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Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

Resenha: Uma Vida Interrompida – Alice Sebold


Quem nunca desejou poder saber o que aconteceria com os seus familiares, amigos e conhecidos após a sua morte? Esta é a abordagem do livro "Uma Vida Interrompida", escrito por Alice Sebold, no qual uma adolescente narra o seu assassinato e os desdobramentos do seu fim no dia-a-dia dos que continuaram vivendo.

Após a morte, a jovem Susie Salmon foi para um local onde era possível acompanhar o que estava acontecendo na Terra. Indagações e revoltas inundavam o pensamento da adolescência que questionava o por quê de ter sido assassinada e desejava que o seu assassino fosse preso.

Mesmo sendo alertada por uma de suas colegas do outro plano, Franny, uma espécie de tutora, sobre a necessidade de deixar os vivos para que eles seguissem em frente com suas vidas, Susie não está pronta para deixar sua antiga existência para trás e isto acaba afetando algumas pessoas, como o pai da menina.

Uma série de eventos acontece dentro da casa da menina após a sua partida. O irmão mais novo finalmente sabe que sua irmã está morta após questionar insistentemente; a irmã precisa conviver com a morte como se fosse um espelho de Susie, quando tudo o que é busca é tentar se controlar diante de toda aquela situação; a mãe perde a vontade de viver e passa a sentir uma vontade de se desligar do mundo, dos filhos, do marido; o pai não descansa enquanto não consegue culpar um vizinho estranho pela morte da filha e a avó começa a se fazer mais presente na casa da família.

A obsessão do pai pelo vizinho é visto pela polícia como a necessidade de culpar alguém, e o mesmo não é levado a sério, tendo se tornado motivo de incômodo e piadas na delegacia. Cansado da falta de investigação da polícia, o pai de Susie decide fazer justiça com as próprias mãos quando vê alguém com lanterna no milharal do vizinho. O homem é surpreendido por uma das ex melhores amigas da filha, Clarissa, e o namorado que agride o pai de Susie para defender a garota assustada, aumentando ainda mais a fama de louco do Sr. Salmon.

Desde a agressão do pai, a vida da família Salmon virou de cabeça para baixo. A mãe foge para outra cidade, em busca de uma vida que sempre desejou ter; o pai convive com a solidão; o irmão mais novo enfrenta o peso de uma perda que deixou marcas e a irmã da garota se torna o alicerce da família.

Anos se passaram sem respostas sobre o assassinato de Susie. Mais do que acompanhar a incapacidade de aceitar a sua morte e a necessidade que a menina sentia de retornar à vida ou se fazer presente na vida dos familiares e pessoas que conhecia, Susie Salmon percebeu que aquele acontecimento serviu para formar conexões entre os que continuavam na Terra. Depois de algum tempo, todos conseguiram se desprender do passado, mas sem se esquecerem totalmente da adolescente que tinha marcado tanto a vida dos outros sem nem mesmo perceber.

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