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Destaques

Palavras não ditas

Era uma vez um escritor que tinha tanta empatia por alguém próximo, que, muitas vezes, levava para a terapia problemas que não eram seus. Nem sempre sabia como ajudar. Não sabia como dizer não. Sempre estava disposto a ouvir. Até o dia em que se esgotou e se deu conta de que se as coisas não mudassem, ali não era seu lugar para ficar. Quando foi que precisou se diminuir tanto para caber nas expectativas do outro? O outro sequer sabia que seus posicionamentos ideológicos eram contrários e, vez ou outra, sofria com microagressões, mas se silenciava em bem da amizade – era quase como se vivesse uma vida dupla, da qual o outro desconhecia. Foi deixando um monstro crescer cada vez mais, um monstro alimentado pelo silêncio e que tanto se preocupava com o outro, que às vezes se deixava de lado. Para pessoas que estão familiarizadas com impor limites, o caso poderia ser bobeira, mas para ele, havia chegado a um estado de exaustão, no qual não queria voltar atrás. Estava exausto de ouvir proble...

Desintoxicar

Quantos dias são necessários para limpar a mente após tanto tempo escutando reclamações e problemas? Era uma pergunta que não sabia a resposta, mas estava ansioso para descobrir. A verdade era que estava preso em um relacionamento nada saudável e só se dera conta tarde demais, quando as coisas já não tinham volta e não se arrependia disso.

A paz que vem de dentro de nós deveria ser celebrada com mais frequência. Muitas vezes, a onda de pensamentos negativos pode nos tirar o chão e cabe a cada um de nós tentar se reerguer lentamente. Muito se fala sobre a importância de ter empatia e compaixão pelo outro, mas nem tanto se fala quando seus limites são ultrapassados diariamente, até chegar a um ponto de exaustão emocional do qual você não quer voltar para o lugar anterior.

Queria se desintoxicar. Deixar tudo o que estava fora do controle sair para fora da mente, todo aquele lixo emocional produzido pelo outro que nunca se responsabilizava, sempre criava mais problemas e ainda fazia questão de compartilhar.

Uma estranha sensação de leveza tomou conta de si nos primeiros dias. Estava tão acostumado a carregar o peso do outro, que mal tinha noção de como seus dias eram preenchidos com leveza. Não sabia como havia chegado ao ponto de não retorno, tudo o que sabia era que uma vez que tomava uma decisão cumpriria à risca.

Foi, então, sentindo o próprio corpo, deixando o ar e entrar e sair e tentando colocar para fora tudo aquilo que não o servia mais. Dia após dia, torcendo para que não sobrasse na memória nenhum problema que não era seu, buscando apreciar a paz e deixar para trás o que não fazia mais propósito. 

O fim abria a porta para o novo e quem sabe algum dia encontraria um relacionamento mais saudável para preencher aquele espaço. Sem despedidas, sem palavras, foi simplesmente devolvendo ao outro o barulho que era dele e voltando a encarar o silêncio que poderia preencher com paz.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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