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Destaques

A difícil arte de encerrar ciclos

A difícil arte de encerrar ciclos. Ciclos que já não funcionavam. Às vezes, não importa o quanto você tente, as coisas simplesmente não vão funcionar. Então, você decide que não quer para o seu próximo ano, as mesmas coisas que aguentou no ano passado e atual, você deseja mudanças. Só que falar em mudanças é fácil. Difícil é colocar em prática. Ver você se dando conta de que é capaz de coisas que antes sequer imaginaria. Deixar alguém para trás. Deixar alguém que não faz parte mais do seu presente. Deixar alguém que não faz parte dos pensamentos no futuro. Deixar alguém. Ia encerrando ciclo após ciclo, na esperança de ter um ano mais leve, sem repetições dos mesmos erros. Ia só então se dando conta de que o amanhã poderia ser mais leve quando se realmente deixava pra trás o que estava pesando e parasse de ignorar. Não, algumas coisas deveriam ser encaradas de frente.  *Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo . Autor do livro de terror  Escrita Maldita , p ublicado na Am...

Preso no Mundo dos Livros


Texto: Ben Oliveira

Naqueles últimos dias de férias ele desejou  que sua vida se resumisse em dois verbos: ler e escrever. Ao acordar, uma das primeiras coisas que fazia era segurar um livro. Ele se deliciava com cada uma das palavras, frases e parágrafos e ficava maravilhado como elas ganhavam sentido quando colocadas em uma determinada ordem.

Se a cada dia ele lesse pelo menos algumas páginas de um livro, quando chegasse a sua hora de partir, ele não teria lido todas as obras desejadas, mas teria um estímulo para continuar existindo. De página a página, capítulo a capítulo, livro a livro, ele ia de uma estória até outra.

Fechou os olhos e se imaginou dentro de um dos livros que estava lendo. Era uma obra sobre diversos escritores e os seus processos criativos. Apesar de ser uma obra técnica, ele não conseguia deixar de imaginar como cada um daquelas famosos autores viviam, com seus costumes e excentricidades.

Em seguida, o jovem foi tentar escrever as páginas de um romance. Depois de experimentar uma viagem pelas memórias de diversos escritores, estava na hora dele visitar o seu próprio palácio das emoções. Tentou associar características suas e dos seus amigos para dar a vida a um personagem. Fisicamente os dois não tinham nada em comum, mas compartilhavam uma mesma essência, até o dia em que a protagonista se desenvolveu tanto e conquistou sua autonomia.

O jovem foi responsável por imaginar cada detalhe daquela estória, onde ficção imitava realidade e a vida imitava a arte. De olhos abertos, ele transitava entre dois mundos paralelos. Era só uma narrativa, porém poderia acontecer com qualquer um e quem sabe não era o que ele desejava em seu subconsciente para si mesmo.

Os pensamentos congelaram. Ele chegou em uma parte do livro, na qual nada do que já tivesse imaginado ajudava muito. Encarou a tela em branco do computador. O bloqueio veio de maneira esperada, com força e velocidade, como um acidente de carro.

Era como desligar a televisão e continuar ouvindo as vozes e os sons saídos dela. Ele tentou pensar em algo, queria se ver livre daquele ciclo, mas não conseguiu. O seu corpo estava no seu quarto, no carro, na academia, em qualquer lugar presente em sua rotina, todavia a mente estava aprisionada em outro mundo, criado por ele mesmo, e do qual ele não sabia como escapar.

A sensação não era das mais agradáveis como a de ler um bom livro e deseja ser aquele protagonista, naquela cidade e situação. Não, o escritor repetiu aquelas últimas imagens criadas em sua cabeça até ele saber como dar continuidade para sua estória.

Quando ele lia, se sentia confortável, pois mesmo sem saber o destino de sua viagem, estaria seguro, com todas as direções escritas – começo, meio e fim. Tal como na vida, não era tão fácil saber o que aconteceria em sua estória. Tantas opções, caminhos a seguir, questões sem respostas.

Decidiu fazer o que os outros escritores fariam – se desligar até estar pronto para prosseguir. Retomaria o controle e deixaria o trabalho de viver todas aquelas emoções para quem estivesse lendo sua obra. Seria inútil sofrer por algo pelo qual ele não tinha controle, tal qual o seu futuro. Fez uma escolha: o meio seria o início, o fim o meio e o início o final, logo não teria que se preocupar com os esqueletos deixados dentro daquela caixa escura. O fruto proibido de sua imaginação era mais do que fantasia, era uma parte de sua alma traumatizada, louca pela vingança e desesperada para contar sua história.

Nos textos dele, tudo era tão real quanto os sonhos e lembranças. Já não era mais problema dele quem se perderia naqueles labirintos, contanto que ele soubesse onde estava a chave para abrir a grande porta de ferro, o levando de volta para o mundo real quando desejasse. Algumas experiências eram fortes demais para serem simplesmente esquecidas.

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