Pular para o conteúdo principal

Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

Engolindo sangue, vomitando palavras


Mordeu a língua naquela manhã. Desejou engoli-la para pensar duas vezes antes de dizer as palavras que sentia. O rapaz engoliu sangue misturado com ressentimento, um gosto agridoce que invadia o seu interior. Regurgitou sentimentos, mergulhou em um rio de mágoas e se afogava em tamanha decepção.

As memórias insistiam em aparecer, mesmo quando ele tentava calá-las. Não havia nada o que pudesse fazer se não aceitar e entender que alguns acontecimentos não podem ser esquecidos e entendidos, principalmente quando sua memória fotográfica era um ótimo instrumento de tortura.

Filmes passavam na cabeça dele retomando memórias que o faziam lembrar que esta não era a primeira vez que se machucava e um pressentimento dizia que não seria a última. Toda vez que ele achava que nunca mais se entregaria novamente, o sentimento era mais forte e ele acabava cedendo. Era preciso acreditar para conseguir levantar, mas sabia em quais momentos deveria permanecer deitado. De todas as vezes em que ele tinha sangrado, nessa os cortes deixados foram os mais profundos e deixariam marcas. Cicatrizes o lembravam que nem sempre poderia seguir o seu coração, mesmo sendo uma de suas verdades: “Seguir o coração mesmo quando te leve para outros caminhos”. Bastava ser honesto consigo mesmo.

Lidar diariamente com as palavras fazia com que ele desse maior atenção e respeitasse os seus significados. Aprendera a não confundir termos, definições e sentimentos, mas sabia que nem todos tinham esse dicionário em casa. As palavras giravam em sua cabeça, frases que um dia foram ditas e não faziam o mínimo sentido. Entre contradições, acertos e erros, o rapaz vomitava palavras para expurgar a dor que o estava sufocando.

Comentários

Mais lidas da semana