Pular para o conteúdo principal

Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

Filme: A Onda mostra funcionamento da autocracia

Hoje fui assistir "A Onda" (Die welle), um filme de drama alemão lançado em 2008. O filme me fez refletir sobre o poder de influência e manipulação de pessoas e comunidades e sobre a necessidade que o ser humano tem se encaixar em grupos.
Imagem do filme A Onda
Filme 'A Onda'. Crédito: Divulgação.

"A Onda" foi exibido em Campo Grande (MS), na sala Rubens Côrrea do Centro Cultural José Octávio Guizzo, às 18h30. A exibição fez parte do Cinema (d)e Horror, um projeto realizado entre uma parceria entre a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul.

Dirigido por Dennis Gansel, o filme conta a história do professor do ensino médio, Rainer Wegner, que ministra uma disciplina sobre autocracia e prepara um experimento para ensinar na prática os mecanismos do Fascismo e do poder.

A disciplina é um dos primeiros pontos trabalhados pelo professor. Como um líder ele orienta os alunos através da sua influência e também do medo. Uma identidade para o grupo chamado de "A Onda" é formada e aos poucos os membros mostram quem é que manda no colégio.

O colégio fica dividido entre aqueles que são membros do grupo e os que não são. Não bastando as regras impostas pelos membros do "A Onda" como ter que usar camiseta branca e um gesto simulando uma onda, os adolescentes começam a discriminar quem não é membro.

Além do experimento realizado com o grupo sair da sala de aula e afetar outros indivíduos do colégio, o grupo começa a espalhar suas marcas pela cidade. Mesmo sendo avisado por diversas pessoas sobre a falta de controle e necessidade de extinção da espécie de comunidade criada, o professor fica fascinado com o seu poder e sua criação, deixando o seu egocentrismo não enxergar a real gravidade da situação.

Quando o professor Rainer Wegner questionou aos alunos sobre a possibilidade de existir outra ditadura na Alemanha, mal ele podia imaginar o que havia criado. Violência, exclusão, perda da identidade individual e outros problemas mostram como essa "onda" estava arrastando pessoas e deixando sinais de destruição por onde passava.

O filme tem um final previsível e trágico, onde qualquer um poderia adivinhar que o experimento tinha ido longe demais.

Assim como o professor conseguiu provar a facilidade de se criar uma liderança autocrática, creio que o mesmo aconteceria facilmente nos tempos atuais, onde as pessoas utilizam as ferramentas digitais e compartilham informações sem nem mesmo saberem o que estão fazendo. Logo, caso uma forma de poder fosse imposta, as pessoas aceitariam sem pensar duas vezes.

Vivemos em uma época da ideologia da não-ideologia. Pensar é para poucos. Como robôs defeituosos as pessoas continuam reproduzindo o que nem mesmo entendem, e pior ainda, muitas vezes, sem saber por que fazem, como se fosse uma espécie de obrigação.

Talvez todo o problema mostrado no filme fosse possível de ser resolvido caso as pessoas pensassem mais nas próprias atitudes e em como são manipuladas. Perde-se a noção do que é certo ou errado, basta fazer o que foi dito. O mesmo acontece na vida em tempos pós-modernos, seja no ambiente digital ou no físico, nessa correria toda falta tempo e vontade para pensar. Afinal, não é mais fácil deixar "A Onda" te levar do que ir contra a maré?

Comentários

Mais lidas da semana