O início do livro
O Branco se Suja pelo Esforço ou Aos feios sábios os belos bobos, do escritor
Roberto Muniz Dias, lembra um ensaio, no qual o autor discorre sobre a criação do seu personagem. A cada virada de página, o leitor é introduzido na atmosfera criada pelo narrador, uma jornada pela Europa para reconstruir
Nikhov. Nesta tentativa de reencontrar o personagem, o narrador também compartilha que a viagem havia sido adiada há 13 anos.
É interessante acompanhar a reflexão do narrador. Há momentos em que não se sabe se é o próprio autor quem está contando sua história ou se é um narrador, já que o ponto de vista usado é o da primeira pessoa, e ambos são escritores.
A busca pelo personagem também pode ser vista como uma busca por si mesmo. Então, o leitor é convidado a se aventurar pelos labirintos externos e internos, pelos cenários das cidades europeias, perspectivas do narrador e entrelinhas do texto.
Há momentos em que me perguntei se o livro não seria um ensaio, por associar à imagem do autor e ter um toque autoficção, em outros se não seria uma espécie de diário de viagem. Porém, Roberto surpreende o leitor neste jogo de intencionalidades, amarrando-o em sua própria construção da linguagem.
Ao mesmo tempo em que o narrador desfruta da solidão, ele tem sua missão, a de refazer os passos de Nikhov e entender o que aconteceu a ele. Teria o personagem realmente morrido? Se ele estivesse vivo, onde estaria? Que mudanças viriam desta redescoberta? Neste ideal de reencontro, o narrador busca uma explicação sobre o porquê de as coisas terem sido de um jeito e não de outro.
Ainda sobre o entendimento do personagem, no texto é revelado de onde surgiu o seu nome, da influência das leituras dos autores russos Anton Tchekhov e Nikolai Gogol. A narrativa tem o seu próprio ritmo. E mesmo diante da introspecção, é difícil conseguir parar de ler, uma vez que você começa – Roberto sabe como conduzir o leitor.
De repente, nos vemos diante do inesperado. Novos personagens aparecem. O narrador confronta sua própria criação. A loucura, a imaginação e a realidade se dissolvem num só universo. Uma morte. E-mails misteriosos. O desaparecimento de um diário. Estaria o narrador perseguindo ou sendo perseguido? Seria ele o criador de um personagem ou um personagem desenvolvido por outro escritor? Será ele o inventor de Nikhov ou uma vez que publicamos um livro, deixamos de ser o autor?
O Branco Se Suja Pelo Esforço traz repostas e ao mesmo tempo, cria novas inquietações sobre este processo mágico de dar vida a um personagem – muitas vezes, idealizações do escritor. Mais do que uma busca por Nikhov, a narrativa traz uma busca pelo amor. Um narrador em crise, os anos que se passaram, os personagens-fantasmas e reais, as linhas entre ficção e realidade e a oportunidade de contar uma nova história.
*A resenha do livro foi escrita com base no manuscrito do escritor Roberto Muniz Dias, enviado para que eu fizesse a
Leitura Beta. O Branco se suja pelo esforço ou Aos feios sábios aos belos bobos ainda não foi publicado em sua versão impressa, mas algumas partes do livro foram publicadas no Wattpad.
Sinopse: Um diário de bordo perde seu propósito original. O relato das aventuras de um turista retoma uma história de um livro-guia. Nesta viagem (em duplo sentido) o personagem-narrador vai alinhavando ficção da ficção e realidade para compor uma história de busca, autoconhecimento e amor. Uma novela intimista, mas que revela algo maior como a tentativa de sair do lugar comum da vida.
WOW!
ResponderExcluirAdoro essa aura de mistério, esse saber e não saber, criar suposições, tentar desvendar... não são todos os autores que conseguem fazer isso.
Descobri recentemente esse tal Wattpad e estou pensando em começar a escrever lá :3 haha parece ter muita coisa interessante.
Abraços,
Duas Leitoras
Oi, Kemmy!
