Os anos passam mais algumas músicas continuam fazendo sucesso. Neste mês do Orgulho LGBTQIA , Born This Way , da Lady Gaga , permanece sendo reconhecida como um hino LGBTQIA. Mais do que cantar sobre a causa, a importância da própria identidade e aceitação, a cantora da música lançada em 2011 é também co-fundadora de uma fundação que apoia comunidades LGBTQIA. Segundo informações do site da Born This Way Foundation , a missão é: “Empoderar e inspirar os jovens a construírem um mundo mais gentil e corajoso que apoia a saúde mental e o bem-estar deles. Baseado na relação científica entre gentileza e saúde mental e construído em parceria com os jovens, a fundação incentiva pesquisa, programas, doações e parecerias para envolver o público jovem e conectá-los com recursos acessíveis de saúde mental”. Mais do que uma música para inspirar a Parada do Orgulho LGBTQIA ou ser ouvida o ano inteiro, Born This Way deixou esse grande legado que foi a fundação que já ajudou muitos jovens LGBTQIA. E o...
Quando fiquei sabendo que a Editora Empíreo iria publicar Eu Vejo Kate: O despertar de um serial-killer, da escritora Cláudia Lemes, de 392 páginas, logo me veio aquela vontade de ler o livro. Para quem gosta de livros de thriller com assassinos em série, a sinopse já é um convite irresistível, principalmente se você também escreve narrativas e se identifica com personagens escritores:
“Uma escritora obcecada. Um agente do FBI com a carreira em risco. Um serial killer... morto. Três personagens. Três narradores. Uma pergunta. Quem está matando as mulheres de Blessfield?”.
Kate decide escrever um livro biográfico sobre Nathan Bartham Bardel, um serial-killer que ficou conhecido como O Esfaqueador de Dramas de Blessfield e quanto mais pesquisa sobre a vida do assassino, mais os dois fortalecem um vínculo. Aliás, mesmo morto, Nathan é um dos narradores da história – mas, atenção, o foco do livro não é o sobrenatural, foi um recurso interessante utilizado pela Cláudia Lemes para ampliar os pontos-de-vista, sem abrir mão da primeira pessoa, que possibilita ao leitor se identificar ou não com os outros personagens-narradores.
Eu Vejo Kate intercala, principalmente, três narradores, sendo que Kate e Ryan narram em primeira pessoa, enquanto Nathan, apesar de se expressar e compartilhar suas emoções e memórias, é capaz de acompanhar os outros dois personagens e descrever o que vai acontecendo por meio da terceira pessoa. Esse jogo de focos narrativos torna o romance mais envolvente e ajuda a criar o clima de suspense e manter o leitor fisgado. À medida que o texto vai desenrolando, outros narradores surgem.
Os três personagens principais vão se transformando ao longo da narrativa e cada um é complexo à sua maneira. Nathan sente prazer e dor ao ver sua história revirada. Kate é determinada para conseguir o que deseja, como continuar investindo em sua carreira de escritora, mas como muitas almas criativas acaba flertando com a escuridão. Por fim, Ryan à primeira vista parece um homem amargo, com um passado de culpas e, ao mesmo tempo, é corajoso. Seus caminhos se cruzam, quando a autora precisa da ajuda do profiler (especialista em traçar perfis criminosos) para obter mais informações sobre o serial-killer.
“Kate fuma enquanto pensa em mim. Ela está se colocando no meu lugar. Como eu, ela entende que fiquei do jeito que fiquei por causa da maneira como fui criado. Ela levanta a perna da calça um pouco e olha o X com tristeza. Passa os dedos sobre sua seca e fina crosta de sangue”.
A escritora fica fissurada para escrever a história de Nathan e o tema escolhido para sua obra e suas pesquisas acabam provocando reações internas e externas, movimentando a trama. O romance está dividido em três partes, respectivamente: O Despertar, A Matança e O Acerto de Contas. A história é narrada de forma linear, embora em alguns instantes o leitor tem a oportunidade de saltar por algumas memórias dos personagens, seja através da mente, dos diálogos ou dos arquivos.
