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Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

Página em Branco

A página em branco era um convite para escrever. Estava preparado para criar novas memórias. Entre tantas possibilidades, decidira que este ano exploraria mais seus limites e não deixaria ser controlado por inteiro pela ansiedade.

Escreveria novas histórias, deixaria de lado outras, abrindo a mão e deixando o passado escorrer pelos dedos, se focando no momento presente. Estava tão acostumado com o fantasma do passado, que havia se esquecido de como havia diversão no novo. Se a porta estava trancada, desenharia uma colorida ao lado pela qual poderia entrar.

Reencontrar o prazer nas pequenas coisas, observar quantos livros já havia lido e quantos já havia doado, assistir uma série aleatória coreana, assistir um filme de terror, escrever textos sobre memórias aleatórias, ir ao parque e observar árvores e animais, pequenas coisas que repetiria como uma velha nova tradição.

À primeira vista, sentiu uma inquietação. Estava abrindo mão do quê? Daquilo que já não lhe pertencia há anos e anos? Então, mesmo sentindo falta, entendeu que o ciclo já não era formado por duas pessoas decidindo e estava tudo bem em respeitar e deixar ir, ainda que cada fibra do coração pensasse o contrário.

Era uma decisão lógica, não uma decisão emocional. Não havia nada nas entrelinhas, não havia razão para questionar, só restava aceitar e continuar seguindo em frente. Estaria mentindo se dissesse que não torcia para o destino se divertir pelo caminho, mas estava certo de que tudo havia sido pensado, sem nenhuma impulsividade ou algo que pudesse abrir dúvidas.

As palavras são do jeito que são. Se por obra do acaso seus caminhos se cruzassem novamente, ficaria feliz. Mas não insistiria em tentar entender o que não havia para ser compreendido, tinha sido um mero capítulo manchado, rabiscado e amassado, algo que se algum dia fazia algum sentido, agora não tinha nenhuma importância e estava fadado ao esquecimento.

Tudo havia mudado. Nada havia mudado. Continuaria desejando coisas boas, pois sabia da importância que tinha. E seguiria encarando páginas em branco, deixando as histórias se libertarem e a mente ficar mais leve. 

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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