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Destaques

Born This Way: Hino LGBTQIA da Lady Gaga e sua importante Fundação

Os anos passam mais algumas músicas continuam fazendo sucesso. Neste mês do Orgulho LGBTQIA , Born This Way , da Lady Gaga , permanece sendo reconhecida como um hino LGBTQIA. Mais do que cantar sobre a causa, a importância da própria identidade e aceitação, a cantora da música lançada em 2011 é também co-fundadora de uma fundação que apoia comunidades LGBTQIA. Segundo informações do site da Born This Way Foundation , a missão é: “Empoderar e inspirar os jovens a construírem um mundo mais gentil e corajoso que apoia a saúde mental e o bem-estar deles. Baseado na relação científica entre gentileza e saúde mental e construído em parceria com os jovens, a fundação incentiva pesquisa, programas, doações e parecerias para envolver o público jovem e conectá-los com recursos acessíveis de saúde mental”. Mais do que uma música para inspirar a Parada do Orgulho LGBTQIA ou ser ouvida o ano inteiro, Born This Way deixou esse grande legado que foi a fundação que já ajudou muitos jovens LGBTQIA. E o...

Resenha: O Demônio do Meio-Dia: Uma Anatomia da Depressão – Andrew Solomon

Quando eu comprei o meu exemplar do livro O Demônio do Meio-Dia: Uma Anatomia da Depressão, do autor Andrew Solomon, o vendedor da livraria me perguntou: “Você sabe sobre o que fala o livro?”. Respondi que tinha ideia. Pensando que eu tinha confundido a obra com outra, por causa do seu título que pode sugerir ser um romance de ficção, de terror, ele acrescentou: “É sobre depressão”, como se esperasse que eu comprasse qualquer livro, menos aquele.

Para começar a resenha sobre o livro O Demônio do Meio-Dia aqui vão algumas informações. A minha edição foi publicada pela Editora Objetiva, através do selo Ponto de Leitura, em 2010, traduzida por Myriam Campello, com 815 páginas. O seu título original em inglês é fiel à tradução: “The Noonday Demon: An Anatomy of Depression”, foi publicado em 2001.

Em primeiro lugar, não deixe o número de páginas te assustar. Do total, o conteúdo vai até a página 634, sendo as outras páginas com as notas e referências utilizadas pelo autor para compor o livro. Outro ponto bacana é o índice remissivo no final, possibilitando ao leitor encontrar com facilidade os assuntos que mais chamaram sua atenção na obra. Recomendo a leitura linear, e a utilização do índice só após conclui-la, pois mesmo o texto sendo dividido em capítulos, todas as partes estão inter-relacionadas. Ah, o fato de o livro ser de autoria de um escritor depressivo parece dar mais credibilidade e sensibilidade, além de torná-lo mais interessante, graças às inúmeras referências literárias de manifestações depressivas em romances e poemas, e da sua pesquisa – Andrew Solomon entrevistou várias pessoas com depressão e especialistas, além de citar vários estudos sobre a doença.



Saiba mais sobre o livro O Demônio do Meio-Dia:


Por que eu gostei tanto do livro? Porque tenho depressão e nunca tinha lido um livro tão completo assim. Muitas obras se focam muito em um só ponto ou você percebe que o autor está só enchendo linguiça, todavia, Andrew Solomon levou cinco anos para escrever o livro, e durante esse período teve que lidar com suas próprias crises depressivas e limitações que a doença mental provocou nele. Só de o escritor ter terminado o livro foi uma vitória e é, sem dúvidas, uma demonstração de que com paciência, esperança, apoio e tratamento é possível manter a depressão sob controle – ou o mais perto disso –, sem perder tanta qualidade de vida.

Andrew Solomon dedicou o livro ao pai dele, por tê-lo ajudado durante suas crises depressivas que ficaram mais fortes após a morte da mãe. Apesar de minha recomendação sobre ler o livro do início ao fim, em ordem, através do sumário e dos títulos de cada capítulo dá para saber qual é o ponto principal abordado em cada um deles. São eles: Depressão; Colapsos; Tratamentos; Alternativas; Populações; Vício; Suicídio; História; Pobreza; Política; Evolução; Esperança.

