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Destaques

Âncora

Ancorar é encontrar um espaço seguro mesmo diante do caos. É ouvir uma música e se permitir encontrar paz, mesmo quando as coisas estão fora de controle. É pensar na sua pessoa favorita e sentir as emoções reguladas. É saber que você pode confiar em quem conversa o dia inteiro. É confiar que mesmo diante da ambiguidade, ele vai honrar a promessa que fizeram. É ressignificar o que antes poderia ser visto como algo preocupante e aceitar que era mais do que seus diagnósticos. Era saber que não havia melhor pessoa que o entendesse nos últimos tempos. Era brincar com as linhas e nossas indefinições. Era saber que de tanto ensaiar situações de possíveis crises, que ele saberia notar se algo estivesse diferente. Cada um dos seus sinais. Escrevia para lembrar e também para esquecer. Escrevia para lembrar dos ciclos fechados e agradecer o que estava aberto. Era entender o quanto estava sufocado e que, às vezes, um olhar certo bastava. Escrevia para aceitar que as coisas poderiam mudar. Que em u...

Resenha: Chico Mendes: Crime e Castigo – Zuenir Ventura

O livro-reportagem: "Chico Mendes: Crime e Castigo", escrito por Zuenir Ventura, surgiu de uma série de reportagens feita pelo jornalista no Acre, sobre a morte de Chico Mendes em 1989, o julgamento dos assassinos em 1990 e em outubro de 2003, onde ele revisitou os lugares e os personagens. Com estas reportagens, o jornalista ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, Prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo, entre outras premiações. Ventura conta que a idéia de transformar as reportagens em livro aconteceu quinze anos depois da morte de Chico Mendes por iniciativa de Luiz Schwarcz.

O jornalista diz em seu livro que esta série de reportagens ensinaram-no muitas coisas e que o grande segredo da profissão de jornalista é um interminável exercício de aprendizado e descoberta. "Não existe repórter pronto. Ele é um processo, uma construção, uma obra imperfeita, inacabada", justifica.

Na primeira parte do livro são mostradas reportagens relacionadas à morte de Chico Mendes.De acordo com a confissão, o seringueiro foi assassinado no dia 22 de dezembro de 1988 por Darci Alves Pereira, filho do fazendeiro Darly Alves da Silva, mandante do crime, porém dúvidas continuam em relação ao real assassino do líder seringueiro. Aos que não sabem, Mendes foi um defensor da natureza e símbolo mundial da luta pela preservação da Amazônia. A morte do militante ecológico atraiu atenção da imprensa mundial para o Acre. Após a morte do seringueiro, diversas reservas extrativistas foram criadas e espalhadas pelo Brasil.

Além do assassinato de Chico Mendes, é relatado no livro-reportagem que muitas lideranças de seringueiros foram assassinadas. O jornalista Zuenir Ventura conta que próximo à sepultura de Chico Mendes há três outros corpos de companheiros assassinados.

Ventura estava convencido de que a justiça era inviável no Acre. "As testemunhas morrem de medo, a polícia não tem condições técnicas e materiais de investigas e os promotores praticamente não existem", diz. Um exemplo desta inviabilidade aconteceu em Xapuri, cidade em que Chico Mendes viveu a vida toda, o local ficou doze anos sem juíz.

A segunda parte do livro traz os relatos da segunda e terceira visitas de Zuenir Ventura ao Acre para acompanhar o julgamento dos assassinos. Adair Longuini foi o juíz responsável por condenar os assassinos de Chico Mendes, Darci Alves Pereira e Darcy Alves da Silva. Os dois foram condenados em dezembro de 1990 a 19 anos de prisão.

Em 2003, quinze anos após a morte de Chico Mendes, Zuenir Ventura revisitou o Acre. O jornalista conta que o estado acreano melhorou bastante, tanto a capital, Rio Branco, como o munícipio de Xapuri. Novos juízes contribuiram com a melhoria do sistema judiciário da região e acreditam que a condenação dos assassinos de Chico Mendes foi um marco divisor. Apesar da violência contra os seringueiros ter melhorado, com a abertura das estradas a capital acreana passou a enfrentar a violência urbana, o narcotráfico e a prostituição.

O autor argumenta que com todas as entrevistas e conversas feitas em 2003, ele quis saber até que ponto permanecia viva a memória de Chico Mendes, quinze anos após sua morte. "Como nesse terreno só se pode trabalhar com impressões, a minha é que sua presença na vida e no imaginário dos acreanos não seria tão forte quanto é se ele estivesse vivo".

*A estudante de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, Lidyanne Alves, recomendou-me esta incrível leitura, que agora estou recomendando a vocês, leitores.

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