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Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Resenha: O Que é Herói – Martin Cezar Feijó

O livro O Que é Herói foi escrito por Martin Cezar Feijó, publicado pela Editora Brasiliense, em 1984. A obra explora o herói, também conhecido como o personagem principal das narrativas, descrevendo suas diferentes representações ao longo dos séculos.

Nas primeiras páginas do livro, Feijó (1984) descreve o início da aventura heróica, usando como referência a mitologia grega – numa época em que a literatura se confundia com a história e as pessoas não distinguiam o mito da realidade. Entre os personagens que se destacam neste período está Hércules, com seus doze trabalhos.

Entre os diversos tipos de heróis descritos por Feijó (1984) estão: 1) Herói-mitológico; 2) Herói-épico; 3) Herói-trágico; 4) Herói-cultural; 5) Herói-bandido; 6) Herói-romântico; 7) Herói-problemático; 8) Herói-revolucionário.

O autor começa pelo herói e o mito. “Os mitos refletem sempre um medo da mudança” (FEIJÓ, 1984, p. 13). Através deste medo das transformações, os heróis foram criados como uma tentativa de consolar os humanos e suas fraquezas, o que pode ser evidenciado em suas características. Feijó (1984) descreve três ciclos da mitologia grega, sendo a primeira sobre os deuses originários, a segunda sobre os deuses que venceram os originários e habitaram o Monte Olimpo e o terceiro com os semideuses (filhos de deuses com mortais e seus ciclos heróicos).

Além dos heróis da mitologia grega, Feijó (1984) cita o ciclo dos Winnebagos, com seus diferentes estágios, desde o rudimentar até os valentes. O autor também descreve a importância da psicanálise para o melhor entendimento desta relação entre os heróis, a mitologia e a literatura, citando nomes como Freud, com seus trabalhos sobre o inconsciente e a interpretação dos sonhos e Jung, com os arquétipos e relações entre os sonhos e os símbolos culturais.

Com o desenvolvimento das sociedades mais organizadas e a difusão da cultura escrita, a figura do herói permanece, porém desta vez com um viés mais político-ideológico. Feijó (1984) cita Alexandre, um exemplo real de pessoa-personagem que tinha conhecimentos filosóficos e artes militares e se transformou num mito. “Como o gênio, o herói deve conquistar não apenas a admiração pelos seus feitos e sua coragem, mas também o afeto de seus povos pelo caráter cristão. Somente assim ele atingirá a eternidade” (FEIJÓ, 1984, p.28).

Após esses heróis idealizados do ponto de vista ‘moral’, começam a surgir novas personas, como o herói bandido cuja importância estava em buscar a justiça para os desfavorecidos, como Robin Hood.
As transformações culturais influenciaram uma necessidade de problematizar o herói. Passa-se a questionar a importância destes personagens não só para a tradição narrativa, mas para os cidadãos. Segundo um estudo de Carlyle comentado por Feijó (1984), existia uma necessidade de culto ao herói, que ajudava a manter sob controle os ânimos da população, evitando as revoluções. Hegel também deixa sua contribuição, questionando a relação entre o tempo e a cultura e Marx dando força ao indivíduo, de forma que ele era o único responsável pela suas transformações e deveria ser autônomo. “A espera do herói é sempre a espera de que o ‘outro’ faça por nós o que nos consideramos incapazes de realizar” (FEIJÓ, 1984, p;. 39).

O herói revolucionário também é um dos marcos destas novas facetas, através da qual há uma relação ambígua de exaltação e revolta contra o herói. Entre os exemplos do livro está Che Guevara, um revolucionário cuja imagem é até hoje utilizada por alguns jovens sem ter ideia de seus discursos, enquanto para outros é visto como um ‘assassino’ guerrilheiro.

Quando se trata do herói brasileiro, Feijó (1984) alerta que como quase tudo o que acontece no país, este personagem também é atrasado. Como exemplo se tem Tiradentes, embora esta relação entre herói e sociedade está sempre a serviço da ideologia dominante.

