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Destaques

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente.  E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação. Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas. Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu céreb

A Fuga da Estética Homossexual - Julio Mesquita

O homossexual, (o personagem dessa história), nada mais é que o estereotipo de uma analogia psiquiátrica do século 20. Um autor brasileiro chamado Lúcio Cardoso (1913-1968) tratou a homossexualidade como um doloroso atestado de incompreensão.

“Médicos, professores do futuro; exponho-me nu aos vossos olhos de certeza”, escreveu ele, sintetizando sua posição de rejeitado. Crítico e autodestrutivo, Cardoso via na trajetória desses profissionais, o sarcasmo com a causa alheia e o pouco caso com as deficiências didáticas em se falar do tão emblemático assunto.

Com sua observação pessoal de quem sofria na própria pele, Cardoso se esforçou para exprimir uma explicação “simplória” para sua homossexualidade, da qual nunca afastou seus ideais religiosos.

Menos dogmático que Cardoso, o furioso Oscar Wilde (1854-1900) lustrou sua vida sexual com o verniz do desafio, do vício e da decadência. Ao descrever quão efêmera é a beleza, um relato como (O retrato de Dorian Gray), reafirma um vínculo entre a homossexualidade e o “Metro-sexualismo”, seja ele nobre ou doentio. O amor homossexual, nesse caso, não passaria de uma afetação, como o esnobismo e o pedantismo. – que estão sempre presentes nos escritos do intelectual inglês.

Em carta ao amigo Robert Ross, escrita dois anos antes de sua morte, o intelectual inglês se arrepende dessa posição. Mas, em vez de procurar progredir com suas batalhas internas rumo à aceitação de si, fez recuar abruptamente. Escreveu: “Eu teria alterado a minha vida se admitisse que o amor uranista era ignóbil”. De fato, o intelectual não havia chegado a uma conclusão de si.

Eu, como um leitor voraz que sou, li muitos autores e escritores que, bem e mal diziam, a homossexualidades em seus escritos. O intelectual francês Marcel Proust (1871-1922), autor de uma escrita poderosa, farta, complexa e de altíssima competência, via as práticas homossexuais como uma espécie de maldição. Algo que, de alguma forma, se ligava às asmas que, desde cedo, o infernizou. Em uma versão, Proust fez da homossexualidade uma versão mundana da elevação espiritual, que ele encenou com sua vida reclusa.

Eu, como pensador, julgo o amor (seja ele qual for) como, antes de tudo, uma manifestação da natureza puramente humana. Portanto, o amor entre iguais, seja ele em baixa ou alta dosagem, sempre será um ato que provem dos mais puros dos sentimentos que temos uns pelos outros.

Assim como a homossexualidade não existe – o homossexual virou um personagem para reverberações psiquipatológica, a fim de alimentar os consultórios de mercenários pseudo-curadores da anomalia social. Politizada pela contracultura, essa manifestação tornou-se não só marginal, mas contestadora. Por conta disso, é que sua força tomou proporção de violência, tom político e de representação. E diante de caminhos ainda bastantes longos à percorrer, esperamos respectivos avanços dos quais certamente ouviremos falar.

Julio Mesquita é publicitário e escritor. Atualmente é colunista da Revista Momento Inesquecível – uma revista brasileira sobre o Casamento Gay . Para saber mais informações sobre o autor, visite o site dele: www.juliomesquitaescritor.com. E-mail para contato: mesquita.julio@uol.com.br.

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