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Destaques

A terceira semana sem fumar cigarro

Como era difícil criar hábitos positivos. Havia acabado de passar da terceira semana sem fumar cigarro e ainda sentia certo desconforto. Seja para bem ou para mal, descobrira que mesmo após anos, algumas pessoas continuavam lutando contra a vontade de fumar, ou seja, era muito mais difícil do que parecia. Na tentativa de substituir comportamentos negativos por mais saudáveis, se via diante da necessidade de se desapegar um pouco da nostalgia e voltar a se focar mais no momento presente. Havia tomado mais do que o suficiente sua dose de nostalgia e agora estava preparado para continuar seguindo em frente. Era chocante o quanto o cigarro havia segurado comportamentos e ao abandoná-lo, comportamentos que antes estavam sob controle, agora pareciam soltos. Precisava de um detox das redes sociais, como quem sabia que fumar fazia mal. Precisava voltar a focar em si mesmo, deixando o passado de uma vez por todas para trás. Era no momento presente que ia celebrando as pequenas conquistas. Para ...

Resenha: Confesse-me – Hugo Ribas

Durante esta semana li o livro Confesse-me, do autor Hugo Ribas, de 104 páginas, publicado pela Giostri Editora. O exemplar foi enviado pelo escritor, para que eu pudesse resenhar aqui para o blog. Para quem conhece artistas, sabe que as escolhas feitas por eles são permeadas por dúvidas, preconceitos e estranhamentos de si mesmo e dos outros.

Assim é a história de Hector, o protagonista de Confesse-me, um rapaz que sonhava em se tornar escritor, mas por causa da necessidade de sobreviver e pagar suas contas, acabou enterrando estes desejos dentro de si.

O livro é narrado em 1ª pessoa e 2ª pessoa, sendo que a segunda opção não é tão comum nas ficções atuais. É possível perceber uma forte influência das crônicas e do teatro na escrita de Hugo Ribas. Como o protagonista se vê frustrado com o rumo que sua vida tomou, sua linguagem é ríspida e ácida e sua personalidade é marcada pelo pessimismo, bem como pela covardia de ser incapaz de correr atrás do que ele deseja e projetar nos outros a culpa.

"... Talvez se eu tivesse confiado mais em mim... Talvez se na adolescência eu não tivesse aceitado aquele primeiro emprego comum e buscasse qualquer coisa relacionada à escrita... Sabe essas perguntas todas que vêm à cabeça todas de uma vez nos momentos de dificuldades? Sabe aquela sensação de que até então sua vida inteira foi um erro grotesco, uma verdadeira cagada?".

Para quem é escritor, e assim como Hector já teve que abrir mão dos seus objetivos, não há como não se identificar com o personagem. Porém, ao mesmo tempo em que o leitor simpatiza com a amargura de Hector, ele sente vontade de sacudi-lo e fazê-lo acordar para a realidade.

A história se passa entre o presente e o passado, no qual Hector compartilha a história de sua família, o vazio que sente e as contas que precisa pagar. A transformação do personagem acontece de forma brusca ao longo das páginas – o rapaz que costumava ser feliz e ter uma vida estável, ainda que maçante, torna-se um ser humano egoísta e mal-humorado.

Em alguns momentos do livro me vi na pele do personagem, enquanto em outros senti vontade de estapeá-lo. Apesar de o protagonista ser escritor, e muitas pessoas não se identificarem com ele por causa da profissão, creio que o ponto principal é a morte dos sonhos, o existir e deixar os dias se arrastarem e a realização do artista ao fazer aquilo que ama.

A luta de Hector é a mesma que centenas de escritores iniciantes e demais artistas enfrentam no dia-a-dia. É interessante observar como o personagem vê a própria miséria através dos olhos dos outros e enxerga uma sociedade repleta de “mortos-vivos” que odeiam o próprio trabalho, mas no final do dia necessitam pagar suas contas. Hector também tem uma visão ingênua e idealista do ofício de escritor, uma que em poucos casos corresponde à realidade do mercado editorial brasileiro, por exemplo.



"Sobreviver... Era isso o que ela fazia todos os dias. Sobrevivia. Trabalhava, trabalhava, trabalhava para sobreviver, ocultando tudo o que de melhor existia nela".

De todas as lamentações do personagem, talvez a minha favorita seja a do respeito pelo escritor. Familiares, colegas e o próprio protagonista possuem uma aversão pelo ofício, ainda que tentem apoiar. Se o escritor profissional tem dificuldades para pagar suas contas, quem dirá alguém que ainda nem publicou o seu livro. Quando ele responde “sou vendedor”, quando perguntam a sua profissão, ainda que ele esteja desempregado, Hector percebe o próprio medo de admitir em voz alta que é escritor. Esta insegurança, no entanto, não é imaginária, visto que o autor de livros é julgado a todo tempo, seja por quem vê sua escrita como um hobby, o enxerga como um vagabundo e/ou o critica quando ele lucra com sua própria arte, como se para ser artista fosse preciso passar fome e falhar fosse uma necessidade, a qual ele devesse se desculpar pelo próprio sucesso.

O diálogo entre narrador e personagem conduz o leitor pela narrativa. Para quem está desacostumado a ler novelas, a extensão da história pode desagradar um pouco, já que nas livrarias são encontrados mais romances. Senti falta de mais exploração da metalinguagem – como o desenvolvimento das ficções que o Hector escreve – e do processo de criação literária, porém talvez seja intencional para não ‘assustar’ os leitores que não estão acostumados com a ficção sobre a ficção e apresentar uma linguagem mais simples e acessível.

Para quem não está familiarizado com os problemas que o artista enfrenta antes de aceitar o chamado da musa e reconhecer seu ofício, Hugo Ribas apresenta um relato fiel e realista. Afinal, entre o desejo de escrever e publicar um livro, o qual muitas pessoas têm, e a transformação em objetivos e concretização, há uma linha não tão tênue assim.

Sobre o autor – Hugo Ribas é criador do Blog Versos de Argila, onde publica suas crônicas e
entrevistas com escritores brasileiros. Nascido em 1985, na cidade de Jundiaí (SP), mudou-se para São Paulo (SP) aos 16 anos, onde se formou em Design Gráfico e cursou teatro pelo Teatro Escola Macunaima. O autor vive atualmente em Itatiba (SP).

Confesse-me pode ser comprado nos sites da Livraria Cultura e da Cia dos Livros

O livro também já pode ser adicionado ao seu Skoob. Não deixe de curtir a página do livro no Facebook: https://www.facebook.com/confesseme

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