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Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Entrevista: Paloma Leite conta sobre estreia na literatura e próximos projetos de livros

Mineira e amante da literatura, Paloma Leite deixou sua cidade para fazer Letras em São Paulo. Sempre escreveu, mas precisou que Guilherme Oli a tomasse pela mão e dissesse: “Vem!”. Paloma e Guilherme publicaram neste ano o livro Remoto e Improvável (leia a resenha!), marcando suas estreias literárias, uma narrativa de troca de e-mails entre dois personagens que são completamente diferentes, mas acabam se apaixonando. A obra foi publicada pela PerSe Editora.

Paloma Leite contou sobre o processo de criação e publicação de Remoto e Improvável, a importância das redes sociais e eBooks e finalizou com uma dica valiosa para aqueles sonham em se tornar escritores.
Autora Paloma Leite. Foto: Divulgação.

Confira abaixo a entrevista com a autora Paloma Leite: 

Ben Oliveira: Como foi a experiência de escrever Remoto e Improvável com o Guilherme Olí?

Paloma Leite: Foi, acima de tudo, divertido.  O Gui e eu somos muito amigos, sempre trocávamos e-mails (e eu me lembro de escrever uns muito longos e detalhados, como os da Bia para o Kadu), muito antes de criarmos Tarso e Bia. Sempre conversávamos sobre realizar algum projeto juntos, pensamos até em um curta... Mas nunca tínhamos tempo, às vezes ficávamos meses sem nem conseguirmos nos encontrar. Antes de o “Remoto e Improvável” ser um livro, era um blog chamado “Conversa de seis meses” em que nós dois publicávamos em tempo real os e-mails dos personagens. Então, além de divertido, era algo que não demandava tanto esforço, nem que sacrificava tanto nosso tempo. Cumprimos a promessa de manter a conversa dos personagens por seis meses, sem combinarmos o que aconteceria. Só fomos juntar todos os e-mails e ler a história do blog como um todo quase um ano depois e ficamos felizes de ver que os personagens evoluíram, a história também e ninguém desistiu.

Ben Oliveira: Você ficou responsável pela criação da personagem Bia. Como foi o processo de desenvolvimento da protagonista com personalidade forte?

Paloma Leite: No início, eu pensei em criar uma personagem que fosse um avesso de mim, completamente diferente, e até tentei manter isso. Mas logo no início da história eu percebi que a Bia não era mais minha. Nem eu nem ela somos binárias para uma ser o oposto da outra. Então ela se tornou sim, muito diferente, mas não oposta a mim, nem parecida demais com ninguém. As situações na vida da personagem foram surgindo e exigindo cada vez mais dela. Ela tem sua bagagem, vive sozinha há muito tempo, é independente, tem suas questões familiares, se apaixonou pelo Tarso e a relação de cara não seria nada fácil para nenhum dos dois... Então, a Bia teria de ter certa fibra e ser forte até na fragilidade dela, que ela esconde com um temperamento ácido.

Ben Oliveira: Remoto e Improvável aborda os relacionamentos à distância e o tempo pós-moderno em que vivemos. Quando criaram o projeto, você pensou nas pessoas que pudessem se identificar com a história?

Paloma Leite: Não tem como alguém não se identificar com um casal trocando e-mails, cartas, telefonemas. Todo mundo já passou e passa por isso, não é? Eu me lembro de quando eu era criança ou até adolescente, antes de existir celular e Internet (pelo menos antes de ser tão popular), que a vida dos jovens era esperar aquela pessoa especial ligar, ou se dependurar com o namorado no telefone. No tempo da minha vó, as moças deviam ficar esperando o carteiro chegar. Acho que buscar todos os meios possíveis de se comunicar com quem se ama é universal, é inerente às relações. Mas nós sabíamos que isso não seria garantia de nada, as pessoas não iriam gostar da história só por isso. Eu acho que o que nos encantou mesmo na participação disso foi o elemento surpresa. É tão real não saber o que acontecerá no próximo e-mail, não saber o que o outro sente de verdade, se uma relação vai dar certo...

