Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...
Asperger: 8 Coisas que Aprendi Após o Diagnóstico Formal
8 coisas que aprendi nos 2 anos de autodiagnóstico e depois diagnóstico formal de Asperger (29 anos, em março 2019):
1) Um autista com autoestima incomoda muita gente. Imaginam que todos nós temos autoestima baixa. Assim como não existem duas pessoas iguais, não existem dois autistas iguais;
2) Definir espaço pessoal é importante. Muita gente sem intimidade me encheu de perguntas. Aliás, meu perfil foi aberto há anos, não é mais. Toda vez que namoro, tem gente que acompanha meus relacionamentos como se fossem novelas. E não digam que eu não devo postar, cada um precisa saber seus limites. Escutar gente aleatória dizendo 'me chama para o casamento' é demais, sem falar as pessoas que adicionam meus namorados/ex sem nem conhecerem.
3) Ter um diagnóstico não define minha vida. Não deixei de ser escritor, blogueiro, gay. Ainda sou o mesmo, só com mais autoconhecimento e direcionamento de vida.
4) Dizem que pessoas no espectro têm dificuldade com relações sociais, mas muitos não-autistas têm. Confundem colega de profissão com amizade.
5) Alguns autistas são mais ingênuos, outros, não. Grande erro: Achar que porque alguém é Asperger, é fácil de manipular. Tive e tenho vários hiperfocos relacionados ao comportamento, saúde mental, narcisismo etc. e um longo histórico com mentirosos patológicos, desde gente que nunca vi dizendo que é meu amigo, já ficou comigo, até boatos piores. Recomendo terapia 😉
6) Posso estar no espectro autista e não querer amizade com outros Aspergers (especialmente se forem homofóbicos, racistas, misóginos etc). Ter o mesmo diagnóstico não nos torna amigos, no máximo pessoas que passam por situações parecidas.
7) O mesmo sobre opiniões e ideologias. Já deixei bem claro que nenhuma associação ou grupo de autismo no Brasil me representa. Posso discordar sem ser ofensivo. Se não sabe separar as coisas, aí já é um problema teu.
8) Minha liberdade, meu silêncio, minhas opiniões, minha vida, minhas escolhas... Ninguém compra. Muita gente acha que minha vida começou após o diagnóstico. Me respeite.
Tenho uma bagagem de 29 anos e sou macaco-velho. Nunca dependi de homem nem vou depender. Quem acha isso não me conhece nem um pouco.
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Quer ser sincericida? Seja. Mas saiba arcar com as consequências.
Assim como pessoas não-autistas precisam ser educadas para viver em sociedade, pessoas no espectro também precisam aprender sobre tomadas de decisões e comportamentos. Especialmente, se for Aspergers.
No meu grupo da Autísticos, eu nunca permiti comportamentos errados e ninguém 'jogar a culpa no autismo': estávamos todos entre pessoas no espectro. Era uma das regras. "Seja responsável pelo que fala".
O que muita gente não sabe: autistas não são anjos. Existem casos na mídia internacional de Aspergers presos. Achar que todo mundo é um anjo é só uma narrativa que as pessoas preferem acreditar.
Comportamentos saudáveis precisam ser aprendidos por todos: isso inclui Aspergers e pessoas no espectro.
*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1)e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.
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