Pular para o conteúdo principal

Destaques

Autovalidação

Deixar o passado no passado nem sempre era fácil, mas era necessário. Contava os dias na esperança de que tudo ficasse para trás de vez. Os dias pareciam mais longos. A ausência era preenchida com autovalidação. O que parecia fazer sentido antes, agora não era o que precisava. Há pessoas que fazem mais bem do que mal quando decidem se afastar.  Há afastamentos que parecem que vão durar a vida inteira, mas também há quem tenha escolhido simplesmente ficar. Ainda que não fosse imune aos problemas. Ainda que pudesse perder o controle. Ainda que temporariamente deixasse de ser quem ele era. Seria uma questão de parar de procurar nos lugares errados? Seria uma questão de aceitar que as pessoas são diferentes e o que parece tolerável para um, para o outro era muito pesado? Seria uma questão de saber abrir mão? Muitas perguntas que não tinha as respostas. Sabia de uma coisa: quem realmente queria estar perto, conseguia isso, mesmo quando exigia uma mudança no comportamento. De todo modo, ...

A Caixa de Vidro

O dia em que a caixa de vidro descobriu que não era tão frágil como imaginava e talvez fosse preciso algo maior para danificá-la. Passada de mão em mão, se viu tremer a cada movimento, temendo que alguém fosse deixá-la cair ou trincar por conta das frustrações.

Não era tão sensível quanto imaginava. Não se deixaria levar pela ansiedade que sempre sussurrava coisas ruins ao seu ouvido. Não, no final da história, a caixa de vidro permaneceu inteira e quem sabe havia criado mais espaço para novas histórias.

O medo de se deixar quebrar havia desaparecido lentamente. Não se sentia completamente seguro, mas agora sabia que não ia quebrar tão fácil e se mergulhara em uma onda de caos, capaz de tirá-lo temporariamente a sanidade e o jogado em um mundo onde nada parecia ser o que era.

Pensou em quanto tempo havia ensaiado até o momento. O que para alguns parecia fácil, para ele parecia algo de outro mundo: fazer contato com alguém e se permitir baixar a guarda, revelando toda sua transparência incapaz de esconder. Levara três anos até aquele momento, optando pela reclusão com medo de que ninguém fosse querer alguém como ele era.

O fato de não ter quebrado na primeira vez não significava que não poderia vir a quebrar no futuro. Mas estava cansada de pensar no passado e mais exausta ainda de pensar nos medos irracionais, estava disposta a seguir em frente, na esperança de que alguém a segurasse com intensidade e cuidado, sabendo que não iria trincá-la.

Foi somente ao abrir sobre suas vulnerabilidades que entendeu que não deveria ser a única a escolher, que mesmo estando em um cenário de limitações e restrições, que não poderia fazer a escolha pelo outro e se fechar, como se nada tivesse acontecido.

Não, os dias passaram e longe de criar expectativas irreais, entendeu que talvez a caixa não fosse tão assustadora para o outro, que não precisava proteger o outro de si mesmo. Foi entre lições aprendidas que a caixa seguia firme e forte. 

Estaria mentindo se dissesse que o medo havia desaparecido, mas talvez um dia encontrasse alguém que fosse capaz de segurá-la de maneira acolhedora e soubesse que embora não tivesse controle de quando a tempestade viria, estaria ao seu lado para entender e manter a caixa de vidro grudada por uma cola que tornasse mais difícil de quebrar. 

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

Mais lidas da semana