Dezembro chegou e com ele veio a vontade de escrever novos capítulos de sua história. Estava disposto a deixar outubro e novembro para trás, tentar se focar no momento presente e se deixar perder nas novas linhas que se formavam. Era verdade que deixar os capítulos anteriores para trás não era uma tarefa fácil, mas precisava seguir em frente, sempre se movimentando em direção aos seus sonhos. Tentava não criar expectativas sobre que tipos de histórias iria escrever, o papel em branco que antes o paralisava, agora servia como um convite para deixar novas palavras surgirem. Escrevia pra quê, afinal de contas? Para se lembrar? Para esquecer? Para colocar para fora? Para simplesmente praticar o ato de escrever? Não havia uma resposta certa ou errada. Escrevia porque era sua paixão fazer isso e enquanto continuasse respirando, pretendia continuar escrevendo. Escrever capítulos novos poderia ser uma atividade interessante. Diferente do que muitos pensam, nem todos escritores deixam tudo plan...
Resenha: A Sacerdotisa de Avalon – Diana Paxson e Marion Zimmer Bradley
Mais uma viagem literária pelo universo de Avalon. O livro A Sacerdotisa de Avalon (Priestess of Avalon) foi escrito por Diana Paxson junto com Marion Zimmer Bradley. Publicado originalmente em 2000, no Brasil o livro foi publicado pela editora Rocco em 2002, com tradução de Claudia Martinelli Gama. Para quem gostou de As Brumas de Avalon e ficou com um gostinho de quero mais, o romance continua explorando a substituição dos sagrados cultos pagãos pelo cristianismo.
Eilan (ou Helena) é a narradora do livro A Sacerdotisa de Avalon. Nascida na antiga Brittania, a protagonista deixa Avalon por causa de uma paixão – escolha decisiva na vida dela e nas tradições da ilha. Como um presságio, a personagem descobre ao desenrolar da história como o seu destino e dos povos antigos podem estar ameaçados pelas mudanças.
Não é tão difícil simpatizar com a protagonista. Assim como em As Brumas de Avalon, A Sacerdotisa de Avalon também leva o leitor a refletir sobre a figura feminina e como o poder político, as religiões, a família e as tradições podem cercear a liberdade. No contexto social da época – e em alguns lugares, até os dias atuais – a mulher é obrigada a abandonar o seu lar para viver uma história que nem sempre escolheu.
“As estrelas lhe haviam mostrado uma vida de magia e poder, mas anteriormente ele muitas vezes interpretara as estrelas para sacerdotisas e as configurações que prediziam as suas vidas não eram as que ele então via. Parecia-lhe que esta criança estava destinada a percorrer um caminho diferente daquele que fora trilhado antes por qualquer sacerdotisa de Avalon”– Marion Zimmer Bradley e Diana Paxson, A Sacerdotisa de Avalon
De sacerdotisa para esposa e mãe. Uma das coisas que mais gosto nos livros da série Avalon é como eles fazem analogia entre a protagonista e os elementos da bruxaria: diferentes fases da lua, da deusa e como o paganismo por abranger mais deuses, também reflete uma visão menos preconceituosa. De tradições mais fluidas e livres, nas quais os praticantes poderiam escolher a devoção aos deuses de suas preferências, levando em conta o panteão (celta, grego, romano, irlandês, egípcio etc.) para o monoteísmo cristão, é impossível não notar como os comportamentos da população estão ligados às manipulações políticas.
Os moradores da região sentem na pele a tirania de homens capazes de tudo para alimentarem seus egos e suas obsessões, distorcendo as palavras sagradas e tentando transformar os velhos deuses em demônios. Vale lembrar que o diabo é uma invenção cristã e que os pagãos, mesmo acreditando que um Deus/Deusa poderia simbolizar os outros ou poderia cultuá-los separadamente, respeitavam a natureza e as diferentes manifestações divinas e espirituais.
“Eu sou a lua minguante cuja foice ceifas as estrelas. Eu sou o sol poente e o vento frio que anuncia a escuridão. Estou amadurecida em anos e em sabedoria; eu vejo todos os segredos por trás do Véu. Eu sou Bruxa e Rainha das Colheitas, Feiticeira e Maga, e, um dia, você me pertencerá...” – Marion Zimmer Bradley e Diana Paxson, A Sacerdotisa de Avalon
Embora uma parte da história se passe em Avalon, não é o cenário principal. Mesmo distante da ilha, é possível aprender mais sobre o que acontecia lá através das palavras, memórias e visões de Helena. Como as outras sacerdotisas, ela carrega a marca da lua na testa. Uma vez iniciada no caminho da magia, ela consegue se conectar com a energia da Deusa.
O caminho para o amor, o caminho para o poder e o caminho para a sabedoria, como são chamadas as três partes do livro podem servir como uma metáfora de como nossas emoções, desejos e amadurecimento podem nos transformar, para o bem ou para o mal, nos aproximando ou nos afastando de quem nós realmente somos.
“Sempre me perguntei por que um homem que só consegue enxergar uma cor é considerado incapaz, no entanto é elogiado quando aceita apenas uma divindade. Acredito que Cristo tinha consigo o poder de Deus e respeito os seus ensinamentos, mas sei que a Deusa nas suas muitas aparências ama igualmente os seus filhos. Não tente definir-me como cristã ou pagã [...] Eu sou uma serva da Luz. Que isso baste para você” – Marion Zimmer Bradley e Diana Paxson, A Sacerdotisa de Avalon
Diana Paxson fez um ótimo trabalho de continuar enchendo de vida o trabalho iniciado por Marion Zimmer Bradley. Seus estudos em paganismo e neopaganismo ajudam a enriquecer a narrativa, nos trazendo informações que vão além do entretenimento e nos lembram do quanto as coisas mudaram com o passar do tempo e o preço que pagamos pelo avanço do cristianismo e da intolerância pelo mundo. A Sacerdotisa de Avalon termina de forma bem catártica e nos leva a refletir sobre quanto sangue foi derramado por mãos cristãs e como os livros religiosos são mal interpretados e distorcidos por interesses humanos. Aquele lembrete do perigo da interseção entre política, religião e corrupção, dos danos causados pela substituição da energia feminina e criativa pela rigidez e hipocrisia cristã.
Sobre as autoras: Marion Zimmer Bradley – nasceu em Nova Iorque, em 1930. Começou desde cedo a escrever para revistas e antologias, mas foi na década de 60 que iniciou uma carreira de sucesso como romancista. A sua série mais popular iniciou-se com a publicação de As Brumas de Avalon, uma recriação da lenda arturiana que ainda hoje tem conquistado gerações. É também conhecida pela série de ficção científica Darkover, entre muitos outros romances memoráveis. Faleceu em 1999. Diana Paxson – é uma romancista e autora de não ficção, principalmente nos campos do Paganismo e Neopaganismo. Seus trabalhos publicados incluem romances de fantasia e ficção histórica, bem como numerosos contos. Mais recentemente, ela também publicou livros de não ficção sobre religiões e práticas pagãs e neopagãs.
*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon (entre os mais vendidos na categoria de horror) e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis na loja Kindle e no Wattpad.
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