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Destaques

Resenha: Tempo de Cura – Monja Coen

O livro Tempo de Cura , da autora Monja Coen , está repleto de reflexões e foi escrito no período da Pandemia de Covid-19, no período em que o Brasil e o resto do mundo estava lidando com questões como o isolamento social e o uso de máscaras respiratórias, bem como com pessoas que se negavam a seguir as orientações de saúde pública. O livro foi publicado pela editora Academia , em 2021. Compre o livro: https://amzn.to/3PiBtFO Em um período difícil, no qual as pessoas tiveram que lidar com a solidão, doenças e mortes, o livro escrito pela Monja Coen serviu como bálsamo para acalmar os corações e mentes – e pode ser lido até nos dias atuais, pois nunca estamos completamente imunes a passar por uma próxima pandemia e a doença permanece causando impactos para a saúde da população.  Compartilhando suas primeiras experiências com o zen e a meditação, Monja Coen é certeira em falar sobre a importância da paz e da cura e da preocupação com o bem-estar coletivo, dando como exemplo as orientaçõe

Resenha: Os Pássaros – Frank Baker

Pássaros pretos sobrevoam Londres, provocando o caos por onde passam, atormentando, machucando e matando pessoas. O que está acontecendo? O protagonista e narrador do livro Os Pássaros, do escritor Frank Baker, é o responsável por levar o leitor a desvendar esse mistério no romance, repleto de críticas à sociedade da época e ao moralismo. Publicada originalmente em 1936, a obra literária foi republicada em 2016 pela editora DarkSide Books, com tradução de Bruno Dorigatti.


A introdução do livro Os Pássaros foi escrita por Ken Mogg, um autor de artigos sobre o diretor de cinema Alfred Hitchcock. No texto, ele faz um breve levantamento sobre o romance apocalíptico de Frank Baker e a relação com o filme homônimo, comentando a relação que tanto o escritor como o diretor fazem entre os pássaros e os homens. Por que essas aves têm preferência por atacar algumas pessoas?

No prefácio do livro, Anna, a filha do narrador, comenta que uma das frases que o pai mais usava era “Antes da chegada dos pássaros”. A ideia de introduzi-la no início e final do livro dá mais verossimilhança para a narrativa, como se fosse uma pessoa real contando para o leitor uma história que lhe foi contada. Outro ponto que contribui para tornar a narrativa mais realista é a dose de autoficção, na qual Frank Baker usa suas experiências como trabalhador de uma empresa de seguros para descrever a rotina do personagem.

“Então, abri meus olhos e, em uma visão breve e brilhante, eu vi, como havia visto anos antes, a confusão e o horror ocasionados pela decadência de minha civilização. Como uma sombra ao meu lado, o jovem permanecia ali. Através dos seus olhos, vi as pessoas correndo desordenadamente morro abaixo, caindo umas sobre as outras e chorando em seu voo sem sentido. Misturando-se a essa multidão, amontoavam-se as asas negras de um milhão de pássaros, como nenhum pássaro que jamais havíamos visto por aqui” – Frank Baker

Desde as cenas mais ordinárias do cotidiano do protagonista até as cenas de ações, Frank Baker explora os conflitos da natureza humana. A moral e as neuroses dos personagens principais são colocadas sob o holofote. Quando o leitor percebe que os pássaros não são só fonte de mistérios externos, mas estão interligados com os demônios interiores das pessoas, seus desejos e segredos, essas criaturas vão ganhando mais traços relacionados à personalidade de cada um.



Ao longo da leitura, há inúmeras possibilidades de análises sobre esses pássaros. Os crocitares e bicadas que levamos em nossas mentes, nos fazem refletir que ao mesmo tempo em que essas aves podem ser perigosas quando não se há equilíbrio, também podem ser responsáveis pelo fim de nossas existências, quando resistimos muito a aceitar elementos que fazem parte de quem nós somos, é como se estivéssemos dando socos no espelho e, eventualmente, esses vidros e reflexos podem se quebrar, rasgar e até mesmo, nos matar.

“No meio desse pandemônio, uma longa fila de veículos, cheios de pessoas e cobertos com as formas pretas dos pássaros retorcidos e esmagados nas janelas, com desagradáveis batidas de asas magras, e também carros menores, de todas as cores e formatos” – Frank Baker

Uma vez que confrontamos nossos medos e encontramos nossas próprias verdades, cabe a cada um encontrar o seu próprio caminho. A jornada do narrador chega ao clímax, quando o pânico faz com que as coisas fujam de controle. Mesmo aqueles que puderam se salvar, não sabem o que fazer para ajudar o outro por ser algo tão íntimo.

A hipocrisia e a moral andam lado a lado. No romance, Frank Baker critica várias esferas sociais, alfinetando como a mídia manipula e ao mesmo tempo provoca tanto medo nas pessoas, que muitas das previsões acabam se concretizando. O escritor também coloca o dedo na ferida da fé em tempos difíceis e como a igreja acaba fazendo sucesso, quando os desafios são tantos que o mundo parece estar próximo do apocalipse.

