Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...
Quando alguém diz que “Aspergers não existem mais”, ela está dizendo que mudou a classificação e nomenclatura, não que as pessoas que tinham diagnósticos de Aspergers deixaram de ser autistas. Okay? Okay!
*Nem todo Autista é Asperger, mas toda pessoa com Síndrome de Asperger é autista. O termo ainda é adotado na comunidade autista pela vulnerabilidade de diagnósticos. Adultos Autistas leve (alto funcionamento) estão mais suscetíveis à depressão, ansiedade e suicídio por causa do desamparo, especialmente os que não têm diagnósticos e não entendem porque são diferentes e não se encaixam. Quando o autista não sabe o que deixa ele sobrecarregado, provoca crises e a dificuldade de manter relacionamentos sociais (amoroso, amizade, trabalho, familiar), seus comportamentos podem ser confundidos com outros transtornos mentais (subdiagnósticos ou diagnósticos errados).
Essas informações erradas, muitas vezes, são espalhadas por pessoas que não entendem de autismo. Portanto, não é errado dizer que um aspie é autista. Algumas informações (inclusive aqui na página) ainda usam o termo Asperger, pois dentro do espectro autista, ainda são autistas que têm dificuldade de conseguir diagnósticos. Existem muitas pessoas sem diagnósticos formais e pessoas que não fazem ideia que são autistas no Brasil e pelo mundo. Muitas vezes, essa dificuldade de diagnóstico vem dos estereótipos, da falta de acesso às informações e da dificuldade de encontrar profissionais de saúde que entendam de Transtorno do Espectro Autista.
Durante muitos anos, o grupo mais diagnosticado foi de meninos brancos. Progressivamente, de meninas. Adultos autistas (homens e mulheres) ainda têm dificuldade de conseguir diagnóstico. Esse problema não é exclusivo do Brasil, nos Estados Unidos, latinos e negros ainda são grupos subdiagnosticados. O autismo não tem cor de pele, gênero, identidade sexual e ter outras condições/transtornos não excluem o autismo (autistas também podem ter depressão, ansiedade, bipolaridade, superdotação/altas habilidades [dupla excepcionalidade], TDAH, Tourette, dislexia, discalculia, epilepsia, Transtorno do Processamento Sensorial, Síndrome do X-Frágil, Savant etc.). O que acontece é que alguns grupos têm mais acesso aos recursos de saúde do que outros. Sim, a desigualdade social tem peso muito forte no diagnóstico de autismo. Outro grupo subdiagnosticado é o LGBT.
Lembrando que desde maio de 2013, com o lançamento do DSM-5, Asperger passou a ser considerada Transtorno do espectro autistas leve (sem apresentar perdas intelectuais ou verbais).
Aspergers são considerados autistas leves (TEA Leve). Em janeiro de 2022, o novo CID (11) entrará em vigor. A nova classificação para Aspergers será: Transtorno do Espectro Autista SEM transtorno do desenvolvimento intelectual e com LEVE ou NENHUM prejuízo de linguagem funcional (6A02.0 Autism spectrum disorder without disorder of intellectual development and with mild or no impairment of functional language).
*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.
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