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Mudando hábitos

Tem uma expressão que eu adoro, quase um mantra, a de que se nossa mente têm o poder de nos destruir, também têm o de curar. E era assim que se sentia ao tentar abandonar um velho hábito e tentando adicionar hábitos mais saudáveis à rotina. Estaria mentindo se dissesse que era fácil, mas aceitava suas tentativas e falhas, até o dia em que acertasse.

Dia após dia, hora após hora, era assim que estava vivendo, contando o tempo sem o velho hábito. Se fosse algo simples como muitos imaginam, ninguém teria o hábito, mas a notícia boa era que, sim, era possível mudar.

Então, havia encontrado conforto na caminhada que logo se tornara corrida. Era sua hora favorita do dia, quando entrava em contato com a luz do sol: uma dose diária de sol, como dizia, tanto um lembrete sobre a importância do drama coreano e de saber pedir ajuda quando precisava, como em um hábito que ajudava a proporcionar momentos de prazer.

Estaria mentindo se dissesse que não estava cansado de tentar e falhar, mas não via outra saída, além de continuar tentando. Pouco a pouco, ia inserindo outros hábitos, preenchendo o tempo e o tédio, se aproximando mais da versão que gostaria de ser.

Ninguém disse que era tão difícil cortar um hábito quando estava atrelado a outros hábitos. Era muito mais complexo do que imaginava, mas sabia que precisava continuar tentando, até que os dias difíceis se tornassem fáceis e conseguisse, de uma vez por todas, deixar o velho hábito para trás.

Aceitava suas imperfeições. Sabia o quanto precisava melhorar, o quanto algumas coisas dependiam mais do que de força de vontade, mas não estava disposto a ceder, não desta vez: como alguém que havia colocado metas do ano e via o tempo passando, se perguntando quando estaria pronto para cumpri-las.

Não havia modo fácil. O que existiam eram tentativas. E sabia que mesmo se conseguisse bater seu recorde sem o velho hábito, ele ainda o assombraria de uma forma ou outra. Porém, estava consciente de que precisava mudar: era algo que estava fazendo por si mesmo e aquilo deveria ser o suficiente.

Então, cansara de adiar. Encarava mais um dia de frente. Ia tentando se permitir sentir o prazer de outras formas mais saudáveis, como por meio da corrida e do yoga, voltando a manter vivo o hábito da leitura e escrevendo, sempre escrevendo.

Era durante a escrita que poderia organizar os pensamentos e encontrar clareza diante do caos. Era ao se permitir tentar que a magia acontecia e mesmo as pequenas vitórias eram celebradas. Poucos dias sem o velho hábito eram melhores do que nada. Ia aumentando gradativamente sua resistência e resiliência, se preparando pouco a pouco para o processo, confiante de que chegaria o dia em que o velho hábito já não tivesse qualquer poder em sua vida e não precisasse continuar contando os dias, poderia simplesmente rotular como algo que havia deixado para trás.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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