Pular para o conteúdo principal

Destaques

Às vezes...

Tudo o que nunca fomos. Tudo o que nunca seríamos. Tudo o que não éramos. Havia um espaço dentro de mim que não poderia ser preenchido por todas palavras que representávamos um para o outro. Ia, então, se soltando lentamente, de quem havia se soltado de forma brusca. Ia dando tempo ao tempo e espaço para as coisas voltarem ao eixo. Escrevia para lembrar, escrevia para esquecer. Esquecer o quê? Nunca tinham passado de dois personagens cujas histórias jamais se cruzariam. Sequer poderiam ser definidos como colegas ou amigos, tampouco eram amores. Eram quase alguma coisa e nesse mundo de indefinições, às vezes era melhor não saber. Perdeu a conta de quantos dias o outro havia ficado sem responder. Perdeu a conta de quanto tempo havia se passado. De quando limites foram cruzados e quando promessas foram quebradas. Escrevia para dizer que a dor também fazia parte do processo de se sentir vivo. Escrevia para nomear as emoções e encontrar clareza em um universo de indefinições. Escrevia para ...

Jogos Vorazes e a Pós-Modernidade


Ao assistir "Jogos Vorazes", filme lançado em março de 2012 e dirigido por Gary Ross, baseado no livro homônimo escrito por por Suzane Collins, uma palavra não conseguia sair da minha cabeça: pós-modernidade. A trama mostra os reflexos da globalização na sociedade, uma realidade não tão diferente da nossa.

O jogo, por exemplo, é uma espécie de espetáculo. A distração é uma forma de quebrar as resistências da população, principalmente das minorias. Outro ponto observado no jogo é o monitoramento dos participantes, que acontece em uma diferente espaço híbrido - físico e virtual, lembrando o modelo panóptico discutido pelo filósofo francês Michel Foucault. Relacionando o filme com a explicação do sociólogo polonês Zygmunt Bauman em seu livro "Globalização: As Consequências Humanas", no modelo panóptico, os supervisores, no caso aqueles que assistiam o jogo, estavam em espaços diferentes dos vigiados, os jogadores, onde o primeiro grupo não tem a visão obstruída sobre o que está acontecendo, e o segundo age sem saber o que se passa, além de se comportarem como se estivessem sob vigilância. Mais do que servir para fiscalizar as ações dos jogadores, o confinamento é um show ao vivo.

A supervalorização da estética fica evidente no filme, por exemplo, apesar de vir de uma região subdesenvolvida e ter uma vida precária, a protagonista passa por uma transformação para que os telespectadores do jogo possam gostar dela. A garota que passava fome é recebida com banquetes antes da competição começar. O "parecer" e a estética tornam-se mais importantes do que o "ser" e a ética. Roupas coloridas e extravagantes, maquiagem pesada e cabelos modernos ressaltam o narcisismo dos moradores da Capital, pólo econômico superdesenvolvido, contrastando com a miséria dos cidadãos de outros distritos, responsáveis pelo transporte de recursos naturais, minerais e produtos.

Parecido com as relações sociais nos dias de hoje, em que vivemos numa espécie de reality show onde ganha quem tem maior aceitação, no jogo os participantes são capazes de transformarem suas vidas em um espetáculo teatral, para agradarem os patrocinadores / telespectadores, utilizando-se de sentimentos artificiais e relacionamentos de aparência.

A indiferença em relação à violência e também à morte são mostradas no filme, semelhante ao que acontece nos meios de comunicação de massa da sociedade em que vivemos. Não importa o que acontece ou quantas pessoas tenham que se machucar se isto tudo der um bom show.

Ficção e realidade se interconectam na produção cinematográfica e literária que tornou-se a nova febre entre pessoas de diferentes lugares do mundo (olha a globalização novamente aí). Estaremos nós em um futuro próximo de lutarmos em Jogos Vorazes ou já nos comportamos como jogadores nos nossos cotidianos? Fica a reflexão para o leitor.

Mais lidas da semana