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Destaques

Escrita além dos benefícios

Escrevia para não ter que ficar engolindo sempre as emoções. Escrevia para processar os pensamentos e as emoções. Escrevia para entrar em contato com sua voz interior. Escrevia. Muitas vezes, era somente quando estava escrevendo que se dava conta melhor das coisas que estavam acontecendo. Escrevia, pois era humano, e sabia que deveria encarar suas fragilidades. Escrevia para encontrar momentos de paz ao longo da semana. Escrever tinha muitos benefícios, mas ainda que não tivessem, continuaria a escrever, era mais forte do que ele. Escrevia pelo prazer de escrever e também para que outros pudessem ler e se identificarem de alguma forma ou outra. O que faria sem a escrita? Não fazia ideia. Era tão parte dele quanto qualquer traço de personalidade que não conseguia mudar. Escrever se tornara parte da sua vida há tanto tempo que poderia abrir mão de outras coisas, mas não abriria da escrita. É sempre encarando a página em branco que as coisas começam a ganhar sentido. Sempre uma palavra pu...

Jogos Vorazes e a Pós-Modernidade


Ao assistir "Jogos Vorazes", filme lançado em março de 2012 e dirigido por Gary Ross, baseado no livro homônimo escrito por por Suzane Collins, uma palavra não conseguia sair da minha cabeça: pós-modernidade. A trama mostra os reflexos da globalização na sociedade, uma realidade não tão diferente da nossa.

O jogo, por exemplo, é uma espécie de espetáculo. A distração é uma forma de quebrar as resistências da população, principalmente das minorias. Outro ponto observado no jogo é o monitoramento dos participantes, que acontece em uma diferente espaço híbrido - físico e virtual, lembrando o modelo panóptico discutido pelo filósofo francês Michel Foucault. Relacionando o filme com a explicação do sociólogo polonês Zygmunt Bauman em seu livro "Globalização: As Consequências Humanas", no modelo panóptico, os supervisores, no caso aqueles que assistiam o jogo, estavam em espaços diferentes dos vigiados, os jogadores, onde o primeiro grupo não tem a visão obstruída sobre o que está acontecendo, e o segundo age sem saber o que se passa, além de se comportarem como se estivessem sob vigilância. Mais do que servir para fiscalizar as ações dos jogadores, o confinamento é um show ao vivo.

A supervalorização da estética fica evidente no filme, por exemplo, apesar de vir de uma região subdesenvolvida e ter uma vida precária, a protagonista passa por uma transformação para que os telespectadores do jogo possam gostar dela. A garota que passava fome é recebida com banquetes antes da competição começar. O "parecer" e a estética tornam-se mais importantes do que o "ser" e a ética. Roupas coloridas e extravagantes, maquiagem pesada e cabelos modernos ressaltam o narcisismo dos moradores da Capital, pólo econômico superdesenvolvido, contrastando com a miséria dos cidadãos de outros distritos, responsáveis pelo transporte de recursos naturais, minerais e produtos.

Parecido com as relações sociais nos dias de hoje, em que vivemos numa espécie de reality show onde ganha quem tem maior aceitação, no jogo os participantes são capazes de transformarem suas vidas em um espetáculo teatral, para agradarem os patrocinadores / telespectadores, utilizando-se de sentimentos artificiais e relacionamentos de aparência.

A indiferença em relação à violência e também à morte são mostradas no filme, semelhante ao que acontece nos meios de comunicação de massa da sociedade em que vivemos. Não importa o que acontece ou quantas pessoas tenham que se machucar se isto tudo der um bom show.

Ficção e realidade se interconectam na produção cinematográfica e literária que tornou-se a nova febre entre pessoas de diferentes lugares do mundo (olha a globalização novamente aí). Estaremos nós em um futuro próximo de lutarmos em Jogos Vorazes ou já nos comportamos como jogadores nos nossos cotidianos? Fica a reflexão para o leitor.

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