Ben Oliveira: A narrativa epistolar (troca de e-mails) possibilita imaginar uma real troca de mensagens dos personagens, como se eles fossem pessoas de verdade. Por que optaram por este gênero?

Paloma Leite: É interessante essa pergunta. Alguns dos meus livros preferidos, por coincidência, são epistolares. Quando eu lia “Relações perigosas”, do Laclos, ou “Sofrimento do jovem Werther”, o que mais me encantava era o que estava além daquela carta ou daquela página de diário. Muitas coisas acontecem antes e depois que um personagem se senta e pega na pena para escrever. Geralmente ele não quer descrever friamente fatos nessas horas, mas o que o motivou a escrever, como ele se sente em relação a isso, ou às vezes há uma intenção por trás, já que o que ele escreve é remetido à outra pessoa... Acho que essas nuances enriquecem o texto de alguma forma. No nosso caso, ainda tinha a incerteza de como os personagens iriam responder ou reagir a cada e-mail. O Tarso poderia se revelar um louco, a Bia poderia ser uma vampira (KKKK brincadeira), não colocamos limite nenhum. Assim, a história não era minha, nem do Gui, mas do Tarso e da Bia.
Autores Paloma Leite e Guilherme Oli durante o lançamento de Remoto e Improvável, em São Paulo. Foto: Divulgação / Remoto e Improvável.

Ben Oliveira: O livro foi lançado na Bienal do Livro de Minas Gerais e recentemente em São Paulo, na Livraria Blooks. Qual foi a sensação de ver o seu livro sendo vendido e autografado?

Paloma Leite: Era um sonho de infância que eu nem pensei que realizaria. Quando escolhi fazer Letras, no fundo, eu buscava uma forma de viver de Literatura, mas já estava até desistindo. Sou apaixonada por Clássicos da Literatura, por grandes escritores, lia aquelas obras primas e pensava: quem eu penso que eu sou para querer escrever um livro? Fiquei bem apreensiva com a ideia de publicar a história da Bia e do Tarso, ainda mais que foi feita de forma tão despretensiosa. Quando o livro ficou pronto, eu estava quase pedindo desculpas para o mundo, mas foi legal demais ver que a família e os amigos me apoiaram. É uma felicidade que não tem tamanho e que eu não experimentaria se não fosse eles. No dia ganhei flor, brigadeiros... O Gui, então, nossa! Se não fosse ele, nunca leriam nada do que eu escrevo. E o Juca ainda se ofereceu para fazer a capa, quer carinho maior? Estou animada para continuar escrevendo e tenho até uns projetinhos.

Ben Oliveira: Você é formada em Letras e foi responsável pela revisão do livro. Como o conhecimento te ajudou na hora de produzir Remoto e Improvável?

Paloma Leite:  Com certeza esse contato com uma diversidade grande de formas narrativas ajudam a escrever. No caso do R&I, nem a Bia nem o Tarso são redatores, então os personagens não precisavam necessariamente escrever bem, nem precisavam ter aquele português impecável, há até errinhos propositais. Os e-mails certamente não são os melhores textos de ninguém, mas ali tínhamos de cuidar para que os e-mails de Tarso e Bia fossem verossímeis, contextualizassem a situação deles e mesmo assim tivessem algum apelo, mostrassem os sentimentos dos personagens, tocassem o leitor de alguma forma. Então, eu acho que o que ajudou foi eu ter sido muito mais leitora do que escritora na vida. Quando conhecemos bem o outro lado, é mais fácil escrever.

Ben Oliveira: Sua estreia literária aconteceu graças ao incentivo do Guilherme. Mesmo com o seu interesse pela escrita, foi preciso um empurrãozinho. É importante que o escritor tenha apoio? Por que?