A proposta desta resenha, como a de qualquer uma, não é substituir o livro, muito menos ser um resumo, mas instigá-lo a adquirir o seu próprio exemplar, se a obra for do seu interesse, sabendo quais são os tópicos abordados. Confira abaixo um pouco sobre cada um dos capítulos:

Depressão 


No primeiro capítulo do livro, o autor aborda de forma geral a depressão, descrevendo como a doença está relacionada à solidão, à falta de significado da vida e das emoções. Você sabe o que é depressão? “O único sentimento que resta nesse estado de espírito despido de amor é insignificância”, declara Andrew Solomon. Ele compara a depressão ao nascimento e a morte, ao mesmo tempo, em que há uma presença e desaparecimento. Segundo o escritor, a morte simboliza a desintegração da pessoa, a infelicidade, a falta de prazer, perda de confiança nas pessoas e em si mesmo.

Uma informação interessante levantada é a de que a depressão é principal causa de incapacitação nos Estados Unidos e no exterior para pessoas acima de cinco anos de idade, além de ela mascarar outras doenças. “Na depressão, tudo que está acontecendo no presente é a antecipação da dor no futuro, e o presente enquanto presente não mais existe”. Ele descreve a ansiedade e a depressão como demônios do meio-dia. Eu não poderia pensar num termo melhor para abordar a doença, visto que, além do seu sentido negativo, a depressão foi, literalmente, confundida ao longo dos séculos com possessões demoníacas e considerada pecaminosa.

Colapsos 


No segundo capítulo do livro, apesar de Andrew presenciar alguns episódios depressivos ao longo da vida, ele conta que foi após a morte de sua mãe que ele teve um colapso, num período em que ele achava que tudo ao seu redor estava em ordem. Se por um lado a depressão é devastadora, de acordo com o autor, por outro ela pode revelar a fragilidade humana.

Um dos sintomas da depressão, a falta de impulso sexual, é abordada no livro. Além de não sentir vontade de fazer sexo, a pessoa sente que ninguém poderá amá-la e que nunca terá um relacionamento. Neste capítulo, Andrew define bem a sua depressão:


“Tornar-se deprimido é como ficar cego, a escuridão no início gradual acaba englobando tudo; é como ficar surdo, ouvindo cada vez menos até que um silêncio terrível o envolve, até que você mesmo não pode fazer qualquer som para penetrar o silêncio. É como sentir sua roupa lentamente se transformando em madeira, uma rigidez nos cotovelos e joelhos progredindo para um terrível peso e uma isolante imobilidade que o atrofiará e, dentro de algum tempo, o destruirá”.

Andrew compartilha como se sentiu mal quando teve seus colapsos, situações que poucas pessoas imaginam que aconteça a um depressivo. Ele conta que entre os sintomas de depressão sentidos estavam o de não conseguia comer, vomitava, estava sempre chorando e não conseguia falar. Ainda para o escritor, quando se está depressivo é como se os minutos se tornassem “anos terríveis, baseados em alguma noção artificial do tempo”, fazendo a pessoa pensar que aquilo nunca vai terminar e que a morte pode ser a única solução, embora nem sempre o indivíduo tenha energia e a coragem para ir até o fim.

“Quando se está deprimido, o passado e o futuro são absorvidos inteiramente pelo momento presente, como no mundo de uma criança de três anos. Não se consegue lembrar de um tempo em que se sentia melhor; pelo menos não claramente; e certamente não se consegue imaginar um futuro em que se sinta melhor”.

Foi nessa época da vida dele que ele começou a tomar os remédios, porém além da sensação incapacitante da depressão, ele tinha que lidar com os efeitos colaterais. Alguns entrevistados, por exemplo, lamentaram a perda de memória que tiveram por causa do tratamento. Andrew também se sentia mal por não conseguir fazer o seu trabalho. Outra informação interessante é a dificuldade das pessoas que convivem com o depressivo, seja família ou amigos, fazendo com que muitos se afastem ou achem que não se passa de um exagero.

Tratamentos – Como tratar a depressão? 


No terceiro capítulo do livro, o autor fala sobre alguns dos principais tratamentos para depressão, como terapias, remédios e eletrochoque. Ele chama a atenção para o fato que é impossível se focar somente na química e deixar de lado os outros elementos que influenciam a depressão. Os remédios ajudam, no entanto outras funções são complementares, como a terapia da fala – auxiliando o depressivo a compreender a si mesmo e lutar contra a solidão e se conectar com outras pessoas.

