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Fora de Sincronia

Conectados, mas fora de sincronia. Era como os dois estavam. Não sabia como resolver a situação, antes que se tornassem dois completos estranhos. No meio de tantos ciclos terminando, tinha acreditado que um novo ciclo se manteria.  As horas que passavam conversando se transformaram em minutos, e então, em segundos. Já sabia que isso ia acontecer e tentara antecipar o fim várias vezes, então por que estava tão incomodado? Sentia saudades e não sabia como verbalizar? Não importava. Foi deixando o outro cada vez mais livre, até que as mãos que um dia tinham se tocado se voltaram para os dedos que haviam deslizado pela última vez. Parte de seguir em frente era também como deixar as coisas irem, seguirem seu ciclo natural. Não adiantava criar qualquer forma artificial de manter o contato vivo, só precisava aceitar as coisas como elas eram. Cansado de aceitar que tudo tinha sua finitude, foi cada vez menos se abrindo a novos inícios – se todos estavam fadados ao fim, por que se dar ao tr...

Resenha: O Cidadão de Papel – Gilberto Dimenstein

O Cidadão de Papel: A infância, a adolescência e os Direitos Humanos no Brasil, do jornalista Gilberto Dimenstein foi ganhador do Prêmio Jabuti 1994, Melhor livro de Não-Ficção, publicado pela Editora Ática. O livro surgiu da iniciativa do autor para abordar em sala de aula e discutir assuntos de uma linguagem de fácil entendimento para os jovens sobre assuntos sérios.

Quando li O Cidadão de Papel eu era adolescente. Recentemente encontrei o livro na biblioteca do meu pai e decidi relê-lo. Apesar de algumas informações estarem desatualizadas, afinal, a minha edição é a de 2002, e muitas coisas mudam em 12 anos, as discussões e reflexões permanecem atuais.

Dividido em 10 capítulos, o primeiro se chama “As engrenagens do colapso social”. Gilberto Dimenstein explica que o livro surgiu na década de 90, quando ministrou uma palestra para adolescentes e percebeu a preocupação dos jovens com a violência nas grandes cidades. “Vi que a falta de informação e de reflexão poderia levá-los a uma postura perigosa: o uso de mais violência”, alerta o jornalista. Então, o autor se propôs a abordar alguns dos problemas da sociedade, como as crianças de rua, a violência e a pobreza. Por que Cidadão de Papel? Segundo Dimenstein, porque a cidadania está garantida nos papeis, mas não existe de verdade.

Embora a linguagem simplificada possa incomodar muitos especialistas da área, Gilberto Dimenstein simplificou o texto para que o público-alvo, formado por crianças e adolescentes, possam absorver melhor a informação e entender termos que estão presentes nos jornais diários, mas nem sempre são de seus conhecimentos. Dimenstein comenta que a situação da infância é um reflexo de desenvolvimento econômico, político e social do Brasil, desde a violência até o desemprego.

No capítulo 2, “Cidadania”, Dimenstein explica que os meninos de rua são um dos sintomas da crise social, surgidos por causa da pobreza e falta de educação dos pais, levando os filhos a entrarem nesse ciclo, incapazes de progredir. Apesar dos direitos da criança, o autor critica a situação do país e lembra que nem mesmo os bebês estão protegidos nas famílias desestruturadas, onde o índice de violência doméstica são maiores.

A violência é abordada no capítulo 3 do livro. Segundo o autor, muitas crianças fogem de casa pelo medo da agressão dos próprios pais, levando-as a consumirem drogas e álcool, prostituição, violentarem e serem violentados, mantendo o ciclo vicioso vivo.

O capítulo 4 fala sobre a renda. Neste caso, o meu exemplar traz várias informações desatualizadas, que na época podiam ser usadas como referencial, agora nem tanto. Porém, algumas informações e conceituações facilitam a compreensão dos jovens, como PIB (Produto Interno Bruto), a distribuição desigual de renda e o PIB per capita. Muitas vezes, como bem lembra Gilberto Dimenstein, os números impressionam, mas são só números perto da realidade da pobreza de um lado e riqueza do outro, em que uns têm além do necessário e outros não têm o suficiente para sobreviver com dignidade.

O quinto capítulo aborda a mortalidade infantil batendo novamente na tecla da ilusão dos números. O jornalista afirma que entre as estatísticas para analisar o desenvolvimento econômico e social de um país, a taxa de mortalidade infantil é importante. Apesar de muitas informações estarem defasadas, a mortalidade infantil ainda é uma realidade no país. Dimenstein aborda o contraste entre primeiro e terceiro mundo quando se trata do desenvolvimento das crianças e da mortalidade infantil.

A população é comentada no sexto capítulo do livro. Nesta parte, é comentada a importância do nível de instrução das mães sobre a necessidade de higiene e saneamento básico, as campanhas educativas e distribuição de anticoncepcionais e orientações sobre doenças sexualmente transmissíveis, a gravidez na adolescência e a taxa de fecundidade de acordo com as condições financeiras dos pais.

