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Destaques

Âncora

Ancorar é encontrar um espaço seguro mesmo diante do caos. É ouvir uma música e se permitir encontrar paz, mesmo quando as coisas estão fora de controle. É pensar na sua pessoa favorita e sentir as emoções reguladas. É saber que você pode confiar em quem conversa o dia inteiro. É confiar que mesmo diante da ambiguidade, ele vai honrar a promessa que fizeram. É ressignificar o que antes poderia ser visto como algo preocupante e aceitar que era mais do que seus diagnósticos. Era saber que não havia melhor pessoa que o entendesse nos últimos tempos. Era brincar com as linhas e nossas indefinições. Era saber que de tanto ensaiar situações de possíveis crises, que ele saberia notar se algo estivesse diferente. Cada um dos seus sinais. Escrevia para lembrar e também para esquecer. Escrevia para lembrar dos ciclos fechados e agradecer o que estava aberto. Era entender o quanto estava sufocado e que, às vezes, um olhar certo bastava. Escrevia para aceitar que as coisas poderiam mudar. Que em u...

Página em Branco

A página em branco era um convite para escrever. Estava preparado para criar novas memórias. Entre tantas possibilidades, decidira que este ano exploraria mais seus limites e não deixaria ser controlado por inteiro pela ansiedade.

Escreveria novas histórias, deixaria de lado outras, abrindo a mão e deixando o passado escorrer pelos dedos, se focando no momento presente. Estava tão acostumado com o fantasma do passado, que havia se esquecido de como havia diversão no novo. Se a porta estava trancada, desenharia uma colorida ao lado pela qual poderia entrar.

Reencontrar o prazer nas pequenas coisas, observar quantos livros já havia lido e quantos já havia doado, assistir uma série aleatória coreana, assistir um filme de terror, escrever textos sobre memórias aleatórias, ir ao parque e observar árvores e animais, pequenas coisas que repetiria como uma velha nova tradição.

À primeira vista, sentiu uma inquietação. Estava abrindo mão do quê? Daquilo que já não lhe pertencia há anos e anos? Então, mesmo sentindo falta, entendeu que o ciclo já não era formado por duas pessoas decidindo e estava tudo bem em respeitar e deixar ir, ainda que cada fibra do coração pensasse o contrário.

Era uma decisão lógica, não uma decisão emocional. Não havia nada nas entrelinhas, não havia razão para questionar, só restava aceitar e continuar seguindo em frente. Estaria mentindo se dissesse que não torcia para o destino se divertir pelo caminho, mas estava certo de que tudo havia sido pensado, sem nenhuma impulsividade ou algo que pudesse abrir dúvidas.

As palavras são do jeito que são. Se por obra do acaso seus caminhos se cruzassem novamente, ficaria feliz. Mas não insistiria em tentar entender o que não havia para ser compreendido, tinha sido um mero capítulo manchado, rabiscado e amassado, algo que se algum dia fazia algum sentido, agora não tinha nenhuma importância e estava fadado ao esquecimento.

Tudo havia mudado. Nada havia mudado. Continuaria desejando coisas boas, pois sabia da importância que tinha. E seguiria encarando páginas em branco, deixando as histórias se libertarem e a mente ficar mais leve. 

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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