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Destaques

Terminar de processar as emoções

Processar as emoções era muito mais importante do que fingir que algo não aconteceu. Era reconhecer os próprios erros e acertos e se permitir sentir as coisas boas e ruins. Era tentador fingir que nada aconteceu. Mas também era imaturo, também era um sinal de que havia se desconectado do real e emoções não processadas voltariam de um jeito mais cedo ou mais tarde. Foi reconhecendo os dias bons, mas acima de tudo, sentindo os ruins. Foi deixando tudo para trás, consciente de que não havia mais nada para revisitar, não havia pontas soltas. Então, de tanto sentir tristeza, dúvida e medo, havia sentido intensamente as emoções de forma que elas já não cabiam mais dentro de si. Ia se despedindo das emoções negativas, das emoções positivas, e abrindo as portas para novas emoções chegarem. Tudo o que sabia era que ficar em negação não era a resposta que buscava. Os dias pareciam que nunca iam chegar ao fim, mas finalmente se sentia livre do fantasma do outro.

A Jornada da Formiga

Eu estou tomando banho. Meu cabelo está cheio de xampu, minha mente repleta de pensamentos, demônios e expectativas. Deixo a água tirar a espuma e quando abro os olhos sou levado para outra dimensão. Torno-me um mero narrador-coadjuvante. Sou dissolvido. Observo a jornada da formiga.

A formiga carregava uma perna de aranha. Enquanto formigas subiam e desciam pelos azulejos do banheiro, a formiga continuava andando em círculos, como se estivesse tentando se equilibrar.

– O que você está fazendo? – perguntou uma formiga.

– Não te parece óbvio? Eu estou carregando este troféu.

– Troféu? – disse outra formiga que escutava a conversa e logo desapareceu.

– Sim. O meu sonho é levar este troféu para minha casa. – a formiga respondeu para uma formiga aleatória que deu um olhar de quem não entendia nada.

Passou um tempo, ainda sem ter andado o suficiente, um grupo de formigas passou pela formiga. Elas pararam, conversaram sem entender o que a formiga estava fazendo, enquanto a criatura dava a mesma resposta. Não importava quantas vezes a formiga tentasse explicar seus objetivos, os outros nunca pareciam entender.

– Você quer ajuda? – perguntou uma das formigas.

– Vamos indo. Deixa ela com os sonhos dela. – respondeu a outra formiga.

– Sabe, você chegaria mais rápido em casa se não estivesse carregando o seu “troféu”. – debochou uma terceira formiga.

A formiga pensou se valia a pena responder. Ela estava carregando o troféu sozinha desde o começo. Não precisava de ninguém lhe dizendo que seus objetivos eram estúpidos e seus sonhos nunca se realizariam. Ela nunca havia pedido ajuda. Não sabia nem mesmo porque perdia o seu tempo dando explicações sobre o que estava fazendo. Era o objetiva dela, o sonho dela, ninguém sentiria o que ela estava sentindo.

Aprendeu que chegaria mais perto do destino final se não perdesse o tempo tentando explicar às outras formigas o que elas nunca entenderiam. Era algo dela e só dela. Não negaria ajuda, desde que fosse sem segundas intenções. Não se chatearia com quem tentasse diminui-la ou das formigas que rissem do seu sonho. Não mendigaria ajuda.

A jornada da formiga consistia em não ser antissocial com as outras formigas ao seu redor, mas em saber que a solidão e o silêncio seriam seus melhores companheiros de viagem. Contanto que ela buscasse viver em equilíbrio, o seu corpo, mente e alma seriam seus melhores aliados, melhores até mesmo do que um exército de formigas que nunca entenderiam a intensidade do que a formiga sentia e de como realizar o seu sonho era importante para ela.

O silêncio já não a incomodava. A solidão lhe sorria. A formiga carregou a perna da aranha, deixando o orgulho de lado e sabendo que ainda não era hora de comemorar. Havia um objeto no caminho. Ninguém sabia por onde a pobre formiga passaria. Ela que já estava na metade da jornada. Será que a formiga deveria voltar atrás?

Voltei do meu transe. Desejava ajudar a formiga de alguma forma. Não entendi porque nenhuma das outras formigas a auxiliaram naquele momento. E, então, a formiga juntou sua coragem e provou mais uma vez que para quem tem um sonho nenhum obstáculo é suficiente para pará-la, não importa se a jornada é solitária ou não. Aliás, ela preferia ficar sozinha, sem precisar gastar suas energias ao longo do caminho contando de novo e de novo sua história para alguém que não entenderia, a ter que abrir mão do seu próprio sonho.

A formiga entrou debaixo do objeto e procurou abrigo. Foi aí que eu entendi quando dizem que a melhor maneira de aprendermos sobre a vida é observando a natureza. Entendi que desde que eu mantenha meus objetivos em mente e lute pelos meus sonhos, não importa se eu estou sozinho nesta jornada. Afinal, sou o único que vai sofrer com cada derrota e vibrar por cada vitória. Aprendi que é preciso saber quais batalhas valem a pena serem lutadas e quando eu necessito guardar minhas energias. Se houver ajuda é um bônus bem-vindo. Se não houver, não preciso desistir da minha jornada. Posso desacelerar, mas sempre seguir em frente. Meu corpo, minha mente e minha alma são os meus aliados e eles estarão ao meu lado, não importa o quanto pareça improvável minha missão. Eles tornam possível o impossível.

*Ben Oliveira

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