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Destaques

Autorregulação e nostalgia

Em um ano marcado por tantas referências de nostalgia, é difícil não se lembrar do passado. Mas, às vezes, as respostas que buscava estavam no presente, naqueles que permaneceram mesmo com tanta intensidade, incoerência e riscos. Talvez em vez de focar nos ciclos que se encerraram, deveria se focar nos que permaneceram abertos. O tempo de lamentar fora mais do que o suficiente. Então, mesmo com excesso de compreensão, precisava se soltar de uma vez por todas: um exercício muito mais fácil na teoria do que na prática.  Em um ano muita coisa poderia mudar. Pensara em como finalmente havia conseguido abandonar o cigarro, por exemplo, e se lembrava de que vícios não eram tão diferentes de relacionamentos que não estavam funcionando: mesmo quando sabemos que algo não está bem, às vezes, continuamos. Às vezes, escolhemos deixar para trás. Aceitamos a importância do novo e parar de encontrar conforto somente no conhecido. Às vezes, a beleza está em descobrir o novo, mesmo que a princípio ...

Autismo no cinema: Filme Tudo Que Quero faz estreia tímida no Brasil

A arte tem o poder de nos colocar na pele dos outros e indiretamente ajuda a combater o preconceito. Deve ser por isso que tantas pessoas fogem dos livros, séries, filmes, teatro, exposições e por aí vai... É doloroso encarar o quanto somos limitados e podemos agir de forma preconceituosa quando não entendemos as limitações dos outros e não conseguimos enxergar além: ver que mesmo diante dos desafios, a outra pessoa não é só o que te incomoda.


No dia 26 de abril de 2018, mês de conscientização do Autismo, o filme Tudo Que Quero (Please Stand By) estreou nos cinemas do Brasil. Infelizmente não foram todas cidades que receberam o filme dirigido por Ben Lewin, com roteiro de Michael Golamco que se baseou na peça de Michael Golamco. Fazem parte do elenco as atrizes Dakota Fanning (Wendy), Toni Collette (Scottie) e Alice Eve (Audrey).

Só pelo trailer, dá para saber o que esperar do filme Tudo Que Quero. Dakota Fanning interpreta uma jovem roteirista que escreveu um roteiro inspirado nos personagens de Star Trek. Em termos de representatividade, o cinema ainda tem muito a melhorar, mas o que animou muita gente foi ver uma personagem autista. Geralmente, os personagens são homens, o que acaba disseminando ainda mais falsas ideias, como a de que poucas mulheres têm autismo, quando o que acontece é que muitas não conseguem ser diagnosticadas e aprendem a se camuflar (tem um texto sobre aspergers camaleões aqui no blog).

É uma pena que o filme tenha chegado a tão poucos cinemas. Fico na torcida para que chegue à Netflix (especialmente porque eles apostaram em uma série com essa mesma temática, Atypical) ou até mesmo à Amazon Prime Video em breve.

5 motivos para assistir Tudo Que Quero:


1) Entender os desafios que autistas de diferentes graus passam diariamente para se adaptar à sociedade neurotípica (não-autista). Ainda que muitos autistas tenham limitações, eles podem aprender e organizar suas rotinas e o processo fica mais fácil quando eles têm apoio e aceitação. No filme, Wendy está lutando pelo seu objetivo e um pouco de autonomia. Ainda que ela tenha um emprego ao qual ela tenha aprendido a se adaptar, mesmo sabendo que ela está lá só pelo dinheiro, ela não desiste de escrever.

2) Quantas mulheres autistas você já viu em obras de ficção? Geralmente, os garotos e homens são retratados. Existe um problema muito sério de falta de diagnóstico em garotas e mulheres, o que as tornam mais vulneráveis por causa da ingenuidade e da dificuldade de interpretar expressões. A ONU lançou como tema para 2018 o Empoderamento de Mulheres e Meninas Autistas e ressaltou que além da discriminação, exclusão e preconceitos, muitas mulheres autistas são vítimas de violência física, sexual e psicológicas. A falta de diagnóstico pode atrapalhar na identificação do próprio comportamento e como se defender de pessoas mal-intencionadas.

3) Autistas também podem ser escritores, artistas, atores e por aí vai... Há um estereótipo muito forte de que os autistas geralmente são da área de ciências e exatas. Embora o autismo só tenha sido identificado a partir de uma época, existem várias análises de personalidades que as pessoas achavam que eram esquizofrênicas, depressivas e bipolares (diagnósticos errados ou subdiagnósticos do autismo), que, na verdade, eram autistas.

4) Os dilemas da superproteção e da incapacidade de acreditar que autistas são capazes de coisas incríveis e coisas comuns. O filme toca em um ponto bem delicado: o da institucionalização – como algumas famílias deixam autistas em lugares de convivência com profissionais e outras pessoas com condições neurológicas diferentes e não os levam para casa, mesmo quando gostam, mas não conseguem lidar com os comportamentos.

5) A personagem de Dakota tem vários traços em comum com pessoas de diferentes graus do Transtorno do Espectro Autista (TEA). No trailer do filme dá para perceber a importância da rotina, como autistas têm facilidade de falar com pessoas mais velhas, a ingenuidade, a dificuldade de percepção espacial e de tempo, o hiperfoco (como autistas sabem muito sobre assuntos que os interessam), entre outros comportamentos que devem ser explorados (confira: comportamentos de aspergers adultos).


Assista ao trailer de Tudo Que Quero:



*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

Assista ao vídeo mais recente publicado no meu canal do YouTube. Você também pode gostar da indicação de leitura:


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