
O livro
A Incrível Cidade que Apodreceu, do autor
Christian Petrizi, é um dos lançamentos deste semestre, publicado pela
Cultura em Letras Edições. A obra traz alguns
contos (narrativas curtas) que se passam na cidade de
Buganvília do Manancial, no
interior de Minas Gerais, onde um
cheiro podre aumenta gradualmente, misturando o fedor do ambiente com a personalidade de seus moradores, contrastando com a beleza das
buganvílias.
Ao longo das 142 páginas, além do prólogo, no qual há uma breve introdução sobre o local, estão disponíveis mais 11 contos para o prazer de quem gosta de ler. A cada narrativa, o leitor vai se familiarizando com os personagens que habitam a cidade mineira. Christian Petrizi mistura uma dose de humor e acidez em suas histórias, além de algumas críticas à sociedade.
“Era madruga fria na cidadezinha. Um cheiro de carne em decomposição tomava conta de Buganvília àquela hora, contrariando a regra do lugar. O mau cheiro costumava ser pior pelo meio da tarde, mas naquele dia o incômodo começou pela madrugada. Ninguém sabia a origem daquilo, apenas que incomodava bastante”.
A Incrível Cidade que Apodreceu foi uma surpresa boa. A princípio, pensei que tivesse uma dose de terror – o que eu particularmente adoro –, tanto pelo título do livro, como pela bela capa, na qual podemos observar um olho e uma explosão em seu reflexo. Porém, gostei muito desse humor ácido, na qual acompanhamos não só o apodrecimento da cidade, mas também dos seus moradores.
“Naqueles últimos dias, urubus sobrevoavam o céu da cidadezinha, enquanto abutres circulavam na terra. Os do céu movidos pelo mau cheiro que se intensificara no lugar e que era expelido do centro do município, por razões que nenhum dos habitantes ou autoridades conseguiam descobrir. Já os sem asas estavam eufóricos por motivos menos nobres ainda, alguns nervosos pela carniça que havia desaparecido, enquanto outros lutavam para não perder a carcaça conquistada depois de muita luta”.
Essa contradição entre belo e obscuro é o que deixa a leitura mais gostosa. Por mais que as histórias sejam curtas, característica do gênero literário conto, é possível sentir a essência de seus personagens e até mesmo imaginá-los, tamanha a verossimilhança deles com moradores de pequenas cidades. As mortes misteriosas na cidade, o fedor que não para de aumentar, os conflitos políticos, as fofocas da vizinhança, a hipocrisia, a homofobia internalizada típica de quem não aceita gays, mas é homossexual reprimido, os favores e a falsidade são marcas dessa população e também parte do motivo que gerará o seu clímax, presente no último conto do livro, também chamado A Incrível Cidade que Apodreceu.
Antes do conflito principal, cada conto leva o leitor para um passeio rápido pela vida de seus personagens. Esta pluralidade de personalidades, problemas e falhas de caráter é o que ajuda a embarcar nas histórias e imaginar o lugar, que tirando a podridão no sentido literário, existe em seu sentido metafórico, em centenas de cidadezinhas do interior, onde as pessoas têm o hábito de uns cuidarem da vida dos outros; De apontar o dedo e não querer enxergar o próprio problema; De inventar histórias, manipular e até mesmo cometer assassinatos, sem punição; De fechar os olhos para o tráfico de drogas e o de idolatrar ou amaldiçoar seus políticos, de acordo com o grau de favorecimento, mesmo que seja ilegal.
“– Candidatar? Esta está cidade está podre, Lucia. Eu não quero me misturar com essa gente de política”.
É interessante notar o apego dos moradores às buganvílias, as plantas que representam a cidade. Mesmo sabendo que algumas coisas estão erradas, que a enorme buganvília está fedendo, ninguém que não seja louco, tem a audácia de arrancá-la ou lidar com o problema, antes que seja tarde demais. O resto, vocês podem imaginar o que acontece. Uma catarse que possibilita a reflexão e a purificação. Como diria o texto da contracapa: “Mas, como existem limites até para os maus pensamentos, um dia a coisa fedeu e explodiu”.
Em ano de eleições, A Incrível Cidade que Apodreceu cutuca a ferida não só dos políticos, mas de seus eleitores. A leitura é prazerosa, o tipo de livro que pode ser lido de acordo com o ritmo do leitor, por se tratarem de contos – embora seja mais gostoso ler todos de uma vez. Ao mesmo tempo em que Christian Petrizi consegue entreter o leitor, ele toca em assuntos que muitas pessoas fazem questão de ignorar, deixando a mensagem clara: Mesmo que maquiados e belos por fora, uma hora os problemas internos começam a se espalhar para fora, apodrecendo tudo ao seu redor.
Sobre o autor – Christian Petrizi, originalmente Farmacêutico e Bioquímico de profissão, formado pela UFOP e UFJF, durante a produção da obra exerceu o cargo de Secretário Municipal de Cultura em sua cidade de origem, Patrocínio do Muriaé (MG). Com a mesma equipe editorial, ele participou da
coletânea de contos eróticos Censurado: Sexo, Taras e Fetiches.
A Incrível Cidade que Apodreceu pode ser encontrado no site da
Cultura em Letras Edições e no
Facebook! O livro também presente no
Skoob.
PS: Deixo aqui o meu agradecimento ao editor Occello Oliver, por ter enviado o exemplar para leitura e resenha para o Blog do Ben Oliveira. Lembrando: As resenhas são sinceras, independente de eu ter comprado ou recebido o livro. Abraços!
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