto, mas na comunidade internacional de autistas há vários textos a respeito – parece um tabu por aqui, alguns profissionais que entendem só dos estereótipos do autismo têm dificuldade de diagnosticar e identificar autistas diferentes.


A campanha Take The Mask Off foi criada por Hannah Quinton (Do I look Autistic Yet?) e Kieran Rose (The Autistic Advocate), Christa Holmans (Neurodivergent Rebel) e Sara-Jane Harvey (Agony Autie), mas também existem outros projetos paralelos e similares pelo mundo.

A campanha iniciou no dia 23 de julho de 2018 e segue até o dia 10 de setembro de 2018. São seis semanas de campanha, divididas em tópicos: O que é máscara? Como é usar uma máscara; O que é stimming? Como está relacionada à máscara; Como mascarar o autismo está relacionado à saúde mental?; O que é burnout? Como está relacionado à máscara; Diagnóstico e autoconhecimento. Como está relacionado à máscara?; Estratégias para lidar. O que pode ajudá-lo a não mascarar. Usando com propósito? e a última semana sobre como as pessoas foram afetadas pela semana.

Em seu livro sobre Síndrome de Asperger, o especialista mundial em autismo, Tony Attwood já alertava sobre a questão da camuflagem, associando à capacidade de autistas repetirem o que aprenderem com personagens de filmes, séries e livros, bem como repetindo não-autistas (neurotípicos) e falando que uma das consequências disso é que muitos autistas podem ter dificuldade de convencer profissionais e outras pessoas que eles realmente estão dentro do espectro autista. Essa jornada por um diagnóstico pode ser tão cansativa que diante das primeiras negativas, muitos autistas acabam achando que estão enganados quando o real problema é a falta de capacitação em especialistas que enxerguem o autismo fora da caixa.

Mascarar o autismo é um desafio diário, que muitos autistas fazem mesmo sem querer (especialmente os que não fazem a mínima ideia que são autistas e passaram a vida inteira sem diagnóstico, como Aspergers – autistas sem transtorno do desenvolvimento intelectual com leve ou nenhum prejuízo de linguagem funcional). Para quem não sabe o que é mascarar, é como se o autista criasse um personagem para interação social.

Tenham mais empatia. Às vezes, precisamos de um roteirinho mental do que vamos falar, vamos fazer, se vamos ter energia para interação social, se as pessoas vão ter empatia com nossas diferenças e/ou se o ambiente vai estar repleto de estímulos sensoriais que podem nos fazer mal (dependendo da hipersensibilidade sensorial, como barulhos e luzes). As pessoas reclamam tanto de comportamentos autísticos, que ao vivo, muitos travam e têm vergonha de serem eles mesmos com medo de como os outros vão reagir ou de serem reprimidos/oprimidos.

Então, às vezes, a camuflagem serve como uma proteção. Muitos só conseguem respirar aliviados quando estão em seus quartos e não são julgados pelos outros.

Muitos autistas mascaram seu autismo porque sabem que não-autistas ficam desconfortáveis (o que não deveríamos fazer, afinal, quem se importa se estamos bem e confortáveis?). Nos aceitem como somos.

Outro ponto a lembrar: muitos autistas sofrem bullying desde a infância. Por isso alguns são mais fechados do que outros. As pessoas podem ser cruéis com quem é diferente.

Lembrando que aceitação e autoaceitação não têm relação com a importância de procurar apoio se necessário – não se trata de negar ajuda, medicação (quando necessário pelas comorbidades) e estimulação, mas de entender que autistas são autistas. O espectro autista é bem amplo e heterogêneo. Dois autistas podem ser completamente diferentes, mesmo quando estão no mesmo grau.

Geralmente, os textos sobre autismo são tão focados na visão de médicos e psicólogos, que esquecem que autistas também têm uma voz. Não só autistas com menos limitações, mas também autistas não-verbais que aprenderam a se comunicar de forma alternativa e escrevem textos, livros e produzem conteúdos sobre autismo para levar conscientização sobre a condição. No momento, por exemplo, estou lendo o livro O Que Me Faz Pular, escrito por Naoki Higashida, um autista severo que aprendeu a se comunicar apontando as letras em uma cartela de papelão. Só um exemplo entre outros de autistas que contam suas histórias. Infelizmente, muitos materiais não são traduzidos para o Brasil, então, é importante que mostrem também a visão dos autistas sobre o transtorno do espectro autista. Nos últimos tempos, várias páginas de autismo administradas por autistas e familiares foram criadas no Facebook.

Porém, o preconceito contra autistas ainda é bem forte. Muitas pessoas se recusam a procurar um diagnóstico tardio, seja porque têm medo de serem mal-interpretados e verdade seja dita, muitos profissionais têm dificuldades de reconhecer autistas aspies (previamente conhecidos como Síndrome de Asperger), pois mesmo com as limitações, muitos podem estudar, namorar, casar, ter filhos, trabalhar, o que não quer dizer que o autismo não faça parte de suas vidas ou porque o preconceito é tão forte que elas têm receio de que isso atrapalhe suas carreiras profissionais. Algumas pessoas têm uma visão errada de que autistas são completamente rígidos, pois alguns podem se desenvolver no seu ritmo.

