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Destaques

Palavras não ditas

Era uma vez um escritor que tinha tanta empatia por alguém próximo, que, muitas vezes, levava para a terapia problemas que não eram seus. Nem sempre sabia como ajudar. Não sabia como dizer não. Sempre estava disposto a ouvir. Até o dia em que se esgotou e se deu conta de que se as coisas não mudassem, ali não era seu lugar para ficar. Quando foi que precisou se diminuir tanto para caber nas expectativas do outro? O outro sequer sabia que seus posicionamentos ideológicos eram contrários e, vez ou outra, sofria com microagressões, mas se silenciava em bem da amizade – era quase como se vivesse uma vida dupla, da qual o outro desconhecia. Foi deixando um monstro crescer cada vez mais, um monstro alimentado pelo silêncio e que tanto se preocupava com o outro, que às vezes se deixava de lado. Para pessoas que estão familiarizadas com impor limites, o caso poderia ser bobeira, mas para ele, havia chegado a um estado de exaustão, no qual não queria voltar atrás. Estava exausto de ouvir proble...

Amizade Tóxica


Quando você constantemente tem que andar sobre cascas de ovos para não desagradar alguém é um dos sinais de que você pode estar em uma amizade tóxica. A pessoa te usa para constantemente fazer reclamações e contar problemas, mas nunca se enxerga como parte do que está acontecendo e fica sempre no papel de vítima.

Como um bom amigo você alertaria sobre comportamentos errados, mas quando você está preso em uma amizade tóxica, você tenta evitar o máximo desgaste possível, só para depois descobrir o peso por trás disso tudo. Para não desagradar ao outro, você começa a se diminuir e pouco a pouco, você vai se transformando em alguém que não conhece mais.

Se você não pode ser você mesmo com o outro, por que insistir em um relacionamento assim? Muitas vezes, é somente na terapia que você se dá conta de quantas coisas têm deixado de ser simplesmente para não desagradar ao outro, como ter que ocultar sua posição ideológica ou ficar no papel passivo de quem está sempre dando tapinhas nas costas, enquanto você gostaria de dizer sobre a importância da autorresponsabilidade para o outro.

Muitas vezes, é mais fácil reconhecer um relacionamento amoroso tóxico do que uma amizade tóxica. Talvez por conta da nostalgia e boas memórias, você sempre vai deixando as coisas passarem. Mesmo desconfortável, você vai aceitando papéis que não lhe cabem. Em alguns casos se pergunta, quando foi que me tornei o terapeuta dessa pessoa?

Amizades sem limites não são amizades. Todo relacionamento precisa de limites para funcionar adequadamente. Se só um dos lados está se beneficiando, talvez é hora de repensar a relação. Se você não pode ser sincero e apontar questões que o outro se recusa a se responsabilizar, então você se sente como uma líder de torcida e reforçando comportamentos problemáticos, afinal, o outro é sempre a vítima de tudo e todos.

Deixar uma amizade tóxica pode envolver impor limites, os quais você sabe que deixaria o outro desconfortável, mas é algo que a pessoa precisa lidar ou quando você chegou ao limite, muitas vezes significa simplesmente bloquear e seguir sua vida, sabendo que independente do quão bem você possa ter feito, no final, ela sairá como vítima e você, o vilão. 

Há questões que independente do seu nível de empatia e compaixão, somente quem pode ajudar é um profissional de saúde mental, mas para isto, é preciso que o outro se responsabilize. Talvez você só se dê conta de quão pesada outra pessoa é quando você finalmente corta ela da sua vida e percebe que grande parte da negatividade e de como suas emoções estavam sendo afetadas, muitas vezes nem eram por problemas seus. Chega o momento em que você precisa devolver para o outro tudo o que não faz parte da sua vida e só então você vai perceber o quão sua vida pode ser leve sem o outro.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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