Neste dia 21 de maio, foi noite da primeira sessão do espetáculo
Entre Nós – Uma Comédia sobre a Diversidade, em
Campo Grande (MS), além de ter sido a primeira vez em que a peça foi apresentada na capital sul-mato-grossense. No
Teatro Aracy Balabian, uma fila aguardava o horário de início da apresentação.
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Amor, homofobia, humor e diversidade sexual no espetáculo Entre Nós. Foto: Sora Maia / Divulgação. |
O teatro estava cheio. Noite de espetáculo gratuito nem sempre atrai muitos espectadores na cidade, mas o tema da apresentação despertou o interesse por causa do tema abordado –
Diversidade Sexual – e por fazer parte da programação do
Festival do Teatro Brasileiro – Cena Baiana.
A comédia com texto, direção, iluminação e figurino de
João Sanches tem como elenco os atores
Igor Epifânio e
Anderson Dy Souza que interpretam os protagonistas Rodrigo e Fabinho, dois jovens gays. Atores e personagens se fundem e abordam a diversidade não só na orientação sexual dos protagonistas, mas em suas habilidades de atuação. Igor e Anderson interpretam todos os personagens, masculinos e femininos, gays e heterossexuais. Não esquecendo da presença, é claro, do músico
Leonardo Bittencourt, que fez a trilha sonora ao vivo, proporcionando momentos de humor e romantismo, ajudando a criar tensão e aliviá-la.
Para quem é gay, o enredo de Entre Nós é familiar. Os diferentes personagens, além dos protagonistas, como o pai de um, a mãe do outro, a menina apaixonada, o rapaz homofóbico, deixam de ser meros estereótipos e podem ser identificados na vida real. Independente de o espetáculo ser uma comédia e arrancar muitas risadas e aplausos da plateia, é triste perceber que um beijo gay ainda causa desconforto no público.
Através de uma interação com o público e intertextual, os atores brincam com a possibilidade da comédia, que deveria ser uma história de amor entre dois jovens gays, terminar sem o beijo – sendo um a favor e o outro brincando com receio. Duas coisas ressoaram ao longo do espetáculo, a frase “então, você não é gay”, dita por diversos personagens sempre que o protagonista contava que ainda não tinha se envolvido com o outro rapaz, apesar de estar apaixonado e o beijo que demorou para acontecer, por questões óbvias, fazia parte do espetáculo.
Quando chegou o momento do beijo, os atores surpreenderam a plateia. Causando estranhamento ou não, não se pode abordar a diversidade sexual, sem mostrar as coisas como elas realmente são. Se o público – gay ou heterossexual – esperava um beijo digno de novela da Globo, tão chocho que não emociona ou um simples selinho, os atores surpreenderam e arrancaram gritos, risadas e aplausos, com um beijo longo, no entanto ainda era possível ver o preconceito velado, pessoas próximas de onde eu estava dizendo “chega de beijar”, “que nojo” ou “que merda”, além da expressão chocada dos mais velhos.
O texto é engraçado e aborda bem os conflitos e humor, não só do comportamento dos jovens gays na fase da descoberta da própria homossexualidade, mas das outras pessoas ao seu redor. Os atores são encantadores, mostrando que dominam muito bem a arte de atuar, através da fala, da linguagem corporal e da habilidade de alterar personagens em questão de segundos, além de interpretarem o mesmo papel com suas nuances quando necessário. A boa iluminação e trilha sonora ajudaram no contraste entre as diferentes personalidades interpretadas e a orientar as emoções do espectador, ao fazê-lo sentir vontade de rir, nostalgia ou impressionar.
Valeu a pena assistir, rir e refletir sobre as questões levantadas sobre a
diversidade sexual e
homofobia. Espero que não só o público gay tenha se identificado e se divertido, mas que o preconceito existente entre os heterossexuais contra homossexuais diminua com espetáculos assim, que mesmo com humor, abordam assuntos sérios. A cultura e o teatro podem ir além do entretenimento e das emoções e provocar inquietações e reflexões. Que mais peças como Entre Nós sejam produzidas e apresentadas pelo Brasil, não só nas grandes capitais, também nas cidades do interior. Afinal, a homofobia mata diariamente e não escolhe cor, classe social, gênero ou idade e sim, existem diversas formas de preconceitos dentro do próprio universo LGBT, mas o público que precisa ser sensibilizado, violenta e assassina homossexuais, em sua maioria, ainda é o de heterossexuais homofóbicos. Levar com humor e leveza o assunto, também pode criar uma identificação em jovens com problemas parecidos e muitas vezes, se sentem solitários, incompreendidos e acabam cometendo suicídio.
Sobre o espetáculo – Entre Nós foi vencedor em três categorias do Prêmio Braskem de Teatro 2012 (Melhor Espetáculo, Melhor Ator – Igor Epifânio – e Melhor Texto).
Ficha técnica – Texto, direção, figurino e iluminação: João Sanches; Elenco: Igor Epifânio e Anderson Dy Souza; Trilha sonora ao vivo: Leonardo Bittencourt; Produção: Patrícia Rammos (Da Preta Produções); Assistente de Produção: Simone Braz; Foto divulgação: Sora Maia / Andrea Machado.
Sobre o Festival do Teatro Brasileiro – Atualmente, em sua 16ª edição, este ano, as localidades envolvidas são o Acre, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e São Paulo. O FTB – Cena Baiana busca agregar valor à programação, com espetáculos, ciclo de dramaturgos, oficinas para os profissionais da área, programas educativos e encontros dos grupos de artistas locais com seus colegas baianos.
Em Campo Grande (MS), o Festival do Teatro Brasileiro acontece desde o dia 1 de maio até o 25 de maio de 2014. A programação está disponível no
site oficial da XVI edição do Festival do Teatro Brasileiro – Cena Baiana
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