Paloma Leite: Eu sempre escrevi, desde criança. Mas, para mostrar o que eu escrevia, sim, o apoio do Gui foi fundamental. Eu não publicaria nada sem ele antes. Ele foi a “pena mágica” do Dumbo. Admiro quem tem só a cara e a coragem e vai sozinho, não é fácil, não. Sei de grandes escritores que escreveram as maiores obras primas nas piores condições possíveis. Escritores escrevem, é natural isso neles, eles precisam. Mostrar o que escrevem é outra história. É mais difícil do que o ato de escrever.

Ben Oliveira: Há possibilidade dos personagens Bia e Tarso ganharem uma continuação? Como seria?

Paloma Leite: Sim, já combinamos. Daqui uns anos, Tarso e Bia estarão em outra fase da vida deles e se verão em uma situação tão incerta como a do primeiro livro, em que precisarão se escrever de novo. Talvez não sejam só e-mails, ainda não sabemos como isso acontecerá.  Seria divertido que Tarso e Bia virassem uma espécie de Jesse e Celine, não?


Ben Oliveira: Muitos autores iniciantes têm dúvida sobre como terem seus livros publicados. Quando você e o Guilherme decidiram publicar o livro? 

Paloma Leite: Tudo culpa do Gui... Nós trocamos os últimos e-mails da Bia e do Tarso em setembro de 2013. Quando foi acho que maio desse ano, ele me disse que tinha lido os posts do blog “Conversa de seis meses” de cabo a rabo e que queria publicar. A princípio, seria eBook, mas ele correu atrás de editora, pesquisou tudo, aprendeu técnicas editorias... Eu fiquei lá, só me preparando psicologicamente, lendo e relendo a história, falando para minha mãe que eu não sou a Bia...

Ben Oliveira: Além da versão impressa, Remoto e Improvável também está disponível em eBook. Para você, quais são as vantagens do livro digital?

Paloma Leite: Eu descobri esses dias, quando estava planejando viajar que era mais fácil salvar livros no iPad do que levá-los na mala. Além disso, já aconteceu essa semana mesmo de eu achar um livro apenas em eBook, porque o físico estava esgotado. Mas eu adoro o livro físico, a capa, o cheiro...

Ben Oliveira: Neste mês de dezembro, foi lançado um concurso cultural na página do Facebook de Remoto e Improvável, no qual os leitores enviaram suas histórias de amor sobre relacionamentos à distância e complicados e o autor do melhor relato ganharia um livro. Como as redes sociais podem ajudar o autor contemporâneo? 

Paloma Leite: Acontece de eu seguir pessoas em redes sociais só porque gosto dos textos delas. Se um dia uma delas resolver publicar um livro, com certeza vai chamar a minha atenção. A maioria das pessoas conheceu o Remoto e Improvável pelo Facebook também. As pessoas passam mais tempo nas redes sociais do que lendo jornais e acabam se informando por lá. Estou vendo agora no Facebook vários posts com notícias da Xuxa, do Maluf... e desejando ler mais textos autores contemporâneos em vez disso.

Ben Oliveira: Além da interação por meio da leitura, Remoto e Improvável dá a opção dos leitores enviarem e-mails para os personagens. De onde surgiu esta ideia? 

Paloma Leite: A princípio, quando o Gui e eu estávamos postando os e-mails no blog, pensei em criar um perfil para a Bia, mas era uma brincadeira despretensiosa e seria muita coisa na época para administrar. Depois que Tarso e Bia viraram livro, nós criamos um e-mail para eles. Às vezes a Bia chama o Gui no chat, mas nem sempre ele responde. Ela e o Juca não se bicam também. Rsrs Acho bacana poder conversar com o personagem de um livro. Já pensou se pudéssemos mandar e-mails para a Capitu?

Ben Oliveira: Antes de escrever o livro, você já inventava histórias. Para você, o que não pode faltar em uma boa história?