Segundo o autor, é preciso escolher um bom psiquiatra e psicanalista, pois é preciso que o paciente tenha confiança para poder começar e manter o tratamento. É interessante notar uma crítica feita pelo escritor, já que há muita preocupação com quais drogas usar e pesquisas sobre o assunto, porém não acontece uma análise para verificar se os profissionais estão adequados para tratar corretamente seus pacientes.

Para quem tem curiosidade sobre como funcionam essas terapias, ele aborda de forma breve algumas delas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Terapia Interpessoal (TIP), sendo a primeira, normalmente, utilizada para criar objetivos específicos e ajudar a mudar o presente do paciente, investigando o seu passado e infância e a outra se focando mais no presente, com limites mais definidos e praticidade.

Um dos neurotransmissores diminuídos em quem tem depressão é a Serotonina. Andrew aponta algumas de suas funções no organismo, como na circulação sanguínea, digestão, sono, agressividade e mais. O livro ainda questiona se só aumentá-la seria possível controlar a depressão. O autor comenta que existem outros neurotransmissores e que eles estão inter-relacionados, e que a depressão vai além da química do cérebro. Então, ele comenta suas experiências com os antidepressivos e comenta que além da letargia da depressão, o paciente lida com a diminuição do desejo sexual, entre outros efeitos. Andrew também fala sobre como o eletrochoque pode funcionar rapidamente, podendo ajudar pessoas com tendências suicidas, porém como também pode afetar a memória de curto prazo e de longo prazo, fazendo a pessoa perder lembranças importantes da vida.

Alternativas – Como combater a depressão? 


No quarto capítulo, são comentadas as terapias alternativas para quem tem depressão. Ele comenta que os tratamentos alternativos podem ser complementares e que há casos em que é impossível deixar os remédios de lado. É abordada a importância dos exercícios físicos e da dieta, de como o excesso de café e álcool podem causar ansiedade e estressar mais o organismo, entre outros métodos que podem ajudar o depressivo a melhorar, como hipnose, acupuntura, medicina natural, homeopatia e terapias de grupo.

Populações


No quinto capítulo, Andrew aborda a complexidade da depressão, afirmando que cada pessoa tem sua própria depressão. Ele aborda que por causa das transformações hormonais (químicas) e condições externas (sociais e culturais), as mulheres podem sofrer aproximadamente o dobro de depressão do que os homens. Outras questões relacionadas à depressão são a anorexia, abusos sexuais, ideal de feminilidade (papel da mulher na sociedade), falta de afeto nas famílias, abuso de substância (alcoolismo, vício em drogas).

Ainda na questão relacionada à sociedade, o livro traz algumas informações que podem ser refletidas. Segundo Andrew, por exemplo, há muitas descrições da depressão feminina na literatura, mas poucas sobre os homens, visto que pelas suas atitudes poderiam ser consideradas normais. O autor também discute o descaso com a depressão em idosos e como os homossexuais estão entre os grupos mais propensos a desenvolver depressão e tendências suicidas. A explicação sobre gays terem depressão é óbvia, embora ainda ignorada, a homofobia, seja dentro da própria casa ou na sociedade. Ainda na questão da homossexualidade e depressão está a sua relação com a promiscuidade e uso de drogas, como atitudes de autodestruição, mesmo que inconscientemente.


Vício 


A relação entre o vício e a depressão é evidente, formando um ciclo. Alguns pontos levantados pelo autor são importantes, como a necessidade de retirar gradualmente o contato com a substância, para não desregular o cérebro, e como o vício comportamental, como vício de jogos, não é tão diferente do vício de substância.

Suicídio 


A depressão e o suicídio podem ser relacionados, porém nem todo depressivo é suicida e muitos suicídios são cometidos por quem não tem depressão. Andrew comenta a diferença entre querer se matar, querer estar morto e querer morrer, comentando que apesar do depressivo, muitas vezes, desejar por um fim no seu sofrimento, não são todos que têm a energia, força de vontade e impulsividade para tal. Ele explica que o suicídio não deveria ser tratado necessariamente como um sintoma da depressão.

Outras discussões interessantes sobre o suicídio levantadas no livro são a eutanásia; como um suicídio pode influenciar outros, seja dentro do próprio círculo familiar e de amizades ou exposto na mídia; suicidas têm baixo índice de serotonina; a análise sobre o suicídio de Freud, como a vontade de matar o outro, desferida contra si mesmo.

