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Destaques

Desintoxicar

Desintoxicar de algumas pessoas pode ser tão difícil quanto abrir mão de um vício, mas há casos em que é necessário. E do mesmo modo em que há uma abstinência de substância, podemos sentir profundamente a falta de alguém, mesmo que a pessoa tenha nos feito mal. Saber como encerrar um ciclo não é fácil como as pessoas imaginam. De tanto falarem sobre o assunto, há tantas frases feitas, mas é um processo que pode ser mais longo do que imaginamos. Deixar de verdade para trás nem sempre é fácil. Temos apego às memórias, à nostalgia. No entanto, é somente quando nos permitimos que abrimos espaço para novas pessoas. Então, mesmo sabendo que o cigarro faz mal, muita gente continua fumando. O mesmo acontece com relacionamentos que não estão funcionando. Saber a hora de se afastar é tão importante quanto saber quando continuar. Os dias passam e logo viram semanas. Quando você menos espera, um mês se passou. Não foi tão difícil quanto esperava, mas estava cansado de encerrar ciclos. Torcia pela ...

Página em Branco

A página em branco era um convite para escrever. Estava preparado para criar novas memórias. Entre tantas possibilidades, decidira que este ano exploraria mais seus limites e não deixaria ser controlado por inteiro pela ansiedade.

Escreveria novas histórias, deixaria de lado outras, abrindo a mão e deixando o passado escorrer pelos dedos, se focando no momento presente. Estava tão acostumado com o fantasma do passado, que havia se esquecido de como havia diversão no novo. Se a porta estava trancada, desenharia uma colorida ao lado pela qual poderia entrar.

Reencontrar o prazer nas pequenas coisas, observar quantos livros já havia lido e quantos já havia doado, assistir uma série aleatória coreana, assistir um filme de terror, escrever textos sobre memórias aleatórias, ir ao parque e observar árvores e animais, pequenas coisas que repetiria como uma velha nova tradição.

À primeira vista, sentiu uma inquietação. Estava abrindo mão do quê? Daquilo que já não lhe pertencia há anos e anos? Então, mesmo sentindo falta, entendeu que o ciclo já não era formado por duas pessoas decidindo e estava tudo bem em respeitar e deixar ir, ainda que cada fibra do coração pensasse o contrário.

Era uma decisão lógica, não uma decisão emocional. Não havia nada nas entrelinhas, não havia razão para questionar, só restava aceitar e continuar seguindo em frente. Estaria mentindo se dissesse que não torcia para o destino se divertir pelo caminho, mas estava certo de que tudo havia sido pensado, sem nenhuma impulsividade ou algo que pudesse abrir dúvidas.

As palavras são do jeito que são. Se por obra do acaso seus caminhos se cruzassem novamente, ficaria feliz. Mas não insistiria em tentar entender o que não havia para ser compreendido, tinha sido um mero capítulo manchado, rabiscado e amassado, algo que se algum dia fazia algum sentido, agora não tinha nenhuma importância e estava fadado ao esquecimento.

Tudo havia mudado. Nada havia mudado. Continuaria desejando coisas boas, pois sabia da importância que tinha. E seguiria encarando páginas em branco, deixando as histórias se libertarem e a mente ficar mais leve. 

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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