Um ponto que se destaca no livro é a linguagem do romance policial. Mesmo que não fosse identificado quem é o narrador, daria para perceber a diferença no tom de cada um deles. É interessante como Nathan tenta se projetar nos personagens principais, de forma que nem sempre é possível saber até que ponto dá para confiar no que está sendo narrado, se esses sentimentos são realmente reais, como esse mergulho no passado até afetando cada um deles ou se não se passam da visão do serial-killer. A autora tenta deixar de forma mais verossímil possível os impulsos, instintos e vícios dos personagens, sem receio de deixá-los se expressarem como desejam – por exemplo, quando pende para a violência, sexo e cenas mais pesadas, o que por vezes pode ser meio difícil, pois exige coragem para expressar esta linha tênue entre o erótico e o grotesco.
“A minha parede é agora uma colagem de mulheres assassinadas, detalhes sobre modus operandi, datas, nomes e ferimentos. A visão é terrível, especialmente agora que eu tenho acesso às fotos das cenas dos crimes e dos cadáveres...”.
Mesmo morto, Nathan fica puto quando descobre que um novo assassino em série está tentando imitar os seus passos. É aí que os caminhos de Ryan e Kate continuam se cruzando, como se toda a pesquisa da escritora e o receio do agente de relembrar sobre o monstro tivessem despertado o interesse de alguém fissurado por Bardel. Como os personagens são bem voláteis e estão longe de serem comuns, a identidade do imitador de Nathan Bardel é desconhecida e qualquer um pode ser um possível suspeito.
Para quem está desacostumado com narrativas sobre assassinos (livros, filmes e seriados), Eu Vejo Kate pode impactar por trazer descrições polêmicas, como mortes violentas e abuso sexual. Quem já assistiu ou leu Dexter e Hannibal, por exemplo, vai reconhecer algumas das características de psicopatas, como os padrões que se repetem nos diferentes casos, o prazer de causar dor ao outro, a perversão e incapacidade de sentir compaixão, além dos traços e gatilhos que podem ser notados desde a infância.
“A garota está no chão, não na cama, embora a cama seja uma bagunça sangrenta. Ela é um pedaço de carne, toda sangue e tripas, e me preparo quando me aproximo, cuidadosamente, e olho seu rosto. Seus olhos estão fechados, há hematomas no pescoço, assim como arranhões de unhas que ela deve ter feito enquanto tentava remover as mãos que a estrangulavam. Seu rosto está voltado para o lado, sem vida”.
Sempre que lemos sobre alguma novidade e/ou alguém comentando que tal livro é bom, principalmente quando traz a recomendação de algum outro autor, como o texto da contracapa escrito pela escritora e criminóloga Ilana Casoy, questionamos se realmente é tudo isso... Desde que comecei a ler Eu Vejo Kate, mal consegui me concentrar nos estudos e nas outras coisas que precisava fazer. Tudo o que eu queria era continuar lendo e lendo, até descobrir o que aconteceria a Kate, quem era o assassino e como a história terminaria.
O Thriller é um gênero da literatura e como seu próprio nome indica, tem como proposta envolver o leitor com uma narrativa eletrizante. Cláudia Lemes me conquistou com Eu Vejo Kate e foi melhor do que eu esperava que seria. Sabe quando o escritor conta a história de maneira tão envolvente que a figura do autor chega a desaparecer e sequer se passa na cabeça do leitor se questionar sobre a verossimilhança da trama? No momento da leitura não me perguntei se o autor era brasileiro, se era homem ou mulher, se era o primeiro livro, se era um best-seller ou qualquer outra informação que muitas vezes influencia o leitor e acaba o afastando de determinados livros – o bom livro te fisga e te transportar para o universo da ficção, de forma que nada disso importa. Viajei, literalmente, pelo romance e me atrevo a dizer que gostaria de ter escrito o livro. Arrepiei com as últimas palavras... Preciso dizer mais alguma coisa?
Sobre a autora – Cláudia Lemes nasceu em Santos (SP), cresceu no Rio de Janeiro, onde – sob a forte influência da mãe, professora de literatura – tornou-se uma leitora compulsiva. Viveu em São Paulo, onde estudou criminologia por hobby e despertou a curiosidade pela mente de assassinos em série. Após dez anos de pesquisa, nasceu Eu Vejo Kate: O Despertar de um Serial-Killer. Atualmente, Cláudia mora em Santos, com o marido e os três filhos.
*Deixo aqui a minha gratidão pela Editora Empíreo pelo exemplar cortesia de Eu Vejo Kate para que pudesse resenhar para os leitores do blog... Obrigado! É tão bom quando a parceria entre blogueiro e editora dá certo.
Gostou da recomendação de leitura? Compartilhe e interaja para que possa continuar trazendo mais novidades!