Olhando de longe, um autista que se adaptou sem nenhum apoio terapêutico pode parecer bem contente com sua vida, porém quando você observa de perto, percebe que há um limite de até que ponto autistas conseguem mascarar seus comportamentos. Camuflar o autismo pode ser exaustivo e também pode ter relação com a ansiedade e a depressão, a dificuldade de entender porque as outras pessoas gostam de uma 'máscara' sua, mas têm dificuldade de se conectar com quem você é. No entanto, a camuflagem também tem suas 'vantagens sociais'. Muitos autistas têm dificuldade com a mentira e são hipersinceros, por exemplo, mas se eles agem assim o tempo inteiro, muitas pessoas têm dificuldade de manter um relacionamento com eles.

Vale lembrar que muitas pessoas escondem o autismo porque têm receio de pessoas preconceituosas. Porém, quando ninguém sabe que a pessoa é autista, ela corre o risco de ser mal-interpretada. Então, se ela está cansada e lidou com excesso de estímulos sensoriais, aos olhares externos de quem não entende do assunto, ela pode ser vista como preguiçosa, depressiva ou antissocial. Se ela faz uma piada que ninguém entende ou tem dificuldade de reconhecer alguns contextos, ela pode ser isolada pelos outros e não ser vista como uma boa companhia. Por causa das limitações de interações sociais e da cegueira mental, o autista pode ser visto como alguém sem empatia, quando em muitos casos ele tem dificuldade de expressar emoções ou de se conecta com pessoas que nunca viu na vida. Por causa da memória boa para algumas coisas e péssima para outras, alguns autistas podem esquecer rostos ou informações, porém também podemos lembrar de coisas que não-autistas esquecem com facilidade. Para quem não entende, como alguns autistas repetem mesmas frases e perguntas eles podem ser vistos como alguém que faz isso de propósito para testar a paciência.

“Alguns de nós não tiram a máscara, chegamos em casa e nos conformamos. Seja como criança ou como adulto, nos trancamos em nossas máscaras. Nossos pais, nossos parceiros, nossos amigos, nenhum deles vê o nosso eu verdadeiro, o jeito que somos por baixo” – Kieran Rose, The Autistic Advocate

Revelar ou esconder o autismo é uma escolha pessoal (especialmente quando você tem diagnóstico tardio na fase adulta) e como toda escolha tem seu lado positivo e negativo. O discurso de inclusão social é lindo na teoria, mas quando chega na parte prática, vemos que escolas e professores, profissionais da saúde e ambientes de trabalho nem sempre estão preparados para abraçar pessoas diferentes. As dificuldades são reais, mesmo quando o autismo parece invisível aos olhos de quem não faz a mínima ideia sobre a condição, porém, em muitos casos, ficar escondendo o autismo pode criar uma sobrecarga e atrapalhar a autoestima – muitos autistas camuflados (especialmente os que não fazem ideia que são) estão mais suscetíveis ao burnout (esgotamento).

Camuflar ou não é uma decisão que pode ser boa para alguns e péssima para outros (afinal, tentar interagir e compreender o que os outros estão falando o tempo todo pode ser exaustivo), porém no final das contas, enquanto o preconceito contra autistas ainda for forte, muitos sabem que não é só uma questão de poder ser você mesmo ou não, mas de sobrevivência.

“Muitos autistas com diagnósticos tardios são especialistas em mascaramento. Nós mascaramos tanto que pode se tornar automático. Pouco a pouco, aprendemos a parar de fazer coisas que os adultos e outros ao nosso redor acham estranho ou socialmente inaceitáveis. O mascaramento não se trata de ser enganoso e, muitas vezes, desenvolve-se naturalmente, como uma estratégia de sobrevivência. Requer um esforço e concentração constantes” – Christa Holmans, Neurodivergent Rebel

*Lembrando que camuflar o autismo não é o mesmo que cura. Alguns autistas simplesmente aprendem a esconder ou disfarçar, mostrando o que as pessoas querem ver e ocultando o que elas não querem ver, ou em outras palavras, colocando uma máscara de neurotípico (não-autista).

Assista ao vídeo da campanha Tire A Máscara:



Assista ao vídeo da Rita Nolasco (Claramente Asperger):





Indicações de leitura de autistas:

#TakeTheMaskOff 

Masking: I am not OK (The Autistic Advocate) 

Accepting my Autistic Self (Autistic Science Lady)

How to hide your Autism 

O que é ser um aspie? 

The inside of Autism: You should see the world inside my head 

Reflexões de um autista 

Time to Take the Mask Off – #TakeTheMaskOff 

An Autistic Perspective – What is Autistic Masking? #TakeTheMaskOff 

Autismo: Aspergers não existem mais? 

Claramente... Preciso de ajuda! 

A Rita é claramente ASPERGER 

Desgaste emocional

An Autistic Burnout 

Too Nice: Avoiding the traps of exploitation and manipulation 

4 Things I Want People to Know About My Autistic Self 

The costs of camouflaging autism 

O que é autismo? 







*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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