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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Resenha Rádio Comunitária: uma estratégia para o desenvolvimento local

Texto: Ben Oliveira

Rádio Comunitária: uma estratégia para o desenvolvimento local é o nome do livro escrito pela professora e Coordenadora do Curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Claudia Mara Stapani Ruas, em 2004, pela editora UCDB. Na obra, a autora analisa as emissoras comunitárias de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, abordando como elas podem ser usadas para melhorar a vida das comunidades.

Foram analisadas duas emissoras comunitárias, as rádios Nova Maracanã e Metropoly, situadas antigamente em bairros distintos da cidade, sendo uma instalada no bairro Guanandi e outra no José Abrão. O trabalho surgiu da relação entre comunicação e desenvolvimento local. A pesquisa identificou os programas veiculados nas emissoras, suas influências e como os veículos comunitários ajudaram a transformar a realidade social dos moradores da região. Em um mundo onde as pessoas reclamam cada vez mais dos meios de comunicação de massa, por exemplo, acredito que a ideia proposta por Claudia Ruas seria uma ótima oportunidade das comunidades transmitirem informações relevantes para os seus membros, mostrando uma realidade que é pouco mostrada no dia-a-dia pelos veículos comerciais de comunicação.

Segundo a autora do livro, tanto a radiodifusão comunitária quanto o desenvolvimento local são temas novos, atuais e polêmicos. Entre os fatores que reforçam a importância deste meio de comunicação para o desenvolvimento local estão o baixo custo, a alta penetração, a mobilidade, a oralidade e outros que demonstram o amplo alcance e fácil utilização do rádio. Apesar de a internet possibilitar a difusão de informações com agilidade, esta ferramenta ainda não é tão acessível quanto o rádio, demonstrando como o veículo comunitário continua sendo uma boa opção para ajudar a atender os anseios da comunidade, abordar assuntos locais e contribuir com o desenvolvimento.

No livro, Claudia Ruas conta as dificuldades encontradas para realizar a pesquisa, como a não colaboração de algumas emissoras comunitárias em participar e o atraso do desenvolvimento do trabalho, por causa do medo justificado das rádios terem os seus equipamentos apreendidos. As duas rádios comunitárias pesquisadas foram lacradas pela ANATEL.

Por meio da pesquisa, a autora conseguiu penetrar na comunidade e verificar a influência da programação no cotidiano dos moradores, traçando os perfis dos ouvintes das rádios comunitárias e das Associações Comunitárias. Observando os comportamentos, como a idade, sexo, escolaridade, salário, entre outros fatores, ajudou a assegurar como estes veículos alternativos de comunicação podem e devem ser usados para ajudar a mudar esta realidade, trazendo melhorias na qualidade de vida dos moradores de uma comunidade e incentivando a participação ativa na cidadania.

Após apresentar os conceitos de desenvolvimento local, comunicação e radiodifusão comunitária, abordar a história da radiodifusão convencional e comunitária de Mato Grosso do Sul e analisar os perfis dos bairros onde existiam as emissoras, Claudia Ruas concluiu que se usadas corretamente, as rádios comunitárias podem sim contribuir para o desenvolvimento local. Todos os referencias utilizados pela autora mostram que o trabalho foi bem fundamentado, aprofundando nos assuntos abordados e permitindo a reflexão do leitor. O livro não só informa, como possibilita a educação e viabilização de projetos comunitários, caso haja o interesse.

Claudia Ruas utilizou como referência bibliográfica diversos pesquisadores sobre o desenvolvimento local, afirmando que o termo não está relacionado somente ao acúmulo de capital, como era avaliado antigamente, mas também à satisfação das necessidades básicas do homem e qualidade de vida, aliando o social ao econômico. Quanto mais desenvolvida uma sociedade, mais autonomia para melhorar as atividades de seu interesse. A valorização do desenvolvimento local se deu após as transformações da globalização. É importante perceber esta mudança de prioridades na vida das pessoas e como ela ainda precisa ser trabalhada para que todos possam desfrutar de uma existência qualitativa. Como bem recorda a autora no livro, com o desenvolvimento local a própria comunidade busca meios para administrar e melhorar as vidas de seus moradores, através da participação ativa.

A comunicação é conceituada e a autora comenta sua importância, acreditando que é preciso se apropriar desta área e entendê-la, para poder usá-la na luta pelo desenvolvimento local. Além de informar, o livro ressalta como a comunicação ajuda na socialização, contribuindo para formas atores sociais. Influenciar, interagir e cooperar são algumas das ações proporcionadas pelo ato de comunicar. Claudia Ruas justifica que não existe sociedade sem comunicação e vice-versa, demonstrando o seu papel na formação da cultura, personalidade, opinião pública e enfrentamento de crises. Logo, não bastaria desenvolver as outras áreas e esquecer a comunicação.

Portanto, a pesquisadora assegura a necessidade de usar a comunicação para ajudar comunidade a desenvolverem fatores como a saúde, educação, lazer e outras áreas que possam fortalecer os direitos do cidadão e contribuir para que eles possam colher os seus benefícios em nível local. Pelo que pude perceber através da leitura, mais do que criar empregos e oportunidades, por exemplo, através do desenvolvimento local os moradores devem usufruir destes benefícios, caso contrário a comunidade não terá suas melhorias atendidas.

