Sem talvez
Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação.
Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar.
Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante do que era tão pesado. Não era responsável por ter empatia e compaixão sempre, mesmo que isso significasse abrir mão da própria saúde mental.
Não, algumas coisas simplesmente param de funcionar. Muitas vezes, você ignorou todos sinais de que já estava na hora de deixar ir e seguir em frente. Muitas vezes, muitas pessoas já o haviam alertado e pedido para impor limites. Muitas vezes, você precisava deixar o outro com os problemas dele e simplesmente parar de se importar, pois sem autossabotagem, o outro tinha uma chance de melhorar, mas não estava mais disposto a esperar.
Os dias continuavam seguindo sem o outro. O peso já não estava mais lá. Havia voltado os olhos para a própria saúde mental, consciente de que rupturas também tinham seu preço. Estava disposto a pagar, se aquilo significava se ver livre de um relacionamento repleto de reclamações e problemas, problemas que só o outro seria capaz de resolver, não importava o quanto tentasse ajudar.
Em vez de enxergar como uma falha ou um momento de fraqueza, havia mudado a ótica para tirar o outro do pedestal e voltar a enxergá-lo como um humano com erros, mas que só ele poderia se ajudar: não havia amizade forte o suficiente capaz de lidar com questões que, muitas vezes, exigiam medicamentos, terapia e mudanças de hábitos. Sem cuidado do próprio tripé e sempre responsabilizar o outro, o outro não enxergava onde falhava e era incapaz de lidar com o próprio vazio.
Abrir mão de algo que está te fazendo mais mal do que bem não é tão difícil quanto pode parecer. Chega um momento da vida em que temos que escolher: se o outro não muda, sou eu que devo mudar. O alívio de poucas semanas sem lidar com a negatividade já estava fazendo diferença. Era uma escolha difícil, mas assim como só o outro podia se salvar, só ele podia salvar a si mesmo.
Foi recuperando as energias, foi vendo a mente livre de pensamentos que pioravam sua ansiedade, foi se reequilibrando. Do outro, não esperava mais nada. E como a psiquiatra havia alertado: tome cuidado, que existem outras pessoas assim pelo mundo. Desta vez, não se deixaria ficar preso em padrões disfuncionais nem deixaria a própria saúde mental afetar por causa do outro, simplesmente se escolheria, não em um ato de egoísmo, mas de saber que tinha seus próprios limites que mereciam ser respeitados.
De repente, que caminhos o outro iria seguir para cuidar da própria saúde mental não importava. O que importava é que ele havia decidido por um fim no ciclo e seguir vivendo, uma vida ainda repleta de imperfeições e problemas, mas definitivamente mais leve sem a bagunça emocional do outro.
*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.
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