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Destaques

Para onde vão todas coisas que não dissemos?

Para onde vão todas coisas que não dissemos? Essa é uma pergunta que muitas pessoas se fazem. Algumas ficam presas dentro de nós. Outras conseguimos elaborar em um espaço seguro, como a terapia. Mas ignorar as coisas, muitas vezes pode ser pior. Fingir que as emoções não existem ou que as coisas que não aconteceram não faz elas desaparecerem. Quando um relacionamento chega ao fim, pouco importa quem se afastou de quem primeiro. Mas há quem se prende na ideia de que se afastou antes – em uma tentativa de controlar a narrativa, como se isso importasse. O fim significa que algo não estava funcionando e foi se desgastando ao longo do tempo. Nenhum fim acontece por mero acaso. Às vezes, quando somos levados ao limite, existem relações que não têm salvação – todos limites já foram cruzados e não há razão para impor limites, somente aceitar que o ciclo chegou ao fim. Isto não significa que você guarde algum rancor ou deseje mal para a pessoa, significa que você decidiu por sua saúde mental em...

O Teatro dos Relacionamentos


Texto: Ben Oliveira

Foi numa madrugada de insônia onde as palavras e pensamentos se agitaram tanto dentro do seu estômago que a única reação esperada era uma só: decidiu vomitar um texto e com ele, suas mágoas. Trancado dentro do seu quarto e irritado com os barulhos externos, ele não conseguia parar de pensar no Teatro dos Relacionamentos.

Apreciava a arte teatral, como um daqueles espectadores que sentam na cadeira e não conseguem tirar os olhos do espetáculo por sequer um minuto. Com a mão apoiada no queixo, o rapaz fazia diferentes análises sobre os personagens, o enredo, a trilha sonora e todos os outros elementos que davam vida para aquela história. Não tinha a menor aptidão para atuar. Ele gostava mesmo era de assistir.

O que ele se sentia em relação ao teatro também era aplicado em sua vida pessoal. Nunca tentou muito agradar os outros, vestindo alguma máscara que não te pertencia. Talvez alguma vez em um passado tão distante que ele já esqueceu, mas preferia lidar com a solidão a precisar ter que atuar. Não tinha vocação para fantoche. O único momento em que deixou se levar pelas manipulações como um boneco, perdeu o resto de esperança, amor próprio e vontade de viver que carregava dentro de si.

Talvez por não precisar ser alguém que ele não era, este era o preço que carregaria até o fim de sua existência, ter um número limitado de pessoas ao seu redor. Ele sempre foi contra a quantidade, preferindo amizades sinceras, a aquelas onde é interesse é expressamente nítido. Então, deitado na cama e vítima daquela invasão sonora, as palavras reagiram como anticorpos, tentando expulsar aqueles elementos estranhos do seu organismo.

As pessoas tem uma necessidade quase doentia de se comparar umas as outras. Com ele não era diferente. Visto como frágil, antissocial, solitário, o jovem não passava de uma sombra em dia nublado. Não importava o que os outros pensavam, ele buscava ser feliz com o pouco que tinha.

Era impossível não pensar nas pessoas que aparentavam ter muitos amigos, quando, na verdade, não passavam de meros colegas. A ilusão da popularidade. Pensava-se que quanto mais pessoas alguém conhecia, mais feliz esta pessoa seria. Puro engano. O objeto de sua constante comparação não passava de alguém desesperado por atenção e afeto, incapaz de enxergar a mentira que vivia. Neste momento você descobre que por trás de tanta simpatia e facilidade de fazer novos amigos esconde-se a insegurança e o medo de ficar sozinho.

Parado em frente ao espelho, ele observava os seus olhos irritados e vermelhos, o cabelo despenteado e o rosto apático. Cansado, o jovem deixou os devaneios para os sonhos e finalmente conseguiu adormecer. Era feliz com sua aparente infelicidade. Ele não precisava receber os créditos pelo seu personagem, gostava de ser como era, um brinquedo torto. Deixou o teatro para aquelas que precisavam alimentar os seus egos. O escuro e o silêncio que muitos temiam, para ele, era o paraíso.

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