Nada será como foi um dia. Isso pode ser confortável ou desconfortável. E ambas coisas podem ser verdadeiras. Talvez precisava mudar os padrões, encerrar os ciclos para finalmente vivenciar o presente. Ninguém disse que seria fácil. Ninguém disse que banalizaram tanto as coisas que tudo parecia fácil como num ato de auto-ajuda. Não, as coisas eram muito mais complexas ao vivo. Escrevia um novo caminho. Evitava repetir o mesmo erro que sempre o mantinha preso à nostalgia. Não, agora queria viver o momento presente. Escrevia para deixar pra trás. Escrevia. Continuaria escrevendo, até que tudo não se passasse de memória e as coisas não doessem mais assim. *Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo . Autor do livro de terror Escrita Maldita , p ublicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2) , disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.
A leitura e o mar. Se você prestar atenção neles, vai perceber que os dois têm mais coisas em comum do que imaginamos. Neste movimento de avançar e recuar, de crescer e arrebentar, de carregar e desapegar, acabamos aprendendo mais sobre nós mesmos.
Alguns livros são como praia em dia frio. A água está tão gelada, que temos receio de molhar os pés – é preciso coragem para encarar o desafio. De repente, nos damos conta de que não está tão congelante quanto imaginávamos. Nunca teríamos descoberto, se não tivéssemos ousado sair da nossa zona de conforto.
Há autores que seguram nossas mãos e conduzem até o mar, nos mantendo confortáveis e aquecidos, bancando o salva-vidas para quando precisarmos. As ondas nos balançam com tanta delicadeza, que é como ser abraçado pelas águas. Nos sentimos tão leves e fluidos. A tentação de ficar para sempre ali é grande, mas podemos sentir as areias nos nossos pés, um lembrete de que a qualquer momento é hora de voltar para casa.
Outros nos levam a desafiar nossos limites – somos hipnotizados pelo canto da sereia e continuamos indo cada vez mais fundo, sem nos importarmos se é perigoso ou não… Queremos nos afogar e beber tanta água salgada até perdermos nossa consciência, até chegar até a última página. Queremos desesperadamente fazer parte daquelas histórias, rasgar nossa pele e nos colocarmos dentro daquelas personagens, mesmo que o sal faça arder cada corte.
Entre afogamentos e encantamentos, querendo ou não, uma vez em contato com essas narrativas, é muito difícil não deixá-las nos transformar. Queremos a brisa tocando nossos cabelos e acariciando nossas almas. Queremos livros que façam nossos corações baterem com mais força, que nos façam sentir vivos – leituras que recarreguem nossas energias e nos aliviem do angustiante peso do cotidiano.
Deixamos nossos fragmentos de pele, cabelos e energias no mar que se misturam com o sal e a areia. Como toda boa leitura, ao mergulhar nas páginas e sentir as letras nos invadindo, também vamos deixando nossas marcas no livro. Saímos da praia, mas parte dela permanece conosco. Não somos os mesmos de antes, não somos os mesmos de depois. Como o mar, continuamos transformando e espalhando nossas histórias por aí… Até o dia em que entramos em outras águas, deixamos outras ondas desafiarem nossas estruturas e o ciclo recomeça.
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