Paloma Leite: Algumas histórias são épicas por si só, mas o que eu gosto mesmo é da forma como são contadas. Os meus autores preferidos são aqueles sensíveis, que transformam coisas banais numa história linda. Sabe o que Manuel Bandeira fez com o porquinho da índia e o que Adélia Prado fez enquanto limpava peixe com o marido? O Machado de Assis faz isso muito bem. Proust escreveu um dos livros mais lindos que eu já li, repleto de pequenos acontecimentos, mas escritos de uma forma incrível. Por isso, muitas vezes, nem me importo quando há spoiler. Todo mundo sabe que Romeu e Julieta morrem no final, mas todo mundo assiste de Zeffirelli a adaptações.

Ben Oliveira: Com o aumento do número livros digitais, especula-se que os livros impressos vão acabar. Porém, o número de plataformas de leitura não para de aumentar. Como você avalia este cenário?

Paloma Leite: Eu tenho em casa um exemplar do “David Coperfield”, do Dickens, tão lindo que dá dó de ler. Capa linda, texturizada, folhas lindas... pesa uma tonelada, é uma das paixões da minha estante e eu não li ainda. Meu Guerra e Paz é lindo, também, capa imitando veludo, até o cheiro é bom... Tenho um “Alice” que é bacana, edição comentada, mas esses dias vi uma edição linda que desejei muito. Então, enquanto algumas editoras capricharem tanto e enquanto existirem pessoas loucas como eu por edições lindas, DUVIDO que o livro impresso acabe. Se eu precisar de um livro guia, um dicionário, ou um manual, talvez eu prefira a versão digital. Acho que as plataformas digitais vieram para somar, não para substituir. Elas aumentam o acesso das pessoas aos livros. Esses dias só encontrei o pdf de um livro que está esgotado. Eu sou de Alfenas – MG, uma cidade que, apesar de ser universitária, nunca teve uma livraria (não que eu me lembre) e acho que ainda não tem. Se existisse o eBook quando eu ainda morava lá, com certeza eu teria lido muito mais na adolescência. Na época, eu só podia contar com o que me emprestavam, com a biblioteca do colégio ou com o que minha mãe trazia quando viajava.
Paloma conta ter realizado seu sonho de infância ao ver seu primeiro livro ganhando vida. Foto: Divulgação / Remoto e Improvável.

Ben Oliveira: Quais são os seus próximos projetos literários? Pensa em continuar escrevendo?

Paloma Leite: Estou com uma história na manga, bem triste e pesada, bem diferente de “Remoto e Improvável”, sem data para sair, mas espero que seja em breve. Além disso, antes mesmo da continuação da história da Bia e do Tarso, o Gui e eu já planejamos uma outra história para 2015, também epistolar. Mas eu acho que vou me realizar mesmo em um projeto para crianças, muito sério e muito complicado, que, por enquanto, é só uma ideia.

Ben Oliveira: Quais são os seus escritores (ou livros) favoritos?

Paloma Leite: Vinícius é o poetinha e sambista da minha vida; Guimarães é um exemplo de simplicidade, profundidade e sensibilidade; Proust é tão visceral que preciso estar muito preparada psicologicamente para ler os livros do “Em busca do tempo perdido” que faltam; “O pequeno príncipe” é o que temos de mais singelo e bonito... Poderia ficar horas falando. Este ano o “Ilusões Perdidas” do Balzac foi meu preferido. É difícil responder sem ser injusta, muitos mereciam ser citados.

Ben Oliveira: Quais conselhos você daria para escritores iniciantes?

Paloma Leite: Leia! Muito! O máximo que conseguir. Seja mais leitor do que escritor. Sempre.

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Comentários

  1. Muito bacana! É isso mesmo, todo escritor é, antes, um leitor. Bom ver histórias de novos escritores, o caminho trilhado. Serve de inspiracao!
    www.issorendeumahistoria.blogspot.com.br

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  2. Oi, Helia! Muito obrigado por sua visita.
    Concordo plenamente contigo e com a Paloma, é importante que o escritor leia muito, antes de se aventurar no universo da escrita.
    Também gosto de como essas entrevistas com escritores brasileiros contemporâneos pode inspirar muitas pessoas que desejam seguir o mesmo caminho!

    Abraços

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