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Destaques

Às vezes...

Tudo o que nunca fomos. Tudo o que nunca seríamos. Tudo o que não éramos. Havia um espaço dentro de mim que não poderia ser preenchido por todas palavras que representávamos um para o outro. Ia, então, se soltando lentamente, de quem havia se soltado de forma brusca. Ia dando tempo ao tempo e espaço para as coisas voltarem ao eixo. Escrevia para lembrar, escrevia para esquecer. Esquecer o quê? Nunca tinham passado de dois personagens cujas histórias jamais se cruzariam. Sequer poderiam ser definidos como colegas ou amigos, tampouco eram amores. Eram quase alguma coisa e nesse mundo de indefinições, às vezes era melhor não saber. Perdeu a conta de quantos dias o outro havia ficado sem responder. Perdeu a conta de quanto tempo havia se passado. De quando limites foram cruzados e quando promessas foram quebradas. Escrevia para dizer que a dor também fazia parte do processo de se sentir vivo. Escrevia para nomear as emoções e encontrar clareza em um universo de indefinições. Escrevia para ...

Resenha: Tudo é Linguagem - Françoise Dolto

No livro Tudo é Linguagem, escrito pela psicanalista Françoise Dolto, especialista em crianças, a autora fala sobre a importância de falar a verdade para crianças. A autora cita o caso da época de guerra na França, na qual as mães não contavam exatamente o que tinha acontecido para os seus filhos sobre a ida de seus pais para a guerra e o que acontecia lá.

De acordo com Françoise Dolto, estas crianças privadas da verdade reagiam de diferentes formas e possuim efeitos psicossomáticos para chamar a atenção, como por exemplo,o xixi e o cocô. Ainda segundo a psicanalista, as mães das crianças também desenvolveram alguns problemas. Algumas mulheres pararam de menstruar ao saberem que os seus maridos tinham se tornado prisioneiros, uma espécie de penitência, na qual as mulheres passavam por uma regressão à pré-puberdade, para evitar que estas não engassem seus maridos. "Era este processo, totalmente inconsciente, que se desenvolvia na mulher: 'se não tenho marido, não tenho direito de menstruar', porque quando a mulher menstrua, ela é 'engravidável'" (DOLTO, 1999, p 8). A autora explica que nesta época os consultórios de psiquiatras e ginecologistas eram bastante procurados para atendimento pelas mulheres e filhos.

Os efeitos da guerra afetaram o psicológico das pessoas. Além da incontinência urinária, a psicanalista aponta a transformação das crianças em delinquentes. Nesta época de problemas, Dolto explica que a psicanálise surgiu e possibilitou o entendimento da dinâmica da afetividade e vida simbólica nas crianças. Para a psicanalista este cenário ajudou na compreensão da comunicação interpsíquica e seus efeitos. "Para uma criança, tudo é linguagem significativa, tudo o que passa à sua volta e que ela observa. Ela reflete sobre essas coisas " (DOLTO, 1999, p. 10). A autora ressalta que a criança reflete e escuta melhor quanto menos olha para a pessoa com quem está falando, ao contrário de nós, adultos, que gostamos de olhar para a pessoa com quem estamos conversando.

Para a psicanalista Françoise Dolto, é preciso usar uma linguagem verdadeira sobre o que sentimos sempre com a criança, mesmo que ela seja pequena, um bebê ainda. A importância da comunicação acontece desde o nascimento. Dolto cita o caso de uma parteira que ao nascimento do bebê conta para a mãe que ele dará trabalho. As palavras marcam os dois e induzem o comportamento da criança, que acredita nelas, pois só está viva por conta da sua salvadora ou parteira. A primeira voz que as crianças ouvem tem um valor marcante em suas vidas.

O conteúdo do livro foi transcrito, organizado e editado em1987, com base na participação de Françoise Dolto, na conferência “O Dizer e o Fazer. Tudo é linguagem. A importância das palavras ditas às crianças e diante delas”, organizada pelo Théâtre Action, Centro de criação, de pesquisa e de culturas de Grenoble.

Além do conteúdo da conferência, a psicanalista respondeu diversas perguntas de participantes do evento sobre temas como circuncisão, desenvolvimento infantil, dança e música, doenças graves, suicídio, entre outros.

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