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Destaques

Born This Way: Hino LGBTQIA da Lady Gaga e sua importante Fundação

Os anos passam mais algumas músicas continuam fazendo sucesso. Neste mês do Orgulho LGBTQIA , Born This Way , da Lady Gaga , permanece sendo reconhecida como um hino LGBTQIA. Mais do que cantar sobre a causa, a importância da própria identidade e aceitação, a cantora da música lançada em 2011 é também co-fundadora de uma fundação que apoia comunidades LGBTQIA. Segundo informações do site da Born This Way Foundation , a missão é: “Empoderar e inspirar os jovens a construírem um mundo mais gentil e corajoso que apoia a saúde mental e o bem-estar deles. Baseado na relação científica entre gentileza e saúde mental e construído em parceria com os jovens, a fundação incentiva pesquisa, programas, doações e parecerias para envolver o público jovem e conectá-los com recursos acessíveis de saúde mental”. Mais do que uma música para inspirar a Parada do Orgulho LGBTQIA ou ser ouvida o ano inteiro, Born This Way deixou esse grande legado que foi a fundação que já ajudou muitos jovens LGBTQIA. E o...

Autismo: Aspergers camaleões e o silêncio sobre adultos

Há algo que tem me incomodado nas últimas semanas. Não consigo deixar de pensar (não sejam tão literais) em uma frase da escritora Margaret Atwood: “Tudo o que é silenciado clamará para ser ouvido ainda que silenciosamente”.


Qual é a imagem que vem em sua mente quando você pensa em um autista? Talvez seja a de uma pessoa no canto do quarto, brincando sozinha, como se o resto do mundo não importasse. Essa é a visão que muitas pessoas têm. O que muitos não sabem é que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é amplo e que existem milhares de pessoas sem diagnósticos pelo mundo ou pessoas que foram diagnosticadas erroneamente e subdiagnosticadas com Ansiedade, Depressão, Transtorno Bipolar, Transtorno Obsessivo Compulsivo, Transtornos do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), entre outros. Na visão de alguém preconceituoso, eu deveria me esconder no meu quarto e jamais dizer em voz alta que sou autista e ter medo de que as pessoas possam me olhar de forma diferente. Conscientemente ou não, pessoas com autismo (mesmo as que não sabem que têm e nasceram assim) já sofrem com o preconceito diariamente e bullying. Pode ser assustador para uma sociedade que espera que pessoas diferentes sejam excluídas quando essa pessoa decide não se esconder mais.

Se você é um autista com diagnóstico tardio ou familiar de alguém que passou anos até descobrir o autismo não tão invisível, talvez ao ler esses primeiros parágrafos do texto, você concorde comigo. Se você não é autista ou faz parte daqueles que têm medo e preconceito, seus olhos devem ter revirado e achado que tudo não se passa de uma teoria da conspiração.

Autistas camaleões


Como é possível tantos diagnósticos passarem batidos? “Se você conheceu um Asperger, você conheceu UM Asperger”, afirma o especialista mundial em autismo, Tony Attwood. Se o próprio especialista no assunto não sabia que o próprio filho tinha Síndrome de Asperger, o que podemos esperar de médicos e psicólogos que têm dificuldade de identificar o autismo? Sinceramente? Não muito!

Um autista camaleão pode passar a vida inteira sem um diagnóstico. Milhares morrem sem saber que eram autistas. Por que isso importa? Para começo de conversa, vale lembrar que o autismo não é rótulo. Erroneamente, pessoas preconceituosas acreditam que é uma forma de chamar a atenção e não entendem que é algo que vai além da personalidade. Não se trata simplesmente de ser um excêntrico ou de ser diferente do que a sociedade espera de você. Trata-se da possibilidade de viver com mais conforto, entender o que pode te fazer mal, saber o que provoca crises (meltdown e shutdown) e entender de que forma as limitações na comunicação e interação social afetam os relacionamentos, bem como a importância da empatia, aceitação e do entendimento que não é só o autista que deve se adaptar ao mundo, mas o mundo também precisa acolhê-lo.

“Quando adultos com síndrome de Asperger imitaram e atuaram para alcançar competência social superficial, eles podem ter dificuldade considerável em convencer as pessoas que eles têm um problema real com compreensão social e empatia; eles tornaram-se muito plausíveis em seus papeis para acreditarem neles” – Tony Attwood, especialista mundial em Autismo e Aspergers (The Complete Guide do Aspergers Syndrome)

Que não se engane quem acredita que um autista deixa de ser autista pela mudança dos comportamentos. Autistas aprendem a repetir comportamentos e alguns deles têm a capacidade de transitar entre neurodiversos e neurotípicos, mas tudo tem o seu preço. A fadiga, dor no corpo, o estresse e a incapacidade de lidar com tantos estímulos podem provocar um mal-estar e levar algumas pessoas a crises que, muitas vezes, são confundidas com crises de ansiedade, depressão ou psicose.