“Em um segundo aterrorizante, que pareceu durar por toda a eternidade, percebi tudo o que eu era, tudo o que havia esmaecido para se extinguir em mim. Vi, no fundo das covas daqueles dois olhos mortos, a alma que eu havia expulsado de mim há tanto tempo. E ela era abominável” Frank Baker

Minhas expectativas sobre Os Pássaros eram mais voltadas para o suspense, mas quando vi que o autor também explora questões existenciais, não pude deixar de refletir sobre como os homens e pássaros da história não são tão diferentes. As fronteiras entre o certo e o errado, entre o animal e o humano, foram cruzadas muitas vezes nos diferentes séculos, especialmente em épocas de guerras, massacres e colonizações. Frank Baker criou uma trama apocalíptica que não é tão distante dos horrores que presenciamos nos últimos tempos e que muitos ainda vão vivenciar, afinal, muitos homens são movidos por impulsos destrutivos e são bem mais assustadores do que qualquer pássaro violento.

Curioso para saber como o livro ficou? Confira o projeto gráfico do livro Os Pássaros:



Sobre o autor da introdução – Ken Mogg vive em Melbourne, na Austrália. Escreve sobre filmes e outros assuntos. Suas publicações recentes incluem um capítulo sobre as fontes literários de Hitchcok, em A Companion to Alfred Hitchcok (Wiley-Blackwell, 2011), e um artigo publicado na obra 39 Steps to the Genius of Hitchcock (British Film Institute, 2012). Outro artigo de sua autoria sobre Frank Baker e Alfred Hitchcock foi publicado na revista on-line Senses of Cinema, n. 51.



Sobre o autor do livro – Frank Baker nasceu em Londres, em 1908. Tinha um profundo interesse pela música religiosa desde muito jovem, atuando como corista na catedral de Winchester, ainda menino, entre 1919 e 1924. Entre 1924 e 1929, trabalhou como funcionário de seguro marítimo na City de Londres, experiência mais tarde ficcionalizada em Os Pássaros (1936). Demitiu-se em 1929 para aceitar a função de secretário em uma escola de música eclesiástica, onde esperava seguir carreira, período em que também trabalhou como organista da igreja. Ele logo abandonou seus estudos musicais e seguiu para St. Just, na costa oeste da Cornualha, onde se tornou organista na igreja do povoado e viveu sozinho em uma pequena casa de padra. Foi durante esse tempo que começou a escrever; seu primeiro romance, The Twisted Tree, foi editado em 1935 por Peter Davies depois de ter sido rejeitado por nove editoras. O livro foi bem recebido pelos críticos, e seu sucesso modesto estimulou Baker a continuar a escrever. Em 1936, ele publicou Os Pássaros, que vendeu apenas trezentos exemplares e foi considerado pelo seu autor como “um fracasso”. Apesar de tudo, depois do lançamento do popular filme homônimo em 1963, dirigido por Alfred Hitchcock, Os Pássaros foi republicado em brochura pela Panther e recebeu nova atenção. Sua obra mais consistente e de maior sucesso foi Miss Hargreaves (1940), uma fantasia cômica em que dois jovens inventam uma história sobre uma senhora e descobrem que sua imaginação a trouxe, de fato, para a vida real. Durante a Segunda Guerra Mundial, Baker tornou-se ator e excursionou pela Grã-Bretanha antes de se casar, em 1943, com Kathleen Lloyd, com quem teve três filhos. Baker continuou a escrever e publicou mais de uma dezena de livros, incluindo Mr. Allenby Loses the Way (1945), Embers (1946), My Friend the Enemy (1948) e Talk of the Devil (1956). Baker faleceu em decorrência de um câncer, em 1983, na Cornualha.

Sobre o tradutor – Bruno Dorigatti é editor da DarkSide Books. Nasceu em Blumenau (SC) em 1978, é jornalista, editor, historiador e tradutor. Foi editor e repórter dos sites Portal Literal (2005-2010), Saraiva Conteúdo (2009-2011) e Rio Comicon (2011-2012). Traduziu a biografia J.R.R. Tolkien, o Senhor da Fantasia (DarkSide®Books, 2013), de Michael White. Junto com Guilherme Costa, traduziu a adaptação para história em quadrinhos do romance de George R.R. Martin, A Guerra dos Tronos – Volume 1 (Barba Negra/LeYa, 2012); e traduziu o conto O hóspede de Drácula (DarkSide®Books, 2012), de Bram Stoker, em parceria com Maria Clara Carneiro.

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Comentários

  1. Brilhante resenha! Também esperava um thriller, mas o enfoque filosófico ao invés de me decepcionar, me surpreendeu positivamente. Um livro curto, mas com material para muitas análises. Concordo com sua opinião sobre os pássaros representarem nossos medos, tanto que SPOILER o protagonista se torna imune a eles após enfrentar um deles. Foi uma das melhores leituras do ano pra mim, se quiser conferir minha resenha, está aí o link. Abraço.
    http://porquelivronuncaenguica.blogspot.com.br/2016/10/os-passaros-frank-baker.html?m=1

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    Respostas
    1. Oi, Ronaldo! Bom saber que nossas leituras foram parecidas. O autor não me decepcionou quando as aves entraram no clímax do ataque, mas a parte filosófica foi encantadora.
      Vou ler sua resenha, sim! Adoro suas opiniões sobre leitura.
      Abraços e gratidão

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