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Destaques

Observando Estrelas

As estrelas continuavam brilhando no céu, mas não conseguia alcançá-las. Havia encontrado uma estrela tão brilhante, mas quando tentou aproximar a visão, percebeu que ela já estava ao lado de outra estrela. Entre a surpresa e o choque, logo tentou se esquecer do que havia visto: era a única coisa que restava a fazer. A empolgação inicial de encontrar estrelas dera espaço a uma certa preguiça misturada à letargia. Sabia que elas estavam em algum lugar, bastava o tempo certo para que elas aparecessem, mas já não se sentia tão confiante em sua busca e pensara que ter ficado preso o suficiente em outros formatos estava atrapalhando seus êxitos. Queria uma estrela que servisse como uma musa, algo praticamente impossível de encontrar, mas que sabia que estava ali em algum lugar esperando por ele. Talvez as expectativas fossem altas e irreais, mas depois de se queimar e gelar pela realidade era tudo o que precisava. Estrelas, novas, brilhantes, estrelas que ainda não haviam tocado seu coração...

Resenha: Sete Minutos Depois da Meia-Noite – Patrick Ness

“Histórias são criaturas selvagens”. Com essa frase, Patrick Ness leva o leitor a acompanhar de que forma as narrativas servem como companheiras para o solitário Conor, um adolescente tentando lidar com o fato de que sua mãe está doente. Assim é a premissa do livro Sete Minutos Depois da Meia-Noite (A Monster Calls), publicado pela Editora Novo Conceito, em 2016, com tradução de Paulo Polzonoff Junior.


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Narrado em terceira pessoa, o romance gira ao redor do sofrimento de Conor e de como ele alimenta diariamente seu monstro, que pode ser lido tanto no sentido literal, como uma metáfora para a ansiedade, o medo, a raiva e as demais emoções que ele não consegue controlar. O que ele não imagina é que ignorar o monstro que o visita não é o suficiente para que ele desapareça.

Com uma linguagem bem direta, o livro é bem enxuto e ideal para quem gosta de narrativas mais curtas – fica aqui a indicação de leitura também para quem não tem o hábito de ler livros longos e gostaria de desenvolver o hábito em 2020. Embora não seja narrado em primeira pessoa, é uma história que ajuda o leitor a entender um pouco do furacão pelo qual o protagonista tão jovem está passando.

“Histórias são importantes. Elas podem ser mais importantes do que tudo. Se forem sinceras” – Patrick Ness, Sete Minutos Depois da Meia-Noite

Uma das únicas certezas da vida é também responsável pela ansiedade de muitos: todos vamos morrer, só não sabemos quando. Ter alguém da família doente pode ser uma experiência marcante e dependendo da idade, com as responsabilidades do colégio e a dificuldade de se encaixar, a pressão pode ser esmagadora.

Dizem que o oposto do amor não é a raiva, mas o medo. Existem situações nas quais as emoções são mais complexas do que A ou B e a situação do livro é uma delas. O próprio personagem principal não sabe discernir seus atos em alguns momentos, tamanha a frustração que ele está sentindo, o que acaba aumentando o seu isolamento e gerando mais conflitos internos e externos.

“A névoa os cercou novamente e o jardim de sua avó desapareceu. O mundo mudou para algo cinza e vazio e Conor soube exatamente onde estava, soube exatamente no que o mundo se transformara. Ele estava dentro do pesadelo” – Patrick Ness, Sete Minutos Depois da Meia-Noite

Em uma época em que muito se fala sobre inteligência emocional e ainda pouco se discute questões universais como o envelhecimento, as doenças e o bullying, que acabam sendo abordadas mais em produções culturais, como filmes, séries e obras literárias do que em nossos cotidianos, o livro Sete Minutos Depois da Meia-Noite pode ser um pontapé inicial e uma boa leitura de ser trabalhada em sala de aula, agradando leitores de diferentes idades.

Acompanhar a jornada do protagonista não é uma experiência fácil. Dentro ou fora do universo ficcional, cada um tenta reescrever a própria história e dar significações para o que está acontecendo ao seu redor. Uma árvore nem sempre é só uma árvore e monstros nem sempre são ruins; alguns deles podem nos levar a questionamentos existenciais, dilemas e escolhas.

“Sozinho, ele ficou sentado num canto afastado do refeitório, a comida intacta diante dele. O salão estava incrivelmente barulhento, rugindo com os sons dos colegas e todos os gritos e berros e lutas e risadas. Conor deu o melhor de si para ignorar tudo” – Patrick Ness, Sete Minutos Depois da Meia-Noite

Sete Minutos Depois da Meia-Noite foi escrito por Patrick Ness junto com ideias de Siobhan Dowd, uma escritora que faleceu antes de conseguir publicar a história. O trabalho que ficaria incompleto ganhou um lindo sopro de vida sobre amadurecimento e como o câncer pode afetar um adolescente. Narrador, personagem, autor, imaginação, delírio, consciência, memória, sonho... Já dizia Stephen King: “Monstros são reais, e fantasmas também. Eles vivem dentro de nós e, às vezes, eles vencem”.

Sobre o autor – Patrick Ness é o autor best-seller da trilogia Chaos Walking. Aclamado pela crítica, já recebeu diversos prêmios como escritor de ficção para crianças, incluindo duas Medalhas Carnegie, no Reino Unido. Já foi colunista do Sunday Telegraph e hoje é crítico literário no The Guardian. Patrick nasceu na Virgínia, nos Estados Unidos, e vive em Londres.

*Ganhei este livro em um sorteio do Leitura no Vagão. Aproveite para conhecer o projeto e apoiar. Eles recebem doações de livros.

E você, já leu ou assistiu ao filme de Sete Minutos Depois da Meia-Noite? Ficou com vontade de ler o livro? 

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*Ben Oliveira é escritor, blogueiro, jornalista por formação e Asperger. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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