O desemprego é tema do capítulo 7, em que Dimenstein aborda a crise econômica no Brasil marcada pela estagflação (recessão e preços altos), o círculo vicioso da criança que sai da escola ou não estuda para trabalhar e continua ganhando pouco, os efeitos políticos sentidos no país e o efeito nas universidades, em que os estudantes viveram períodos de insegurança.

O capítulo 8 discute a urbanização no Brasil. A ida de populações rurais para as grandes cidades, surgimento das favelas e o aumento do número de moradores de rua. Já o capítulo 9 aborda a desnutrição. O jornalista descreve as consequências da desnutrição infantil no desenvolvimento físico e mental do ser humano, além de atingir também os adultos e aborda de forma breve a questão dos transgênicos (organismos geneticamente alterados) e discussões que estavam em alta na época.

Diante de todos os problemas mencionados nos outros capítulos, o meio ambiente é tão importante quanto e é destaque do capítulo 10. Gilberto Dimenstein afirma a importância do saneamento básico na prevenção de doenças, a questão da reciclagem do lixo, a poluição ambiental e o tratamento da água.

A última parte do livro, o capítulo 10, traz informações e propõe reflexões sobre a educação. É comentada a necessidade de investir na educação desde o ensino fundamental para que as pessoas saibam seus direitos e obrigações e possam ter melhor qualidade de vida, a questão da produtividade, a evasão e desigualdade social no nível de ensino, o analfabetismo e a exclusão digital.

Dimenstein conclui o livro abordando a importância de entender as engrenagens da crise social brasileira e da fragilidade da cidadania, a importância da democracia e dando exemplo de um projeto que ajuda a tirar as crianças da rua e oferece aulas de dança, escultura, informática e tem livros.

Como mencionado ao longo deste texto, algumas das informações no meu exemplar estavam desatualizadas, no entanto acredito que devem ter saído edições mais atuais de O Cidadão de Papel. Se por um lado algumas estatísticas estão antigas, por outro os debates e reflexões ainda são necessários se fazerem presentes na vida dos jovens alunos do Brasil. Para quem se interessou pelo tema do livro, acredito que alguns assuntos são mais complexos e merecem uma leitura mais aprofundada. Para o público-alvo, as informações estão fáceis de serem entendidas e Gilberto Dimenstein cumpriu com o seu papel como jornalista na tradução do conteúdo, tornando-o acessível para os adolescentes.

Cada um dos tópicos comentados no livro podem ser entendidos melhores através das recomendações de leitura e de filmes deixadas pelo próprio autor ao longo da obra. O Cidadão de Papel pode ser o pontapé para trabalhar o assunto em sala de aula, no entanto por abordar vários assuntos e cada um deles serem complexos para serem todos debatidos em um só livro, cabe aos jovens e educadores continuaram estudando. Outros pontos interessantes disponibilizados pelo autor são os roteiros de discussão ao final de cada capítulo, as fotografias e as reportagens

Sobre o autor – Gilberto Dimenstein é jornalista, idealizador do site Catraca Livre. Entre os seus livros publicados estão: A guerra dos meninos, A democracia em pedaços, O aprendiz do futuro e As aventuras da reportagem.

Comentários

  1. Penso que embora com dados desatualizados esse livro deveria ser leitura obrigatória para todos os cidadãos.

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    1. Oi, Unknown!
      Gosto bastante do livro. Ainda é uma leitura recomendada. Acho que toda leitura vem a somar. Quanto aos dados, cabe aos leitores interessados em saberem mais a pesquisarem por conta própria. Muito obrigado por sua visita e pelo comentário!
      Abraço

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  2. Achei o livro de informações muito valiosas, a verdade passa a nossa frente, e por vezes não conseguimos enxergar, as crianças a adolescentes a miseria , enfim começo a ter outro olhar na cidade. abraço

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    1. Oi! Fico feliz em ler seu comentário. Vejo que apesar de 'antigo' é um livro que ainda é bastante recomendado para alunos, professores e cidadãos.
      Abraços!

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  3. Achei o livro de informações muito valiosas, a verdade passa a nossa frente, e por vezes não conseguimos enxergar, as crianças a adolescentes a miseria , enfim começo a ter outro olhar na cidade. abraço

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  4. Acredito que a maioria das competências citadas na obra, senão todas, são muito pertinentes para estrutura social brasileira. Logo, é notório que não há de ser esquecida, ou pelo menos não poderia, principalmente com o cenário social presente.

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    1. Oi, Skendel!
      Creio que toda leitura é sempre bem-vinda. Talvez os números do livro já estejam desatualizados, mas é sempre importante aprender mais sobre a cidadania consciente.
      Abraço

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  5. Atualmente a miséria humana é formada pela cegueira social.

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  6. Escrevendo novos capítulos" signifies the start of a new phase full of opportunities and challenges. Just like in a book, each chapter offers a chance to learn, grow, and create new stories. is contributing to the delinquency of a minor a felony

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