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Destaques

Âncora

Ancorar é encontrar um espaço seguro mesmo diante do caos. É ouvir uma música e se permitir encontrar paz, mesmo quando as coisas estão fora de controle. É pensar na sua pessoa favorita e sentir as emoções reguladas. É saber que você pode confiar em quem conversa o dia inteiro. É confiar que mesmo diante da ambiguidade, ele vai honrar a promessa que fizeram. É ressignificar o que antes poderia ser visto como algo preocupante e aceitar que era mais do que seus diagnósticos. Era saber que não havia melhor pessoa que o entendesse nos últimos tempos. Era brincar com as linhas e nossas indefinições. Era saber que de tanto ensaiar situações de possíveis crises, que ele saberia notar se algo estivesse diferente. Cada um dos seus sinais. Escrevia para lembrar e também para esquecer. Escrevia para lembrar dos ciclos fechados e agradecer o que estava aberto. Era entender o quanto estava sufocado e que, às vezes, um olhar certo bastava. Escrevia para aceitar que as coisas poderiam mudar. Que em u...

Resenha: O Diário Roubado – Régine Deforges

Uma adolescente apaixonada por outra garota sofre repressão por causa da hipocrisia da sociedade. Assim é o enredo do livro O Diário Roubado, escritora francesa Régine Deforges, de 140 páginas, publicado no Brasil pelas Edições BestBolso, um selo da Editora Best Seller, com tradução de Jaime Rodrigues.
Capa do livro O Diário Roubado, da escritora Régine Deforges

Publicado originalmente em 1978, com o título Le Cachier Volé, O Diário Roubado é um romance francês que conta a história da jovem Léone, de 15 anos, que escreve em seu diário as coisas que lhe dão prazer e os seus sentimentos sobre a outra adolescente, Mélie.

“Quer dizer que eu estava sorrindo! Sorrio sempre que me censuram, quando me ofendem, quando me agridem. Isso deixava as freiras num estado de cólera total”.

A história se passa em 1950, numa cidadezinha francesa, onde Léone paga o preço por amar outra mulher. Com uma leve dose de erotismo e uma narrativa em primeira pessoa, o leitor se vê espiando as travessuras, os pensamentos e as coisas que tocam a alma e enchem de prazer o corpo da garota.

A bela e ruiva Leóne é admirada pelos rapazes e homens da cidade. Após desprezar o jovem Jean-Claude, os colegas dele tomam suas dores e também são rejeitados, provocando a raiva de Alain que rouba o diário de Leóne. As fofocas se espalham pela cidade. As pessoas não só passam a olhar com cara feia para a garota, mas também a agridem verbalmente e fisicamente.

“As pessoas me olham estranhamente, ninguém vem falar comigo, nem os colegas nem os rapazes que habitualmente dão em cima de mim. Mulheres sussurram entre si, olhando-me com raiva, nojo ou desdém, seus maridos desviam o olhar, incomodados. Sinto-me o alvo de todos os olhares, o tema de todas as conversas. Não consigo tolerar esse clima”.

Com as leituras do diário de Leóne, as pessoas transformam sua admiração em repulsa. É como se elas passassem a projetar nela seus problemas e conflitos mal resolvidos com suas sexualidades. Outro ponto interessante em analisar o comportamento das pessoas da época, é que Leóne seria aceita do jeito que ela era somente se ficasse com um rapaz, caso contrário seria uma puta, prostituta, entre outros nomes que ela é chamada.

O leitor acompanha a transformação da jovem cheia de vida e energia para a garota melancólica e doente, que passa a se isolar dos outros, seja por medo de ser agredido ou para evitar os julgamentos. Porém, a protagonista tem uma personalidade forte e consegue surpreender diante das reviravoltas, com um final catártico, mas não tão prazeroso quanto se esperava. O Diário Roubado é um livro sobre amores proibidos, o desenvolvimento da sexualidade e uma crítica à sociedade puritana, hipócrita, machista e homofóbica (lesbofóbica).
Escritora Régine Deforges
“A cada página arrancada e queimada é um pouco de mim que é ferido ou morre. Apesar de meus esforços, as lágrimas se põem a escorrer. Ouvem-se apenas o ruído do papel despedaçado e o surdo rumor das chamas”.

Sobre a autora — Régine Deforges é conhecida como a maior representante da literatura érotica francesa. A escritora foi a primeira mulher a comandar uma editora na França e, durante anos, foi censurado por publicar uma literatura “ofensiva”. A pressão de grupos conversadores levou Deforges a fechar a empresa. A autora consagrou-se ao lançar a série iniciada com o livro A bicicleta azul, em 1981. O diário roubado foi adaptado para o cinema em 1993, dirigido pela francesa Christine Lipinska. Régine Deforges nasceu em 1935 e morreu em Paris, no dia 3 de abril de 2014.

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