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Destaques

Às vezes...

Tudo o que nunca fomos. Tudo o que nunca seríamos. Tudo o que não éramos. Havia um espaço dentro de mim que não poderia ser preenchido por todas palavras que representávamos um para o outro. Ia, então, se soltando lentamente, de quem havia se soltado de forma brusca. Ia dando tempo ao tempo e espaço para as coisas voltarem ao eixo. Escrevia para lembrar, escrevia para esquecer. Esquecer o quê? Nunca tinham passado de dois personagens cujas histórias jamais se cruzariam. Sequer poderiam ser definidos como colegas ou amigos, tampouco eram amores. Eram quase alguma coisa e nesse mundo de indefinições, às vezes era melhor não saber. Perdeu a conta de quantos dias o outro havia ficado sem responder. Perdeu a conta de quanto tempo havia se passado. De quando limites foram cruzados e quando promessas foram quebradas. Escrevia para dizer que a dor também fazia parte do processo de se sentir vivo. Escrevia para nomear as emoções e encontrar clareza em um universo de indefinições. Escrevia para ...

Não carregar os problemas do outro

Não carregar o peso do outro, muitas vezes, é um ato de amor próprio. Porém, a tarefa não se torna fácil quando você se vê envolvido em um ciclo de reclamações e de vitimização, no qual o outro sempre acha que tudo e todos são culpados, mas é incapaz de perceber a própria responsabilidade.

Mesmo para pessoas empáticas, há limites que devem ser respeitados, para que a vida continue equilibrada e você saiba escutar, sem levar para si o que é do outro. No entanto, quando isso acontece constantemente, você recebe uma mensagem e já se pergunta o que o outro aprontou desta vez, você se vê preso em um ciclo tóxico, no qual de alguma forma você é visto como terapeuta ou salvador dessa pessoa, e ela se vê incapaz de tomar as próprias decisões ou perceber que seus comportamentos influenciam o que está acontecendo ao seu redor.

Ter que andar sobre cascas de ovos também se torna um péssimo sinal, você não pode ser quem você é ou dar sua verdadeira opinião sobre o assunto, sempre ficando no papel de ouvinte, animador ou quem conforta. Mas, algumas vezes, é preciso se perguntar: quem cuida de quem está cuidando? O outro também está suportando seus desconfortos ou só você tem que fica neste papel que sequer queria?

Seja de forma consciente ou subconsciente, você se vê preso por manipulações emocionais. Não importa o que aconteça, você se dá conta de um padrão repetitivo no qual o outro é sempre vítima, mesmo quando a pessoa que desesperadamente busca por empatia e validação nem sempre trata os outros desta maneira. Irônico, não?

Se de alguma forma você se sente sempre drenado pelo outro, é necessário impor limites. Mas o que acontece quando esses limites já não são suficientes? Algumas vezes, tudo o que você precisa fazer é encerrar o ciclo e seguir em frente. Você não quer escutar nenhum problema pessoal mais. Não quer escutar nenhum problema profissional. Não quer escutar nenhum problema de relacionamentos. Você simplesmente não quer escutar mais problemas do outro.

Se você chegou a este estágio, é sinal de que o outro já te esgotou e você precisa priorizar a própria saúde mental, independente dos problemas que o outro tenha. Às vezes, você precisa devolver as perguntas e os problemas, deixar claro que embora você esteja escutando, somente o outro vai poder resolver e tirar esse peso das costas.

Quando algo que deveria ser leve se torna pesado demais, você precisa se questionar até quando vai levar. Muitas vezes, você já se perguntou outras vezes e foi estabelecendo pouco a pouco limites, nos quais o outro está tão cego pelos próprios problemas e pelo próprio ego, que foi incapaz de perceber. Você já estava se despedindo aos poucos.

E é assim, honrando o próprio processo, quer você tenha decidido ficar ou ir, que você vai lentamente recuperando a energia e a paz que o outro estava drenando de você. Não é por acaso que se fala sobre a importância de escolher bem suas companhias. Ainda que o outro tenha suas próprias demandas de saúde mental, você também pode ter as suas e se você não souber se equilibrar, de tanto ajudar o coitado, o coitado se torna você. A única pessoa que pode se salvar é você mesmo, às vezes, você precisa deixar o outro a aprender por conta própria: nem sempre é uma decisão fácil, mas quando você se vê sobrecarregado, em alguns casos, é a única opção.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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