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Destaques

Born This Way: Hino LGBTQIA da Lady Gaga e sua importante Fundação

Os anos passam mais algumas músicas continuam fazendo sucesso. Neste mês do Orgulho LGBTQIA , Born This Way , da Lady Gaga , permanece sendo reconhecida como um hino LGBTQIA. Mais do que cantar sobre a causa, a importância da própria identidade e aceitação, a cantora da música lançada em 2011 é também co-fundadora de uma fundação que apoia comunidades LGBTQIA. Segundo informações do site da Born This Way Foundation , a missão é: “Empoderar e inspirar os jovens a construírem um mundo mais gentil e corajoso que apoia a saúde mental e o bem-estar deles. Baseado na relação científica entre gentileza e saúde mental e construído em parceria com os jovens, a fundação incentiva pesquisa, programas, doações e parecerias para envolver o público jovem e conectá-los com recursos acessíveis de saúde mental”. Mais do que uma música para inspirar a Parada do Orgulho LGBTQIA ou ser ouvida o ano inteiro, Born This Way deixou esse grande legado que foi a fundação que já ajudou muitos jovens LGBTQIA. E o...

Resenha: A Visita – Alex Francisco

Minha leitura desta semana de carnaval foi o livro A Visita, do dramaturgo e escritor Alex Francisco, publicado pela All Print Editora, em 2013. O texto foi escrito originalmente para o teatro e é difícil ler sem ficar imaginando os personagens atuando no palco – a barreira entre a dramaturgia, os personagens e a vida real se dissolve e fica evidente conforme o autor faz seus apontamentos e a trama se desenvolve.


Logo nas primeiras páginas, o leitor é apresentado aos personagens da peça, sendo que os principais são Dalmo e Tales. A narrativa é dividida em três atos e várias cenas. Pelos primeiros diálogos e cenários, descobrimos que um dos personagens foi condenado a 12 a 30 anos de prisão.

“Eu amei. Eu amei com o coração (bate no peito), com a alma. Mas acho que nem você aceita meu jeito de amar, né? (fita o chão) Não tá escrito naquela sua bíblia, né não?”.

Assim que descobrimos que é Dalmo quem está preso – não é nenhum spoiler, já que a informação está na orelha do livro –, ainda falta saber quais foram os motivos que o levaram até ali. Outro ponto importante é a visita inesperada de Tales que não só pega Dalmo de surpresa, mas também o leitor. Então, o casal aproveita o tempo juntos para matar a saudade e reviver vários momentos de alegria e dor, prazer e solidão, amor e separação.

A narrativa nos leva para o presente (cela do presídio) e para lugares fora da prisão onde os caminhos de Dalmo e Tales se cruzaram. O leitor é levado pela onda de nostalgia do casal gay. E a cada cena, somos presenteados com mais uma peça do que aconteceu. Alex Francisco consegue instigar bem o leitor a cada início, meio e fim de cena, nos deixando suspensos por seus fios, nos balançando de dentro para fora pelas reviravoltas e nos preparando para o clímax.

Enquanto o tempo vai passando, Dalmo se preocupa com Tales: Como o homem que ele ama vai fazer para sair da prisão, sem que ninguém o veja? Ele não quer que o namorado passe pelas coisas ruins que ele teve que aguentar lá dentro.

“Eu lembro muito bem dessa sua vergonha. Desse medo que você tinha de que os outros descobrissem que você é gay. Você tinha muitos problemas para se aceitar, lembra?”.

Com uma boa dose de realismo, A Visita não se foca somente no amor gay, mas entre uma série de problemas que estão relacionados à homofobia (seja ao preconceito da sociedade ao aceitar, como a homofobia internalizada), o comportamento de quem não se aceita e inconscientemente é levado ao caminho da autodestruição, a violência física e sexual, o abuso de substâncias, como drogas e álcool, os estereótipos (todo gay é promíscuo, entre tantas outras generalizações que quando se tratam de heterossexuais é considerado normal, mas quando se trata do público LGBT é vulgarizado).

Embora o clímax da história proporcione um momento libertador, esqueça o clichê do viveram felizes para sempre – se bem que nas histórias com temática gay, geralmente, acontece o contrário. Da mesma forma que a trama se desenvolve de maneira ora romântica, ora ácida, o leitor sente essas diferentes emoções misturadas à revolta.

A jornalista e romancista Vânia Coelho faz uma síntese ótima no prefácio do livro sobre o sofrimento de Dalmo, que não é só dele, mas de muitos homossexuais do mundo todo: “Uma personagem perdida por amar, perdida por querer e, perdida pelas mãos dessa mesma sociedade que pune e vigia, exatamente como o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) havia previsto em seus livros e textos teóricos sobre o quão louca e demente é a sociedade em que vivemos”.

Além de Dalmo e Tales, os personagens ao seu redor também influenciam os seus destinos. O pai de Tales, Inácio não só não o apoia, como é diretamente relacionado ao sofrimento imposto ao casal. Quantos gays sofrem por causa de suas famílias, seus preconceitos e medo do que os outros possam pensar do que pelos problemas reais? A família que machuca não só quando toma ações drásticas como colocar o filho para fora e tratá-lo mal, mas também diante do silêncio, do fingimento.

“Eu não aguento de tanta saudade, Dalmo. Ficar longe de você tá me matando a cada dia. (pausa) Será que cê ainda não entendeu isso? Que é horrível ficar longe de você?”.

O final do livro me deixou com uma pulga atrás da orelha, não por esperar que as coisas se revolvessem magicamente, mas por causa do diálogo entre Dalmo e Tales, no qual o segundo declara: “Gosto de pensar que a vida sabe o que faz”. Assim como na vida real, nem sempre as coisas terminam como nós esperávamos – o que não deixa de ser um ótimo exercício de aceitação de nossas próprias limitações e do que foge aos nossos controles.

Difícil mesmo é chegar até a última página e ficar com desejo de assistir ao espetáculo – bom para quem mora onde a peça é apresentada! Acredito que como o texto é voltado ao teatro, a atuação dos personagens e suas falas transmitem mais emoções e o impacto é maior. A narrativa de A Visita é bem ágil e as informações são dadas ao longo dos diálogos. A intervenção do narrador é mínima se limitando aos movimentos dos personagens sobre o palco e a descrição cenográfica: os holofotes são de Dalmo e Tales que nos arrebatam com sua história de amor e superação, com uma dose de tristeza e a certeza de que a sociedade ainda precisa melhorar muito.

Sobre o autor – Alex Francisco é jornalista e escritor. Autor das peças Os Deuses do Olimpo (destaque da Mote 2002), Fashion, do livro-reportagem Castelo – Páginas de Uma Vida, e roteirista de Desert e À Flor da Pele. É repórter da revista ShowTV! do Agora São Paulo (Grupo Folha).

Gostou da recomendação de leitura? Não deixe de compartilhar o post! O livro A Visita pode ser comprado no site do Submarino e da Americanas

Para ficar por dentro das novidades do livro e suas apresentações teatrais, curta a página no Facebook: https://www.facebook.com/avisitaoficial/. O livro também está presente no Skoob – maior rede social para leitores do Brasil!

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