Recentemente recebi um exemplar do livro
Num Mar de Solidão, do artista e autor
Vitor Miranda. A obra de 120 páginas foi publicada pela
Giostri Editora, em 2014, com
contos urbanos que trazem
São Paulo como pano de fundo, a metrópole onde o caos e a solidão andam de mãos dadas e diferentes personagens se encontram.
Os contos do livro são narrados em
primeira pessoa. Há momentos em que o leitor se pergunta se o narrador é o autor ou é outro personagem que conta a história, por causa do realismo. A linha entre a
crônica e o
conto é cruzada a todo instante. Doses de autoficção, linguagem ácida, boemia, carência e amores distantes estão presentes nas narrativas que variam de tamanho, sendo o menor conto de duas páginas e o maior de dez.
“Desci do ônibus às sete horas da manhã na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta. Ah, se eu fosse uma puta, eu escolheria essa esquina. Ela é ótima! É onde passa a maior variedade de seres estranhos da Terra, desde terráqueos, marcianos, plutanianos, saturnianos até os lunáticos” – trecho de O casal de Mendigos
A linguagem pode incomodar os leitores mais puritanos e acomodados. O
estranhamento é proposital. O narrador-personagem conta suas peripécias e mostra a sua perspectiva sobre a vida, o amor, a amizade, o sexo e suas loucuras na
capital paulista – cenário com o qual ele nutre uma relação de codependência de felicidade e ódio, romantismo e selvageria, encantamento e desilusão.
É impossível ler Num Mar de Solidão sem se lembrar dos escritores que narravam suas aventuras regadas a álcool, drogas, sexo e experimentalismo. O próprio narrador-personagem fala sobre a influência do escritor
Charles Bukowski e do personagem
Hank Moody, protagonista mulherengo, com problemas de relacionamentos por causa das bebidas e abuso de substâncias, da série de televisão norte-americana Californication.
“Acendi meu cigarro, guardei o maço no bolso de trás da calça e o isqueiro no bolço esquerdo da frente. No direito senti o celular vibrar novamente. Já nem lembro quantas vezes ele vibrou hoje. Esperei ele parar e peguei-o para ver o que eu já sabia. Era a vigésima sétima ligação perdida de uma mulher chamada Mônica. Tenho medo dessas mulheres psicopatas que ficam ligando sem parar, que não esperam o nosso retorno, elas nos envenenam, nos cortam em pedacinhos, o chinês da pipoca Yoki que o diga” – trecho de Psicopatas Noturnas
Não vou me aprofundar na análise de cada conto, pois tiraria toda a graça do leitor. Basta imaginar um protagonista que não abre mão do seu cigarro e suas bebidas; Que mesmo amando uma jovem e sabendo que não encontrará nenhuma outra como ela, lida com as madrugadas solitárias e a saudade que os separam a quilômetros de distância, levando-o a outro de seus vícios: mulheres; As festas loucas, encontros com jovens que se preocupam com o seu status e o tédio, mesmo na cidade ‘que nunca dorme’.
“Eu sempre entro em depressão quando volto para São Paulo depois de uma viagem. Eu amo essa cidade, mas só amando-a muito para continuar vivendo nessa merda” – trecho de E Foi Assim que Comecei a Escrever
Morcegos, travestis, mendigos e prostitutas dividem as páginas com artistas, trabalhadores, homens e mulheres. O que todos têm em comum além de estarem reunidos no mesmo livro e morarem na mesma cidade? Mesmo diante das inúmeras opções de entretenimento, das diferentes classes sociais, gêneros e orientações sexuais, no final das contas, todos são seres humanos à procura da felicidade, de relações com outras pessoas, de maneiras de ganhar a vida, do sucesso e de preencher os buracos da solidão estampados em suas almas.
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Vitor Miranda. Foto: Divulgação. |
Sobre o autor – Vitor Miranda iniciou a vida artística após trancar o curso de Comércio Exterior e se matricular num de Teatro. No fim de 2010, foi protagonista do curta-metragem
Amizades e Utopia, trabalho que despertou a vontade de ampliar seus horizontes nas artes. Estudou fotografia, e em 2011, idealizou um projeto de documentários de curta-metragem a serem veiculados na internet, o
Documentos Urbanos. Em 2013, lançou seu primeiro curta
Pise Fundo, Meu Irmão. Num Mar de Solidão é o seu primeiro livro, publicado pela Giostri Editora.
Para interagir com o autor e mais informações sobre o livro Num Mar de Solidão, curta a página do Facebook: https://www.facebook.com/NumMardeSolidao
Ficou interessado? O livro de contos pode ser encontrado nas lojas virtuais da Saraiva e da Livraria Cultura
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