Com o desenvolvimento da literatura e os artistas que estabelecem critérios estéticos na criação de narrativas, Feijó (1984) afirma que a importância do herói está na transferência de emoções entre o leitor e o protagonista. Através do acompanhamento da maturação do herói, o leitor acaba descobrindo a si mesmo. Como destaques estão o herói épico e o herói trágico e suas humanizações, permitindo maior identificação entre leitor-personagem. Enquanto o primeiro está mais relacionado à vitória, o segundo possibilita um forte envolvimento emocional.

"No mito, o que prevalece é o destino, do qual nenhum homem escapa; Na tragédia, o que se destaca é a luta do herói contra o destino. O herói trágico é derrotado diante da força do destino, mas o que humaniza, o que dá a ele ‘paixão terrestre’, é exatamente a sua luta contra isso". (FEIJÓ, 1984, p. 61).

Dos heróis divinos, com a literatura passou a se valorizar o herói humano. De acordo com Feijó (1984), a Idade Média foi marcada pelo herói de novelas (guerreiros), já no século XVI, há um descrédito, como acontece com Dom Quixote, o personagem principal da história criada por Cervantes. Esta nova faceta é chamada de Herói Moderno, na qual o herói não se aventura como nas epopéias, mas deseja se tornar aquilo que não é.

Da difusão do herói moderno, surgem vários outros heróis, como o herói jovem, cujo destaque foi o Jovem Werther de Goethe, com suas paixões desenfreadas e conflitos internos que o levam ao suicídio e acaba influenciando muitos jovens a seguirem o mesmo destino.

Com o século XIX, a imprensa fica mais forte e surge o início da literatura de massa com o folhetim. Feijó (1984) explica que há uma preocupação com a verossimilhança dos personagens, crítica contra a alienação e questionamento da figura do herói, devido ao contexto de transformações na vida humana.

No último capítulo do livro, Feijó (1984) fala sobre a influência da indústria cultura na idealização do herói. Para o autor, há um nivelamento por baixo, e esta literatura não se torna só mais fácil de entender, mas também descartável. Além da imprensa, os destaques também são as histórias em quadrinhos, o rock e o cinema. O herói rebelde ganha força e destrói valores, permitindo ao jovem a possibilidade de descobrir seus próprios caminhos.

Feijó (1984) finaliza o livro com humor: “... Devo lembrar aos candidatos a herói que a primeira condição para sê-lo é fazer uma temporada no Inferno”.

Todas as informações transmitidas pelo autor ajudam na melhor compreensão deste elemento fundamental para as narrativas de ficção que, nos dias atuais, não se limitam às obras literárias, mas transitam para outros formatos, como seriados, filmes, histórias em quadrinhos e jogos. Feijó (1984) leva o leitor para uma viagem cronológica sobre os diversos tipos de heróis e nos faz refletir a força da ideologia na produção literária e na idealização daquele personagem principal com o qual tanto torcemos (ou não), mas que nos provoca uma série de sensações.

Com mais conhecimento sobre os heróis, torna-se mais fácil entender porque este personagem não é estático, suas representações mudam com o passar do tempo e desconstruir alguns conceitos. Através destas diferentes perspectivas, notamos que as sociedades se transformam, mas os heróis continuam sendo importantes para humanizar as narrativas, nos fazer identificar com elas e provocar boas doses de entretenimento e catarse, elementos fundamentais para o nosso bem-estar e reflexão sobre a vida.

Referência Bibliográfica

FEIJÓ, Martin Cezar. O que é herói. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984. 103 p.

Comentários

  1. Excelente análise Ben Oliveira. Precisão e retenção de informações importantes.
    Bom saber que o Blogue e o Blogueiro estão vivos!
    Parabéns!

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    Respostas
    1. Oi, Roberto!
      Também fico feliz em ainda arranjar um tempo para atualizar o blog.
      Estou meio sumido, pois derrubei chá quente no meu notebook... Já dá para imaginar o que aconteceu, né? Tive que comprar um novo teclado, mas ainda não sei se instalaram, se chegou ou quando fica pronto. Isto que dá tentar fazer mil coisas ao mesmo tempo...
      Obrigado pela sua visita!
      Abraços

      Excluir

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