Embora não seja tão comum atrair a atenção da mídia e quando atrai geralmente é com algo polêmico, como a epidemia de autismo (informação bem duvidosa, quando o que tem acontecido é que mais pessoas estão identificando algo que antes não era tão comentado) ou autistas geniais e seus feitos incríveis, se você procurar bem, vai encontrar várias reportagens sobre adultos que descobriram o autismo em diferentes fases da vida. Comece a se costumar! Na era da informação, pessoas estão usando a internet para o autoconhecimento e interação com outras pessoas. Os grupos virtuais de apoio para autistas e familiares de autistas se tornaram uma ferramenta importante de troca de informações, conhecimentos, conselhos e desabafos.

O que acontece com muitos desses adultos que descobrem de forma tardia que têm Síndrome de Asperger? Muitos se contentam com o autodiagnóstico, enquanto outros começam uma maratona à procura de profissionais que os entendam e não olhem para eles com estranhamento. A medicina e a psicologia têm uma dívida histórica com autistas. O que muitas pessoas não sabem é que em determinada época, em alguns países, muitos autistas foram internados contra a própria vontade, pais perderam a guarda dos filhos, entre outras formas nada sutis de silenciamento e de normalização.


A consciência da neurodiversidade, de entender que as pessoas devem ser respeitadas com suas diferenças neurológicas, ainda está em falta. O objetivo deste texto não é apontar dedos, mas de propor reflexões. Quem ajudará esses autistas que descobrem de forma tardia, diante de tanta dificuldade e falta de reciclagem dos conhecimentos? Pessoas que não enxergam pacientes além da superfície. Esses pontos cegos não são exclusivos dos profissionais; quando a pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo não consegue reconhecer quais são os comportamentos, não tem como ela entender que forma é afetada pelas coisas que acontecem ao seu redor, logo, ela não sabe como pedir a ajuda adequada.

“Eu não quero que meus pensamentos morram comigo, eu quero ter feito algo. Eu não estou interessada em poder ou pilhas de dinheiro. Eu quero deixar algo para trás. Eu quero fazer uma contribuição positiva – saber que minha vida tem significado” – Temple Grandin 

Enquanto o preconceito e os comentários sobre autismo se limitarem a “Mas você não parece autista”, “Mas você é capaz de olhar nos meus olhos”, “Você fala tão bem”, “Você terminou a faculdade”, entre inúmeras variações que pessoas com autismo e familiares escutam diariamente,  muitas pessoas vão continuar sem diagnósticos. Quem deve saber sobre a condição neurológica, no caso, que tem Transtorno do Espectro Autista, é a pessoa – é ela que vai conviver consigo mesma a vida inteira. Não é algo que deveria ser escondido. Sem as estratégias de adaptações, muitos autistas ficam perdidos quando seus familiares morrem e, geralmente, precisam de orientações para que tenham um pouco de autonomia. Essas pessoas precisam entender que, geralmente, as limitações na comunicação podem deixá-las mais excluídas e isoladas das outras pessoas do que o preconceito de revelar que é autista.

Alguns comportamentos de autistas que podem provocar estranhamentos em não-autistas. Nem todos autistas se comportam desta forma, cada pessoa é única, mas alguns pontos são comuns:


— A dificuldade de interpretar algumas frases e a literalidade;

— A incapacidade de entender algumas piadas e/ou achar graça de coisas que podem não ser engraçadas para não-autistas;

— O excesso de sinceridade e dificuldade para medir palavras;

— A dificuldade para mentir e de entender porque a sociedade se sustenta com mentiras sociais diárias;

— A ingenuidade e como o autista pode se tornar uma presa fácil para sociopatas, narcisistas e pessoas manipuladoras, bem como atrair amizades tóxicas e relacionamentos abusivos e codependentes;

— A hipersensibilidade sensorial (distúrbio do processamento sensorial) e como alguns ambientes podem levá-lo a uma montanha-russa de emoções;

— A dificuldade de ler expressões faciais e também de expressar emoções, o que levam a algumas pessoas a interpretarem de forma errada como a ausência de empatia ou as risadas em horas inapropriadas;

— A importância de respeitar os interesses (hiperfoco), o espaço e os comportamentos do autista e saber como interagir com ele;

— Entender que embora os grupos sociais do autista geralmente são reduzidos, como outras pessoas, muitos desejam ter amigos e relacionamentos;

— Uma forma diferente de enxergar o mundo.

Imagine quantas pessoas tomam remédios errados e fazem tratamentos sem resultados durante anos, simplesmente, porque o preconceito e os estereótipos atrapalham na identificação do autismo leve e outros graus? O diagnóstico não precisa ser um fardo e pode ser libertador, especialmente quando entendemos que existe um motivo por trás dos nossos comportamentos.

Intuitivamente, autistas camaleões aprenderam a se adaptar sem a ajuda de psicólogos e de medicações, mas isso não significa que eles não precisam de compreensão e do espaço para recarregar as energias, que são drenadas em alguns espaços sociais, geralmente, de forma rápida. Há quem prefira omitir o autismo; há quem não entenda que não é um rótulo e sempre que ignoramos as coisas que nos fazem mal, o estresse vai se acumulando até chegar ao ponto de esgotamento ou colapso. Cada um deve viver como deseja, mas as pessoas que precisam de ajuda e ajustes não devem ser ignoradas e os profissionais precisam aprender e deixar o orgulho ferido de lado, se quiserem entender que existem muitos mitos sobre autismo e como esses pontos cegos só atrapalham nossas vidas.



*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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