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Destaques

Desarmando alarmes

Relaxar é muito mais fácil na teoria do que na prática. Desarmar o sistema de alarmes da ansiedade que, vez ou outra, pode apitar ainda que nada esteja acontecendo. É somente ao aceitar se soltar do peso de estar alerta o tempo inteiro que conseguia aproveitar o momento presente. Não poderia fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Era abrindo mão do controle que se permitia encarar as coisas como elas eram. O excesso de controle não faria o problema desaparecer. Pelo contrário, muitas vezes precisava de uma distância saudável para se autorregular.  O medo e a ansiedade significavam que era algo que precisava prestar atenção, mas também eram lembretes de não levar tão a sério. No final das contas, estar bem era muito mais do que não estar em crise. O excesso de ansiedade poderia dar uma falsa ilusão de que tudo estava sob controle, mas era ao abrir a mão e confiar que conseguia voltar a viver: era mais do que um diagnóstico. Ao mover a atenção, pouco a pouco ia se permitindo viver o aq...

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente. 

E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação.

Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas.

Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu cérebro. O rabisco que faria não seria o mesmo. Mesmo mundo, diferente ponto de vista: de repente, o que havia passado batido da primeira leitura, era o que havia se tornado prioritário desta vez.

Não havia como ler o mesmo livro duas vezes. Tudo era igual, tudo era diferente.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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