História 


Para quem gosta de história, este talvez seja o capítulo mais fascinante do livro. Solomon aborda como a depressão foi caracterizada em diferentes séculos. Por exemplo, na Idade Média como um desfavor de Deus; no Renascimento romantizando a depressão e a melancolia, associando-a aos gênios e artistas; nos séculos passados separando a mente do corpo e procurando estratégias para conter essa aflição.

É neste mesmo capítulo que o autor explica de onde tirou a ideia para compor o título do livro. Segundo Andrew, há um trecho dos Salmos em que é citado o demônio do meio-dia, termo que foi associado à possessão e melancolia.

Política 


No décimo capítulo do livro, é discutido como a política pode desempenhar um papel no combate à depressão, seja estabelecendo tratamentos à comunidade, intervenções ou políticas de medicamentalização. Nesta parte, Andrew também aborda alguns políticos que tiveram depressão e como a doença é ocultada por ser vista como uma fraqueza.

O descaso das instituições de tratamento para doentes mentais é descrito neste capítulo, no qual Andrew comenta suas próprias experiências, entrevista outros pacientes e profissionais, e cita um jornalista que se infiltrou num hospital psiquiátrico estadual para descobrir qual era o comportamento dos funcionários, como os pacientes eram tratados e como, muitas vezes, o lugar é deprimente, podendo fazer o depressivo piorar ao invés de melhorar.

Evolução 


O penúltimo capítulo do livro... O autor questiona se a depressão teria uma função na espécie. Segundo as pesquisas feitas por Andrew, os evolucionistas afirmam que a depressão é uma disfunção, podendo estar relacionada a algumas premissas, como a perda de uma função que era importante na era pré-humana; a incompatibilidade do cérebro com o estresse da vida moderna; uma função útil na sociedade ou sua importância ao influenciar comportamentos e sensações.

“Uma das funções primordiais da depressão é a de mudar comportamentos não produtivos. A depressão é frequentemente um sinal de que nossos recursos estão sendo mal investidos e precisam ter seu foco ajustado”.

Para o autor, a depressão pode ser considerada importante, segundo a teoria evolucionária, por causa da importância do sofrimento na formação de vínculos, amor e preservação da espécie.

Esperança 


Para finalizar o livro, Andrew deixa uma mensagem de esperança, compartilhando casos de pessoas que conseguiram controlar sua depressão ou que ainda lutam contra ela, entre altos e baixos, mas que não desistiram. Além de citar vários entrevistados, que mesmo sofrendo com suas depressões, passaram a aceitá-las, ele dá a sua dica: “O mais importante durante uma depressão é: não se recupera o tempo perdido... Agarre-se ao tempo: não deseje que sua vida se desvaneça”.

No último parágrafo de O Demônio da Meia-Noite, o autor diz que o oposto da depressão não é a felicidade, mas a vitalidade e apesar de odiar as sensações destrutivas e os impulsos suicidas, são eles que o fazem “olhar a vida de modo mais profundo, a descobrir e agarrar razões para viver”.

Recomendo a leitura de O Demônio da Meia-Noite: Uma Anatomia da Depressão, do Andrew Solomon, para todos aqueles que lidam diariamente com a doença, seja por ter depressão ou por conviver com pessoas depressivas. O livro traz informações preciosas sobre vários aspectos da doença mental, além de contribuir com o conhecimento. A obra consegue manter um tom positivo, mesmo diante dos inúmeros relatos tristes, do próprio autor e dos entrevistados. Acredito que a mensagem final que fica é: com paciência, compreensão, tratamento e autoconhecimento pode-se aprender a sobreviver com essa sombra incapacitante e valorizar os outros ângulos enxergados – pois mesmo tendo uma face fatal, muitos artistas e escritores (e demais pessoas) conseguem tirar o melhor dessas experiências e transformar a dor em lucidez.

Sobre o autor 


Nascido no dia 30 de outubro de 1963, Andrew Solomon é um escritor sobre política, cultura e psicologia. Ele vive em Nova Iorque e Londres. Seu livro O Demônio do Meio-Dia: Uma Anatomia da Depressão ganhou o National Book Award em 2001, foi finalista do prêmio Pulitzer em 2002 e foi incluso no Times como um dos cem melhores livros da década.

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