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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Resenha: A Distância entre Nós – Thrity Umrigar

Capa do livro A Distância entre NósO livro A Distância entre Nós, da escritora e jornalista indiana Thrity Umrigar, é um romance sobre duas mulheres: Sera e Bhima, sendo uma a patroa e a outra empregada, ambas ligadas por um fio prestes a romper a qualquer instante. A obra, de 331 páginas, foi traduzida por Paulo Andrade Lemos e publicada pela Editora Nova Fronteira, em 2006.

A narrativa do livro me lembrou bastante Transgressões, da escritora paquistanesa Uzma Aslam Khan. O que os dois romances têm em comum? Os contrastes sociais, as diferenças culturais relacionados à cultura brasileira e arte de tecer histórias, como se estivesse costurando: as vidas dos personagens se cruzam de maneira orgânica e a riqueza e a pobreza andam lado a lado, mas não de mãos dadas.

“Elas eram parecidas em muitos aspectos. Apesar das diferentes trajetórias de vida – circunstâncias que agora acha que foram determinadas pelos acidentes de seus nascimentos –, ambas conheceram a dor de ver murchar a flor de seus casamentos”.

Bhima tem uma história de vida triste, marcada pelo seu analfabetismo e pelos trabalhos domésticos, um ciclo que ela tenta quebrar com sua neta Maya, a primeira da família dela a ter a oportunidade de entrar para a universidade. A patroa de Bhima, Sera é uma mulher elegante e com boa educação. Os sofrimentos das duas mulheres são tão próximos e tão diferentes: as duas lidam com a perda (morte ou distanciamento), com a opressão dos homens, com os costumes morais e familiares (embora em níveis diferentes!).

Narrada em terceira pessoa, a história mescla o presente e o passado, através dos flashbacks, mostrando o núcleo narrativo de Bhima e de Sera. O que essas duas mulheres fizeram de suas vidas para merecerem a crueldade de seus destinos? Bom, em primeiro lugar, elas moram na Índia, onde assim como no Brasil, moradores da favela e a classe média vivem próximos, mas possuem qualidades de vidas bem diferentes.

“Seu silêncio enfureceu Bhima. Queria tirar sangue da neta; mais que isso, porém, queria arrancar lágrimas de Maya, como se as lágrimas fossem batiza a ambas, como se fossem purificá-las e lavá-las desse mal que se infiltrou feito um verme em suas vidas”.

A Distância entre Nós aborda não só as diferenças financeiras das duas mulheres, mas também sociais e religiosas. Quem ler nas entrelinhas perceberá desde o início como a história se desenvolverá. São nos mergulhos aos passados dos personagens que o leitor encara algumas críticas a respeito das questões culturais, como a presença dos membros da família numa mesma casa, mesmo com seus conflitos; As dificuldades enfrentadas por quem não têm ensino e oportunidades de melhorar de vida; As condições deploráveis das vidas das favelas e intensificadas pelas diferentes castas indianas, por exemplo, mesmo Bhima sendo praticamente da família por causa de todos os anos de trabalho, ela não pode se sentar nos móveis de Sera, precisando ficar de cócoras.

“Talvez o tempo não cure as feridas de jeito nenhum, talvez essa seja a maior mentira de todas. Em vez disso, o que acontece é que cada ferida penetra mais e mais fundo no corpo até que um dia você descobre que a própria geografia dos seus ossos – os traços do seu rosto, a forma dos seus quadris, o ângulo dos seus ombros, e também o brilho dos seus olhos, a textura da sua pele, a franqueza do seu sorriso – sucumbiu sob o peso das mágoas”.

Além dessas marcantes diferenças na vida das duas mulheres, as duas lidam com a gravidez em suas famílias: motivo de orgulho para uma e de vergonha para outra. Outro ponto muito legal ao longo do livro são as metáforas utilizadas pela escritora, um recurso que dá mais impacto aos pensamentos, diálogos e narrações. Mesmo diante de tanta tristeza e miséria, Thrity Umrigar consegue escrever uma história linda, com um final libertador para as personagens.

Thirity Umrigar, autor do livro A Distância entre Nós

Sobre a autora – Thrity Umrigar é jornalista há mais de dezessete anos e escreve para o Washington Post, Plain Dealer, Boston Globe, além de outros jornais locais. Leciona redação criativa e literatura na Case Western Reserve University. Autora do romance Bombay Time (2001) e do livro de memórias First Darling of the Morning Selected (2003), ganhou o prêmio Nieman Fellowship da Harvard University. É Ph.D. em inglês e mora em Cleveland, Ohio.

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