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Destaques

A última aula de yoga

Era na sala de aula do Yoga onde poderia ser ele mesmo. Estaria mentindo se dissesse que não ia sentir saudade. Já havia até mesmo sonhado com o local e a professora de Yoga conduzindo sua última aula.  Poderia voltar a praticar Yoga em casa e não seria a mesma coisa, mas era melhor do que ficar sem a prática. Via as aulas como algo tão terapêutico e complementar à terapia. Assim como na sala da psicóloga, na sala de Yoga se sentia livre para ser quem ele realmente era. Não era todo lugar que tinha o potencial de despertar o melhor lado de si mesmo e se afastar da parte indesejável, permitindo se aceitar no aqui e agora. Levaria a saudade, confiante de que a cada aula havia se deixado tocar e se transformar de alguma forma. Era só mais uma despedida, mas era uma daquelas que levaria anos para aceitar, de tão bem que fazia, diferente daqueles afastamentos que não valiam a pena sequer de pensar por mais de cinco segundos. Se despedia na certeza de que seria um até logo e com o tapeti...

Rota 66: A História da Polícia que Mata - Caco Barcellos


"Rota 66: A História da Polícia que Mata", livro-reportagem publicado em 1987 e escrito pelo jornalista Caco Barcellos é resultado de anos de investigação dos homicídios cometidos pelos Policiais Militares da Rota - Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar.

Dividido em três partes, o livro aborda na primeira parte o caso Rota 66; na segunda parte informações sobre os maiores matadores Policiais Militares da Rota e a última parte dedicada aos inocentes vítimas das ações da "polícia que mata".

O jornalista narra o caso conhecido como Rota 66, no qual três jovens foram assassinados por policiais militares sob as acusações de porte e tráfico de drogas, furto de rádios de carro, porte de armas, reação à prisão e tiroteio.

Diferente da maioria dos assassinatos cometidos pelos policiais nos quais as vítimas são pobres e não têm recursos para investigarem o caso ou pedir por respostas a ponto de tornar-se algo comum no cotidian'o e só mais um número para as estatísticas, os jovens assassinados eram de classe média e alta. Após anos de julgamento, os policiais envolvidos no caso saíram impunes.

Além de reportar o caso e as investigações com detalhes e informações com as quais seria possível comprovar as mortes desnecessárias e punir os assassinos, o jornalista Caco Barcellos foi além e investigou outras mortes. O número de homicídios cometidos pelos policiais do batalhão foram tão grandes, que o jornalista descreveu como uma guerra, e inclusive contabilizou o maior número de mortes do que em guerras e conflitos ocorridos no Brasil.

Caco Barcellos investigou um total de 3.523 vítimas, das quais 2.303 eram inocentes e somente 1.496 eram criminosos. Entre os criminosos assassinados, nem todos ofereciam um risco à sociedade a ponto de serem exterminados pela polícia militar.

Não sei dizer o que é mais assustador no incrível trabalho escrito por Caco Barcellos que demonstra as habilidades de investigação, apuração e narração do jornalista,  se são os padrões das vítimas e a maneira que os policiais agem, como matar antes de perguntar ou saber a identidade das vítimas, plantar armas e drogas, mover os corpos e evidências da cena do crime e levar os cadáveres para o hospital, para demonstrar a "tentativa de salvar a vida" ou se é a maneira que esses policiais saíram impunes de todas as acusações e voltam a se comportar como Deuses, prontos para tirarem a vida de quem aparecer nos seus caminhos, sob a justificativa de legítima defesa. Outro fato relevante e também revoltante levantado na reportagem é a exaltação e premiação interna destes policiais.

De diversas histórias chocantes contadas no livro de violência gratuita, assassinato de menores de idade e inocentes, uma delas chamou mais a minha atenção, a de um homem que ouvia todos os dias um programa policial na rádio, no qual o apresentador sempre elogiava o trabalho da Polícia Militar e da ROTA e menosprezava os "criminosos" (vítimas). O próprio homem que acreditava na importância do batalhão da polícia foi assassinado e ofendido na manhã do outro dia no seu programa de rádio favorito.

Quem vê o livro pronto não imagina o trabalho que deu para produzir esta mega reportagem. Ao longo da obra, o jornalista relata as entrevistas, análises e cruzamentos de dados realizados, como pesquisas no extinto jornal Notícias Populares, boletins de ocorrência, documentos do Instituto Médico Legal (IML) e processos de crimes dos matadores da Polícia Militar. Enquanto pouquíssimos policiais foram condenados e afastados, outros continuaram em suas funções. No decorrer do livro fica claro como esses policiais torturam e matam para satisfazerem os seus prazeres e egos.

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