ExcluirO livro tem esse toque de mistério e o personagem é um escritor que pensa estar enlouquecendo. O tipo de narrativa que me encanta!
Quanto ao Wattpad, também conheci recentemente. Fiz até uma conta lá, mas ainda não postei nenhum texto. A vantagem dele é que tem muitos livros gratuitos para ler online, sem falar que tem o aplicativo.
Abraços!
Há tempos queria realizar algum projeto com quadrinhos – sempre fui fascinado por desenhos e animação. Então surgiu a ideia de fazer algum texto infantil com ilustrações minhas, mas achei meu trabalho nesta área muito incipiente. Então, durante os estudos na Faculdade de Letras, comecei a usar as ilustrações de Esaul Furtado, para as projeções nos trabalhos e seminários de literatura, do qual eu exigia pequenas ilustrações para meus contos. Desde então, fiquei fascinado pelo trabalho dele. Isto foi lá pelos idos tempos de 2001. Hoje o trabalho do Esaul se profissionalizou, bem como o meu. E destas maturações surgiu um projeto em conjunto para confeccionar – soa como um trabalho manual e artesanal – um livro de ilustrações; de juntar nossos dois ofícios.
ResponderExcluirO nome do livro tem um título esdrúxulo, mas é apenas um capricho para encher a página da capa. Brincadeira! Tem a ver com tantas referências que acabou formando um complexo significado, mas que pode ser claramente percebido com a leitura do livro.
Tudo começa com uma folha em branco, tanto para o ilustrador quanto para o escritor. Daí já temos uma possível explicação para a primeira parte do livro. A segunda parte tem a ver com uma citação que li sobre o trabalho de Thomas Mann e sua suposta e perquirida homossexualidade (leitura que fiz do livro Tempos Sombrios de Colm Toibin). Alguns diziam que Mann nunca experimentara sua homossexualidade, mas apenas uma homofilia, um desejo recôndito e recluso. Mas liberado pela verve da Literatura em sua obra mais conhecida: MORTE EM VENEZA. A relação platônica de pura admiração do o escritor Gustav Aschenbach pelo jovem belo chamado Tadzio. Mas esta segunda parte do título não tinha (tem) a ver muito com a história em si, mas com escritores e pensadores que se perfilavam neste protótipo de filosofia não-procriativa. Li em outras passagens, em livros sobre a suposta homossexualidade de Mann. O livro no qual Carlos Haag tira uma citação do livro “Thomas Mann: Eros and Literature”, de Anthony Heilbut: “Ninguém antes de Mann conseguiu capturar a necessidade gay de justificar-se. ‘Morte em Veneza’ é um guia ‘Baedecker’ para o amor homossexual, visto como uma paixão assimétrica, ligando os sábios feios aos belos bobos. Pronto, temos a explicação completa.”
Comecei a escrever este livro, para que parecesse um diário de bordo de minha viagem à Europa, eis que "Um diário de bordo perde seu propósito original." E qual seria este novo propósito? Foi uma necessidade de entender o porquê de meu primeiro livro: Adeus a Aleto. Por que escolhi as paisagens, até então imaginativas, de uma Europa não visitada, apenas conhecida pelas minhas leituras e divagações. E também pela personagem principal desta história, Nikhov, que provocou reverberações em minha escrita até hoje. A tentativa foi de criar um Entendendo Adeus a Aleto, mas que não exigisse a leitura previa dele.
Portanto, convido-os para ler, conhecer este projeto de 2015, comentar, sugerir ilustrações, conversar com o escritor. O trabalho está em andamento e é publicado por capítulos no wattpad.com. Ao término será publicado um livro e serão sorteados exemplares, de capa dura, para os leitores. Então participem!
Os primeiros capítulos podem ser lidos aqui:
http://www.wattpad.com/85176605-o-branco-se-suja-pelo-esfor…
Nikhov - entre o desejo e a fuga.
ResponderExcluirAcompanhe e colabore com o projeto:
https://www.catarse.me/pt/nikhov