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Destaques

Doce Ilusão

Estaria mentindo se dissesse que mesmo após duas semanas sem fumar cigarro as coisas estariam mais fáceis. Havia momentos em que sentira uma fissura e isso quase lembrava os sentimentos inacabados que nutria por alguém do passado, sabia que era só questão de tempo até passar. Era como uma dependência: sabia que não o fazia bem, mas a química deixava o cérebro querendo mais. Decidira se afastar da fantasia e se manter firme na realidade, já havia deixado para trás uma vez, conseguiria de novo. Então, como o cigarro, odiava ficar contando os dias sem. Gostaria simplesmente que virasse algo do passado, o que não imaginava era o quanto difícil era conseguir parar de fumar cigarro. Mesmo contra a própria vontade, ia comemorando dia após dia, sabendo que bastava um deslize para ter que recomeçar tudo de novo. Mas o que o cigarro e as pessoas tinham em comum, afinal? Primeiro, que fantasiamos como eles estão nos fazendo bem, quando na verdade, muitas vezes é o contrário. Também começamos sem ...

Sobre Amores e Calças Jeans


Picture: Thinkstock
Uma frase que eu li hoje me fez pensar: "Quantos corações rasgados são necessários para se viver um verdadeiro amor?". Às vezes penso que este coração aqui está cansado e não vai mais aguentar um próximo round, mas a vida nos surpreende com doces paixões tão gostosas quanto aquelas balas artificiais baratas que derretem na sua boca. Amores que colorem a sua vida, deixam um cheiro gostoso pelo ar, possuem um gosto agridoce, te marcam, mas desaparecem quando você finalmente está começando a sentir algo.

Apesar de achar algumas histórias clichês e utópicas, acredito, que no fundo, de tanto ouvirmos elas serem contadas, imaginamos que poderiam acontecer conosco também. São romances mostrados em livros, novelas, seriados, filmes, músicas, propagandas... O amor se tornou um produto. Um produto que vende. Um objeto de consumo. Mas como a maioria dos produtos de grife, não são todas as pessoas que possuem condições de comprá-lo ou melhor possuí-lo. A sensação de possuir algo que você quer é muito boa, porém passageira quando o seu valor diminui após conseguí-lo.

Se o amor tornou-se um bem de consumo, elemento necessário para a nossa satisfação, nada mais justo do que compará-lo a roupas. Sabe aquela calça jeans que você se apaixonou de 300 reais?

Achar um jeans que combine com você nem sempre é uma tarefa fácil. Assim como o amor, chega um momento que você está pensando em desistir, mas então, aparece ela lá, e você não sabe dizer se é ela que está brilhando ou são seus próprios olhos. De todos os tipos existentes: skinny, cós alto, cintura alta, boca reta, boca larga, lavagem escura, entre outras, a modelagem daquela calça parece ter sido feita exatamente para o seu corpo. Mesmo não sendo um valor que você gostaria de pagar, você acredita que vale a pena e dá um jeito, afinal, "ela foi feita para você". Era como se aquela calça tivesse sido destinada para você.

Com o tempo, pouco ou muito, vai depender da sua sorte, todas as promessas que aquela vendedora fez de que a calça não mudaria de tamanho ou que ela não desbotaria começam a ser desfeitas. Você percebe que o tecido não se ajusta mais ao seu corpo como costumava e que o brilho e as cores também não são os mesmos que te faziam sentir tão confortável e satisfeito com ela.

O amor é como uma calça. Chega um momento da sua vida em que você precisa se afastar daquela roupa e por ter te feito tão bem por um tempo e custado tão caro, você acredita que apesar de não servir mais em você, ela ainda pode servir em outra pessoa. Se desfazer de algo que você tanto gostou não é simples, porém não é impossível e nem tão doloroso quanto você imaginou que poderia ser.

Os dias passam e você precisa de uma calça nova. Aquela que costumava ser sua favorita já não faz mais parte da sua vida, mas sempre tem alguma foto ou outra com ela para te lembrar daquela sensação boa que você costumava sentir com ela. Amor ou não, vocês se sentiam tão bem juntos. Passando na frente de algumas lojas, apesar de sentir que você realmente está precisando de uma nova peça de roupa, você não consegue encontrar alguma que encaixe tão bem quanto aquela costumava no seu corpo.

Quase desistindo, como sempre acontece quando você está à procura do amor, você passa na frente de um brechó. Ao entrar na loja, você vê uma estande com várias calças jeans com preços a partir de vinte reais. Muitas calças empilhadas, opções para todos os gostos e tamanhos. Cansado de tanto olhar, você pega qualquer calça e se dirige ao caixa.

– Trinta reais. – a vendedora diz para o rapaz que está na sua frente, todo alegre por ter achado uma calça que combina com ele.

A sua surpresa é enorme ao perceber que aquela era a sua calça e como ela tinha ficado tão barata. Antes que o rapaz pegue o troco dele, você devolve a peça para a pilha de roupas e percebe que não vale a pena pagar tão caro por algo que pode perder o seu valor, como aquele antigo pedaço de tecido desbotado que um dia te encantou, mas que também não compensa comprar algo tão barato para preencher a falta da outra. Sai da loja sem olhar para trás. Talvez não seja tão ruim assim ficar sem uma calça nova por uns tempos...

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