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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Trial By Media: Série documental da Netflix explora crimes reais, justiça e midiatização

Trial by Media (Condenados pela Mídia) é uma série documental sobre a relação entre crimes reais, justiça e como a imprensa e os meios de comunicação de massa influenciaram de forma positiva e negativa a percepção do público. A série foi produzida por várias pessoas, entre elas, o ator e produtor norte-americano George Clooney e Jeffrey Toobin, advogado e autor norte-americano do livro American Crime Story: O Povo Contra O. J. Simpson.  

Do mesmo modo que o documentário critica o poder da mídia de endeusar ou condenar uma pessoa, é importante lembrar que assim como o jornalismo não é neutro, séries documentais também acabam colocando seus pontos de vista por meio dos roteiros, entrevistados, falas e imagens selecionados, seja quando fica bem evidente ou quando a mensagem transmitida é sútil. 

Embora os casos relatados tenham acontecido há anos e a série documental não pode influenciar diretamente, como são histórias polêmicas e mais recorrentes do que imaginamos, alguns episódios parecem dar o benefício da dúvida para os criminosos e até mesmo mostrar como os vieses inconscientes e a utilização da mídia podem transformar pessoas manipuladoras em heroínas e fazer a sociedade virar as costas para as reais vítimas.

Segundo informações do IMDB, cada episódio da série foi dirigida por uma pessoa: Skye Borgman, Garrett Bradley, Yance Ford, Brian McGinn, Sierra Pettengill e Tony Yacenda. No total, são seis episódios documentais e cada um se foca em um caso diferente que gerou bastante polêmica nos Estados Unidos.

Trial by Media aborda o envolvimento e acompanhamento midiático de casos de violência, criminalidade e feridas sociais se tornava uma espécie de entretenimento para os norte-americanos, criando uma disputa crescente por audiência dos veículos de comunicação. Embora a televisão já não tenha tanta força quanto tinha há alguns anos e a internet se tornou um canal a mais para discussões e ficar por dentro do desenrolar de casos criminais, creio que da mesma maneira que algumas lições éticas foram aprendidas, com a maior velocidade da informação e lucratividade com base na atenção da audiência, novos desafios e deslizes surgiram e vão surgir nas próximas décadas. 

Não dá para negar que algumas coberturas midiáticas se tornam apelativas e sensacionalistas quando se tratam de crimes que chocaram o país, no entanto, se você gosta de séries como How To Get Away With Murder, vai perceber que por meio das entrevistas com as equipes jurídicas envolvidas em alguns dos casos, há uma tentativa de minimizar o impacto do sofrimento causado pelos criminosos, ainda que muitos deles não tenham se arrependido, e fazer o telespectador questionar se a condenação teria sido justa.

Se pudesse resumir em uma palavra cada um dos episódios seria: homofobia, racismo, xenofobia, lavagem de dinheiro, abuso sexual e corrupção. Todos temas chamam a atenção e despertam cada vez mais interesse. A premissa do documentário falha ao tentar jogar a culpa nas costas da mídia, mas nem por isso significa dizer que não haja parcela de responsabilização – assim como nos dias atuais com as mídias sociais, quantas pessoas não usam suas plataformas para expor e julgar as vítimas ou para defender criminosos conforme suas ideologias?

Não é nada agradável ver um assassino dizendo que não se arrepende de ter atirado e matado quatro pessoas por causa do racismo, tampouco ver policiais matando um inocente e sendo protegidos pelo sistema. Já sobre o caso de homofobia, o episódio não explora o suficiente o assunto e parece jogar a culpa na vítima: se não tivesse exposto sua queda, não teria sido assassinado; por mais grotesco e apelativo que fosse o programa norte-americano no estilo ‘Casos de Família’, será possível dizer que um constrangimento público justifica um homicídio? Claro que não.

O caso mais chocante, sem sombra de dúvidas, é o de uma mulher que sofreu estupro coletivo por luso-americanos. Além do caso ter aumentado o preconceito contra imigrantes portugueses, acabou dividindo a própria comunidade e ao transmitir o julgamento, as informações sobre a vítima foram expostas e, além da falta de apoio e de ser julgada pelos outros, ela teve que se mudar de cidade. Em tempos de Me Too, o caso mostra o quanto o tratamento da justiça e da mídia sobre o assunto ainda precisa melhorar e como esse sistema leva ao autossilenciamento das vítimas.

Por fim, encarnando o espírito capitalista norte-americano, o caso de fraude e lavagem cerebral revela o quanto a narrativa meritocrática e a riqueza despertam empatia e pena. Já no último caso, sobre corrupção política, mais uma vez, fica evidente como a popularidade na mídia é quase um canto da sereia.

Lançada em 2020, Trial By Media (Condenados pela Mídia) está disponível na Netflix Brasil. Ainda não há informação sobre uma segunda temporada.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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