As tão esperadas férias chegaram e com elas mais tempo para
respirar e refletir. A tendência nesta época do ano é a de se desligar um pouco
do mundo e aproveitar para descansar, mas buscando a liberdade me vi dentro de
uma prisão.
Muitas pessoas procuram na Internet uma maneira de serem
livres e não percebem como acabam ficando presas dentro de um círculo vicioso. Nas
mídias sociais, por exemplo, sentimos uma necessidade irracional de
compartilharmos tudo o que vemos, ouvimos, sentimos, pensamos e gostamos ou não.
Enquanto escrevo este texto, fico tentado a olhar o que os
amigos, colegas e seguidores estão compartilhando neste exato momento. São notícias,
artigos, músicas, vídeos, fofocas, reclamações, imagens engraçadas (ou pelo
menos que eles acham ser), entre outras.
Houve um tempo em que eu procurava na Internet um refúgio do
mundo real, porém como toda escapada, esta necessita ser temporária. Diferente
do que deveria acontecer, as pessoas estão trancadas nos seus mundinhos virtuais e
não sabem como escapar.
Nos tornamos escravos robôs e compartilhamos muitas coisas
sem nem saber o por quê. Aos poucos comecei a perceber a quantidade de informações
pessoais e às vezes, supérfluas, jogadas na rede. Em tempos de interesses, onde
vale tudo para conseguir o que se quer, abrimos as portas para pessoas manipuladoras
entrarem em nossas vidas. Sabendo tudo o que você gosta e odeia, fica fácil
para alguém tentar te impressionar com seus falsos gostos em comum, até que a
verdade apareça.
Esta semana aceitei um desconhecido no Facebook, por
exemplo, e apesar de não gostar muito de adicionar pessoas que não conheço, me
surpreendi com a maneira que minha vida ou melhor, um retalho dela, está
exposto para quem desejar ver. Após os
tradicionais cumprimentos, a conversa chegou a este ponto:
“Você estuda jornalismo, algo assim, já viajou para fora do
país, vai à academia (...) não sei se trabalha... Esperou 10 anos para sair o
jogo Diablo, come doces e tem medo de engordar...”.
Surpreso, perguntei como o usuário sabia todas essas
informações e ele me respondeu: “simplesmente está no seu Facebook”. E foi aí
que eu comecei a questionar o quanto eu queria realmente compartilhar sobre
minha vida para os outros. Todos precisam ter os seus segredos e informações
pessoais, caso contrário, não seriam suas, seriam públicas. Nós não sabemos
respeitar nossa individualidade e não gostamos quando alguém sabe de algo de
nossas vidas, se metem ou até mesmo fazem fofocas e a pergunta que eu faço é: “Até
que ponto você deu liberdade para isso?”.
Já cansei de ver pessoas contando sórdidos detalhes nas
redes sociais sobre os seus relacionamentos e depois se fazendo de vítimas
dizendo que estão fazendo fofocas e se metendo. Como diria uma amiga minha: “Cadê
a coerência?”.
Expondo suas amizades, lugares que freqüenta, problemas,
alegrias, hábitos e rotinas, além de transformar sua vida em uma espécie de
reality show, você tira todo o mistério na hora de conhecer alguém, pois
passa-se a impressão de que o outro já sabe tudo sobre você.
Cansado de tantas besteiras compartilhadas, entrei em um
processo de desintoxicação das redes sociais. A vontade de excluir cada perfil é
grande, pois nada mais são do que nossas representações e demonstram o nosso
narcisismo exacerbado. Seria estupidez fechar uma porta para a comunicação, mas
mais estúpido ainda seria continuar alimentando o meu vício.
Demorou, mas finalmente a ficha caiu. Está na hora de
priorizar mais a vida real do que a virtual. Desplugar é uma tarefa difícil
quando vivemos em um mundo híbrido, onde diferentes realidades se cruzam. Enquanto
a vida passa, alguns estão vivendo no ciberespaço e se esquecem do que
realmente importa, aquilo que nenhum bate-papo, rede social, livro, filme,
seriado ou pesquisa na internet vai te proporcionar, vivências.
Comentários
Postar um comentário
Obrigado pelo comentário. Volte sempre!