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Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

Resenha A Carícia Essencial - Roberto Shinyashiki


Texto: Ben Oliveira

Mais do que mudar um instante, um abraço pode mudar uma vida. Escrito pelo psiquiatra brasileiro Roberto Shinyashiki,  A Carícia Essencial - Uma Psicologia do Afeto é um livro que aborda a importância dos estímulos para o desenvolvimento do ser humano.

"Só sabemos fazer o que foi feito conosco", o psiquiatra José Ângelo Gaiarsa comenta no prefácio do livro sobre a maneira que tratamos os outros ser um reflexo de como fomos tratados. Para o psiquiatra, não há como escapar deste sistema e ou as pessoas melhoram, ou o mundo pode acabar.

Segundo Shinyashiki, a carícia não é só o toque, mas um estímulo, uma unidade de reconhecimento humano. O autor argumenta que apesar do toque físico ser considerada a carícia mais potente, ela se transforma com os passar dos anos. "Começa no nascimento com o toque físico. Depois passa para palavras, olhares, gestos e aceitação", explica o psiquiatra.

Shinyashiki ensina que os seres humanos privados de toques na infância podem apresentar um quadro de retardo mental, tornando-se fechados no próprio mundo e até mesmo tornarem-se psicóticos. "Nenhuma criança (ou adulto) aguenta a indiferença dos pais! Um beijo é melhor que um tapa. Mas, um tapa é melhor do que a indiferença", justifica o psiquiatra.

Através do livro é possível entender melhor sobre o comportamento humano e entender determinadas situações, como a de pessoas que tentam chamar a atenção tanto de forma positiva quanto negativa. Os indivíduos tentam ser os melhores ou piores em diversas áreas, tudo isto para obter a atenção necessária de seus pais e outras pessoas. Entre as formas de obter atenção pela manipulação estão a culpa, ameaça, suborno e indiferença.

Ainda de acordo com o autor, é por isto que alguns adultos se comportam como crianças. Eles trazem na memória e tentam reproduzir o que acontecia quando eram mais novos e obtinham algum reconhecimento.

Você tem fome de que? As carícias, toques e palavras são alimentos para o bem-estar das pessoas. E nos dias atuais, as pessoas valorizam cada vez mais suas necessidades por trabalho, dinheiro e objetos de consumo, e esqueceram-se de elementos fundamentais: relacionamentos e sentimentos.

Aliás, o psiquiatra Roberto Shinyashiki chama a atenção para a maneira que transformaram o amor em objeto de troca. Todas essas crenças trazidas da infância afetam a maneira que o adulto se relaciona, cometendo sempre os mesmos erros e acertos.

"As pessoas tendem a manter um padrão de carícias, dando e pedindo determinados tipos de carícias, de determinadas maneiras", este trecho escrito por Shiyashiki define a tendência do que as pessoas esperam dos outros. O autor ainda critica o comodismo e o medo de arriscar e a necessidade do outro pedir por mudanças e novas carícias, dando como exemplo um casamento em que todo ano o marido dá o mesmo presente, caindo no óbvio e perdendo a potência da sua atitude. Ao dar uma carícia inesperada, o indivíduo pode obter uma reação diferente.

O psiquiatra reforça a necessidade de ter humildade e consciência para se transformar. Roberto Shinyashiki explica que muitas das mensagens repetitivas recebidas quando criança são internalizadas moldando e limitando a personalidade da pessoa. Estas experiências nos fazem também a transformar as carícias negativas em positivas e vice-versa.

Família, trabalho, amigos e parceiros estão entre os grupos em que as pessoas buscam carícias. O autor ressalta a importância de se buscar em vários grupos, ao invés de se focar somente em, como muitas pessoas fazem em relação ao trabalho, pois quando houver algum problema neste círculo social, a pessoa pode sofrer com o desequilíbrio de carícia. Evitar as carícias negativas e se cercar de pessoas positivas também é recomendado pelo psiquiatra.

O autor faz uma analogia entre fome e a necessidade de carícia. Segundo Shinyashiki existem quatro estágios: a fome natural, o desespero por comida, a indiferença ao se acostumar e a rejeição. Essa privação faz com que o indivíduo seja insaciável de carência (a pessoa sempre quer mais), indiferente ou intocável.

Considerei a leitura do livro importante para o meu auto-conhecimento e também para aprender mais sobre as pessoas com quem convivi e convivo diariamente, como familiares, amigos, colegas e parceiros, portanto a recomendo aos interessados.

Finalizo o texto com um trecho do livro A Carícia Essencial - Uma Psicologia do Afeto que acredito ser importante: "Cada pessoa tem um certo tipo de necessidade e cada um tem seu próprio quadro de referências que é a sua maneira de ver o mundo. Estar atento a isso é valioso no contato com as pessoas, é o verdadeiro conhecimento do outro ser humano".

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