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A Regra dos Cinco Segundos

Conseguiu ler um livro inteiro, como não fazia há um tempo. Era um assunto que despertava interesse, mas ao mesmo tempo duvidoso: sobre como as pessoas poderia mudar seus hábitos em questão de segundos.

Se a mudança de hábito fosse tão simples assim, as pessoas não passariam dias, semanas, meses e até anos tentando. Era tentador acreditar que havia uma fórmula simples, um modo de transformar a ansiedade em empolgação, mas parecia tão distante da realidade.

Livros com fórmulas prontas para mudanças de comportamento poderiam vender bem, mas será que as pessoas realmente estavam conseguindo mudar seus comportamentos? Ao longo da leitura, ia me questionando o que era válido ou não, o que era possível e o que parecia impossível, mas era somente tentando que se poderia descobrir.

O primeiro erro talvez esteja em se comparar com a autora do livro, Mel Robbins. Ao transformar uma experiência pessoal em algo coletivo, tudo parecia simples, simples até demais. Será mesmo que ao contar de cinco a um, seríamos capazes de mudar?

Seria uma questão de mera força de vontade? Seria uma questão de coragem? Ou será que poderiam ter outros elementos por trás?

Talvez esta ideia de pensamento mágico de que bastavam cinco segundos poderia servir para algumas pessoas, mas definitivamente não era algo que poderia servir a todos. Somos todos diferentes, temos nossas particularidades e vender uma ideia pronta pode parecer útil para um livro de autoajuda, porém nem sempre as coisas eram simples na vida real.

Então, o livro trazia algumas reflexões positivas e exemplos de pessoas que conseguiram adotar a regra dos cinco segundos, mas isso não significava que era algo útil para todos. Talvez cinco segundos não fossem o suficiente para mudar um hábito. Talvez fosse necessário construir pequenos hábitos diariamente, para então conseguir mudar outros hábitos.

A tentação dos livros de autoajuda é a de simplificar as coisas, mas na vida real, nada era tão simples assim. Se existiam pessoas que se beneficiaram do livro, não tinha dúvidas. Mas não necessariamente significava que era algo para todos. Afinal, existiam maneiras e maneiras de mudar os hábitos e, muitas vezes, vinha de uma construção não linear durante o processo de terapia, aceitando seus altos e baixos, para finalmente conseguir mudar. 

E os cinco segundos? O que parecia dar uma ideia de liberdade, na verdade reforçava um pensamento quase compulsivo de ter que ficar repetindo toda vez. Uma mudança que talvez maquiava outras questões. Era somente ao finalizar a leitura que se dera conta de que não era um livro para ele, e estava tudo bem, era assim que as coisas funcionavam. Uma ideia tentadora, mas um pouco fantasiosa. E existiam coisas na vida que precisavam mais do que cinco segundos para decidir.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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