Depois de falar sobre a relação entre o crescimento dos meios de comunicação e o desenvolvimento da sociedade, a autora utiliza o ponto de vista de Francisco Antonio Pereira Lobo, no qual ele declara que a mídia empresarial não oferece uma programação diversificada e centrada aos interesses das comunidades, se preocupando somente com o lucro. Não é nenhuma novidade que para uma empresa sobreviver, elas precisam ganhar mais do que gastam. No entanto, para mim, o ideal seria aliar o desenvolvimento próprio ao dos cidadãos, produzindo conteúdos transformadores, educativos, levando conhecimento para quem precisa, não somente às classes elitistas. Entreter pode ajudar a esquecer os problemas do cotidiano e as publicidades podem ajudar os veículos de comunicação a lucrarem, porém é necessário ajudar o ouvinte em um processo de mão dupla. Ainda segundo o autor, mais do que falar, as rádios deveriam ouvir seus ouvintes. Não poderia concordar mais com a colocação de Francisco Lobo, pois não é exatamente disto o que se trata a comunicação?

Segundo Lauricio Neumann, autor citado por Claudia Ruas no livro, as rádios comunitárias são veículos feitos pela comunidade e para a comunidade. “Têm a função de informar e de resgatar o verdadeiro espírito comunitário de solidariedade, ajuda mútua, organização, participação e luta por objetivos comuns”, define Neumann. Estes conceitos ajudam quem está lendo e as próprias associações comunitárias a aprenderem sobre a importância dos veículos comunitários, entendo que não basta estar presente em uma localidade para cumprirem o seu papel.

Claudia Ruas argumenta que a rádio comunitária surgiu como uma alternativa ao modelo resistente de comunicação de massa. As rádios, segundo o livro, ajudam na troca de ideias, notícias e conhecimentos, ajudando a aproximar os bairros (suas realidades) e a cidade, promovendo melhorias e suprindo necessidades dos cidadãos. Todavia, mesmo com tantos benefícios que poderiam trazer à população, as rádios comunitárias foram consideradas piratas e ilegais quando surgiram, seus diferencias estavam na identidade da própria comunidade.

Em 1998, a radiodifusão comunitária foi reconhecida e legitimada pelas autoridades, precisando de autorização para funcionar. As emissoras que não fossem autorizadas, poderiam ser lacradas pela ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações, sendo consideradas clandestinas, podendo causar interferências na comunicação entre aviões, aeroportos, polícia, bombeiro e outros serviços.

“A rádio comunitária é um tipo especial de emissora de alcance limitado. Deve operar com potência de transmissão de até 25 watts a partir de sua antena transmissora”, define Claudia Ruas. Estas informações fornecidas pela autora auxiliam no entendimento de um dos diferencias da radiodifusão comunitária, a sua baixa potência de transmissão em relação aos outros veículos transmissores.

Com as pesquisas realizadas pela autora, foi possível descobrir que antes de serem fechadas, as rádios Nova Maracanã e Metropoly não souberam usar todo o seu potencial para melhorar suas comunidades. Por exemplo, as associações comunitárias se esqueciam de interagir com os moradores, se esquecendo das opiniões e sugestões e se restringindo, muitas vezes, no pedido de músicas e alguns serviços. Os locutores não tinham conhecimentos técnicos e também não se utilizavam do jornalismo para ajudar no desenvolvimento local, vendo na rádio comunitária algo limitado à região e não aproveitando para promover a cidadania. Enquanto uma das rádios não tinha uma programação definida diária, dependendo da disponibilidade dos seus locutores e reproduzia diversas músicas, a outra transmitia em quase todos os horários programas evangélicos e músicas da igreja. No meu ponto de vista, este livro poderia servir como um guia para auxiliar novas rádios comunitárias e se o mesmo existisse na época de surgimento das emissoras pesquisadas, além de evitar o fechamento dos veículos também serviria para ensinar as comunidades a levantarem suas vozes, não somente para pedidos musicais ou programas religiosos, mas para reforçar suas culturas regionais, oferecer oportunidades de emprego e educação e formar cidadãos atuantes.

Concluindo, quando bem utilizadas estas rádios comunitárias podem contribuir para o desenvolvimento de uma comunidade, no entanto é preciso levar em conta vários fatores para darem certo, caso contrário a emissora se comportará pior do que uma rádio comercial, sem levar em conta o que a população realmente precisa. Uma boa rádio não se preocupa somente com o entretenimento e músicas, mas também ajuda na difusão de informações, cultura e conhecimento que possam melhorar a qualidade de vida de uma comunidade. É preciso mais do que equipamentos para se montar uma rádio comunitária, não podendo se esquecer de outras características citadas por Claudia Ruas, como o horário de funcionamento, equipe, organização, planejamento, edição, acervo, jornalismo, criatividade e localização.

Aos interessados na leitura, o livro está disponível na Biblioteca Padre Félix Zavattaro da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), em Campo Grande (MS). A dissertação que originou o livro pode ser encontrada no site da instituição: A Rádio Comunitária como Fator de Desenvolvimento Local

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